Todos os dias, somos bombardeados por este assunto, apesar de os princípios que embasam a governança ambiental, social e corporativa não serem nada novos, nem aqui no nosso país. Parece que todos despertaram de repente para um mundo novo de propósitos. Infelizmente, a impressão que dá, é de que o tema se tornou um bom gancho para promoções exacerbadas de práticas impactantes, sustentáveis, diversas e inclusivas, ainda não sejam tão concretas e factuais. Tudo agora é ASG (sigla em português derivada do acrônimo em inglês ESG).
A ideologização de algumas disciplinas tratadas pelas práticas do ASG, principalmente aquelas relacionadas ao meio ambiente e inclusão viraram top trends nas redes sociais ao mesmo tempo que chamaram a atenção das marcas. Preocupadas em trazerem mais seguidores para suas páginas, mas, principalmente em evitarem perdê-los por falta de engajamento com o movimento, seus discursos e mensagens ganharam um súbito alinhamento com esses propósitos. Nem sempre consistentes ou suportados por ações efetivas.
ASG, mais do que um movimento, é uma resposta do mundo empresarial ao apelo global em prol de ações para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade, definidas pelos ODS (17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentado definidos pela Agenda 2030 patrocinada pela ONU-Organização das Nações Unidas).
ASG envolve questões complexas, com efeitos profundos e sistêmicos, que exigem um tempo de análise, investimento e estudo significativos para a compreensão e implementação efetiva. São propósitos amparados por novos modelos e processos que envolvem a capacitação e realinhamento comportamental das pessoas. Tudo isso viabilizado pela tecnologia da informação que, cada vez mais, traz soluções e meios inovadores.
O engajamento das organizações com o ASG é, portanto, muito mais do que uma exaltação exagerada da ideia como temos visto por aí. O chamado hype, operacionalizado com discursos, artigos, postagens e publicidade, mostram práticas sem vínculos ou evidências de sua aplicação no dia a dia. É o "ASG de vitrine" ou ASG-washing. Há que se tomar cuidado para que não se consolide no país um conjunto de práticas superficiais que pouco ou nada tenham relação com os ideais transformacionais contidos no ASG, o que além de ajudar pouco, jogará por terra os esforços daqueles que realmente estão trabalhando duro para implementá-los.
Muitas vezes, se questionam empresas que possuem estratégias consistentes e compromissos reais em episódios que violam os princípios do ASG. O cenário descolado de discurso e prática dão margem a que falhas naturais em processos complexos como esse, façam com que marcas sejam simplesmente canceladas por conta de uma falha ou outra, enquanto outras que só fazem barulho são enaltecidas e ovacionadas. É preciso mais razão e menos ideologia nestas avaliações.
A recomendação aqui é que se faça um esforço para diferenciar quem está nisto só pela plateia, pelos aplausos, e aqueles que acreditam e estão construindo um futuro diferente. Mesmo que entre acertos e erros como é natural. Embora clichê, a afirmativa de que ASG é uma jornada e não um destino se aplica muito bem nesse contexto.
O jornalista e crítico social norte-americano H.L. Mencken, que viveu entre o fim do século dezenove e primeira metade do século passado, afirmava que "para cada problema complexo, existe uma solução simples, elegante e completamente errada". O ASG exige processos difíceis de transformação, alocação de esforços, recursos e consistência ao longo do tempo. Do contrário é só maquiagem, que na primeira lágrima, borra.
Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.
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