Em abril, quando enviou sua carta anual aos acionistas, o presidente do banco JP Morgan, Jamie Dimon, alertou para o que considera ser a maior ameaça hoje para setor bancário mundial — a entrada no mercado financeiro de startups e empresas de tecnologia, as chamadas "fintechs". "O Vale do Silício está chegando", advertiu ele, destacando a chegada de centenas de startups, "com um monte de cérebros e dinheiro, e várias alternativas de serviços ao sistema bancário tradicional".
A carta de Dimon fez soar o alarme também entre os bancos rivais do JP Morgan, que enfrentam uma concorrência cada vez maior de empresas que oferecem operações de pagamento online, serviços de investimento de carteira, concessão de empréstimos via web, processamento de pagamentos com moeda eletrônica (bitcoin), entre outros serviços.
"O maior desafio hoje para os bancos é ser relevantes para os clientes, por isso precisam investir na inovação tecnológica para melhorar a experiência dos clientes, a chamada user experience", ressalta Maurício Minas, vice-presidente executivo do Bradesco, ao comentar sobre a chegada das fintechs. O foco no conceito de user experience, na opinião dele, é imprescindível para os bancos inovarem, uma vez que o setor financeiro, principalmente no Brasil, é extremamente regulado e terá de concorrer com as empresas de tecnologia que não têm nenhum tipo de amarra.
O vice-presidente do Brasdesco participou nesta terça-feira, 16, de painel de debate sobre inovação nos bancos no Ciab Febraban – Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras, que acontece até a próxima quinta-feira, 18, em São Paulo. Para Minas, os bancos hoje enfrentam o desafio de lidar com quatro perfis diferentes de clientes: os pertencentes a terceira idade, os indivíduos economicamente ativos (de 40 a 60 anos de idade), a faixa dos que estão ascendendo economicamente (de 20 a 40 anos) e os jovens, que serão os clientes do banco no futuro.
"Somente teremos sucesso se desenvolvermos novas competências humanas para entendermos os padrões de comportamentais desses novos clientes, além de saber o que fazer com a informação já existente dentro do banco", diz Minas, ao salientar que as instituições financeiras hoje não dispõem de recursos para extrair inteligência dessa informação. "Os bancos só vão valorizar seus ativos e o relacionamento com os clientes por meio de técnicas de user experience, de um lado, e algoritmos computacionais, de outro lado."
Experiência renovada
O diretor executivo para o mercado financeiros da Atos, José Ricardo Munhoz, observa que os clientes dos bancos hoje querem coisas diferentes como as que vêm oferecendo as fintechs, tais como os serviços de pagamento móvel, como o Apple Pay, Google Wallet e Current-C, que deve ser lançando em breve nos EUA pelo gigante do varejo Walmart. Na opinião dele, a próxima batalha no mercado financeiro será para ver quem vai dominar o segmento de pagamento móvel (ou mobile payment). "E será uma disputa com empresas baseadas em plataformas de software, que nem sequer agências físicas têm", alerta.
Avaliação semelhante tem o diretor da Deloitte Consulting, Ricardo Balkins, para quem o chamado banco digital terá de propiciar uma experiência renovada aos clientes. Segundo ele, imagina-se que em algum momento as funções digitais serão complementares, em que o cliente poderá usar o smartphone para iniciar uma transação e conclui-la no tablet e, ao mesmo tempo, poder interagir com o caixa eletrônico.
Para o chefe da área de software do HSBC no Brasil, Gilson Girardi, as transformações no mercado financeiro estão apenas no começo. Mas ele acredita que, como o setor no Brasil tem uma forte regulamentação, as novas empresas que quiserem entrar no mercado terão de seguir algum tipo de regra. Girardi observa que tanto no mercado internacional quando aqui no Brasil as discussões nesse sentido já estão evoluindo.
As mudanças que o vice-presidente da HP Brasil, Ricardo Brognoli, enxerga para o banco no futuro terão como base a mobilidade, a segurança, big data, em um ambiente otimizado de cloud computing". "Os bancos estão deixando de ser transacionais, ou seja, apoiados na oferta de produtos, e se tornando cada vez mais digitais e voltados para o conhecimento, que nada mais é que concentrar o foco no cliente."
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