Qual será o papel dos desenvolvedores no futuro com IA?

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Com as previsões do uso intensivo de IA nos processos de desenvolvimento de aplicações, entrou em discussão o papel dos desenvolvedores neste novo contexto. Sendo assim, é muito natural que todo tipo de especulação tenha surgido, algumas vendo o copo meio vazio e outras o copo meio cheio, mas o fato é que, ampliando a nossa visão, e assumindo uma postura de aceitação e coexistência, temos mais coisas a comemorar do que lamentar.

Não é nenhuma novidade que uma área que fundamentalmente se dedica a levar inovação para toda a empresa fosse alvo, ela mesma, também de inovações. O surgimento de linguagens de programação mais amigáveis, de compiladores mais eficientes, dos bancos de dados relacionais, da internet, da computação em nuvem, das plataformas de desenvolvimento Low-Code e No-Code, das infraestruturas cloud-native, e, mais recentemente, da IA, tem constantemente exigido que os desenvolvedores adquiram novos conhecimentos, desenvolvam novas habilidades e se adequem a novas atividades.

A introdução da IA Generativa acalorou a discussão, mas já temos acompanhado a adoção gradativa da IA de forma pacífica e ordenada na área de desenvolvimento de aplicações há muitos anos, assumindo um papel fundamental em todo tipo de solução. O Gartner prevê que até 2026, cerca de 80% das empresas estarão usando APIs e modelos de IA generativa (GenAI) nas interfaces de programação, além de implementar aplicativos habilitados para GenAI em seus ambientes de produção. Esses dados mostram um crescimento significativo em relação ao início de 2023, em que a média era de apenas 5%.

Desenvolvimento guiado, suporte técnico, prevenção de riscos de infra-estrutura, testes integrados e unitários, troubleshooting de aplicações e garantia da adesão das melhores práticas de desenvolvimento são apenas algumas das atividades que, neste contexto, têm sido transformadas pela IA, e que hoje demandam cada vez menos atenção dos desenvolvedores.

No desenvolvimento de aplicações, a introdução de inovações tecnológicas aproxima cada vez mais as áreas de TI e negócios, relegando para a própria tecnologia aquelas atividades mais operacionais e repetitivas. E, à medida que os desenvolvedores se aproximam de assuntos mais estratégicos, a exigência por habilidades humanas e cognitivas aumenta. O exercício da empatia, a comunicação não-violenta, uma atitude aberta e criativa, a postura ética e a inteligência emocional são apenas alguns dos exemplos de competências que vêm sendo exigidas ano após ano dos desenvolvedores de aplicações desde que a primeira linha de código foi criada.

O próprio processo de inovação ilustra bem este raciocínio. Nele, a tecnologia exerce um papel importante, mas sua origem é 100% humana. É fato que não existe nenhuma inovação sem uma boa dose de descontentamento, desejo de benfazer ou mesmo de buscar a excelência. Esta inquietação nos leva a formular perguntas e a buscar a inspiração para respondê-las; isso é algo que está muito mais ligado a um aumento da nossa percepção, do que a um processo de análise combinatória de dados e informações. A tecnologia auxilia, traduz, e até se converte na própria inovação, mas sem a motivação, as competências e as habilidades humanas, ela nunca existiria e nem cumpriria o papel que vemos hoje.

Engana-se quem acha que o papel do desenvolvedor de aplicações é escrever linhas de código. Sempre foi (e sempre será) exigido que o desenvolvedor seja um grande solucionador de problemas. Quanto mais tecnologia e humanidade o desenvolvedor conseguir adotar neste processo – desde a etapa de entendimento do problema, da busca de alternativas e da implementação da solução em si -,mais rápida e eficaz serão as suas entregas, e mais reconhecido ele será pela sua empresa e pelo mercado de trabalho.

É inútil brigar contra o progresso. Em vez disso, devemos nos unir a ele. Deixemos as máquinas fazerem as tarefas repetitivas, e os humanos fazerem as atividades humanas e cognitivas. Quem ama o negócio, será ainda mais estimulado a conhecê-lo e a aperfeiçoá-lo; quem ama a tecnologia, terá ainda mais tempo para aumentar os seus conhecimentos; e quem ama a humanidade, terá ainda mais oportunidades para ampliar a sua contribuição.

Leandro Torres, CEO da BePRO Institute e Smart Coding Lab.

1 COMENTÁRIO

  1. Perfeito! Trocar tecnologia por tecnologia é relativamente fácil de se fazer. E inclusive o GenAI está aí para isso: para substituir as habilidades que são repetitivas e fáceis de se reproduzir.
    Buscar se especializar em uma linguagem de programação ainda é algo importantíssimo. Porém, a habilidade primordial sempre será a captação de necessidade, processamento da informação e proposição de soluções, que no meu entendimento são um conjunto de conhecimentos que valem muito mais que simplesmente escrever linhas de código.

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