SP ganha Centro de Ciência Aplicada à Segurança Pública baseado em IA e modelos estatísticos

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Prever crimes através do uso de modelos matemáticos estruturados com base em ferramentas de Inteligência Artificial (IA) e utilizar modelos estatísticos para avaliar a eficácia de políticas públicas são os objetivos principais do Centro de Ciência Aplicada à Segurança Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV Analytics).

Criado em parceria com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), o novo Centro de Estudos da FGV vai criar e utilizar ferramentas tecnológicas inovadoras para identificar, avaliar, acompanhar, antecipar e combater ameaças na esfera da segurança pública.

O Termo de Cooperação Científica e Tecnológica, que oficializou a criação do Centro, com um investimento total de R? 18,6 milhões, foi assinado nesta quarta-feira (14) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP -SP) e a Universidade de São Paulo (USP).

Suportar a SSP-SP na tomada de decisões e no desenvolvimento de políticas públicas através da estruturação de ferramentas tecnológicas aplicadas à segurança é o principal objetivo deste novo Centro de Estudos, sediado na Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP). No que diz respeito a capacitação, a FGV EAESP irá ofertar, por ano, quatro bolsas de mestrado profissional para funcionários da SSP-SP, nos próximos 5 anos.

Através de modelos computacionais, o FGV Analytics será capaz de antecipar a ocorrência de crimes e suportar as ações policiais de prevenção e combate as infrações a lei. Também será possível monitorar e prevenir o roubo de cargas indicando a probabilidade deste tipo de ocorrência; entender a narrativa dos crimes por meio da categorização das informações contidas em boletins de ocorrência; utilizar análise temporal e similaridade para prever crimes em série, entender o comportamento de quadrilhas e do crime organizado por meio da análise de redes; avaliar políticas públicas, estratégias policiais, e efetividade de programas de policiamento; além de entender o impacto das ferramentas tecnológicas no combate ao crime.

Goret Paulo, diretora de Pesquisa e Inovação da FGV, considera como pioneira no Brasil esta iniciativa conjunta entre uma instituição de pesquisa e os responsáveis pela formulação de políticas de segurança pública. "Estamos seguindo as melhores práticas internacionais no desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências. Definimos as questões a serem tratadas em conjunto com os formuladores de políticas públicas (SSP-SP) e apresentamos recomendações com base na análise dos dados disponíveis", declarou.

Tecnologia à serviço da segurança pública

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, entende que a aproximação entre as polícias, o Estado e as universidades é natural, necessária e vai trazer benefícios para toda a sociedade. "Esta parceria abre um mundo de possibilidades para melhorar a segurança pública de São Paulo nos próximos 10 anos, com base em pesquisas científicas e no uso das mais modernas tecnologias disponíveis".

O FGV Analytics contará com uma estrutura de armazenamento e processamento de dados relacionados à segurança pública capaz de tratar um grande volume de dados históricos e em tempo real. De acordo com uma das pesquisadoras do projeto, Joana Monteiro, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) a tecnologia é uma importante aliada da segurança pública e pode trazer inúmeros benefícios nesta área.

"Esse projeto é uma enorme oportunidade para desenvolvermos, em parceria com as polícias de São Paulo, ferramentas analíticas que possam ser utilizadas para prevenir e controlar o crime. Pretendemos não só desenvolver novos métodos analíticos, mas também implementá-los com protocolos de avaliação, de forma a entender como melhorar a eficácia do trabalho das polícias", disse Joana.

O projeto que deu origem ao Centro é dividido em dois eixos. Um é focado em desenvolver ferramentas de big data, IA, e sistemas de apoio a tomada de decisões para acompanhamento dos casos, enquanto o outro é mais voltado para avaliar políticas de segurança pública. Através do uso de ferramentas de IA é possível prever ocorrências de crimes mais prováveis por região e desenvolver algoritmos capazes de definir as táticas de policiamento adequadas para cada situação. Esse tipo de parceria entre os formuladores de políticas de segurança pública e instituições de pesquisa e tecnologia já ocorrem em diversos países do mundo, a exemplo da Inglaterra e Estados Unidos.

Para o pesquisador da FGV, que está à frente do projeto que deu origem ao Centro, João Becker, a ideia de que práticas policiais devem ter seu impacto avaliado faz parte da agenda de policiamento baseado em evidências. "Essa abordagem defende o uso de pesquisa, avaliação, análise e método científico no processo de tomada de decisão dos agentes da lei. A pesquisa pode orientar o policiamento apontando práticas que têm evidências de sucesso e que, portanto, poderiam ser estudadas para serem aplicadas, e também avaliando práticas policiais para averiguar se os objetivos almejados foram alcançados".

Becker complementa que esta é uma agenda ainda incipiente no Brasil: "acredita-se que as polícias de São Paulo, que têm forte tradição em uso de análise criminal, treinamento qualificado dos seus quadros e preocupação constante com a efetividade de seu trabalho, têm todas as condições para liderar essa agenda no Brasil".

Parceria entre Academia e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP)

O projeto foi submetido dentro do tema Cidades Inteligentes e Segurança Pública, no Programa "Ciência para o Desenvolvimento" da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), promovendo a articulação entre a Academia, instituições de segurança pública, entidades do terceiro setor e empresas. O foco é desenvolver soluções baseadas em dados que venham para impulsionar as iniciativas já existentes de combate à violência e de apoio às políticas de segurança pública no Estado de São Paulo. Essa integração será possível devido a uma estrutura de processamento de dados relacionados, que coletará e processará dados históricos e em tempo real, por meio da geoespacialização.

A proposta é que o FGV Analytics vá muito além da mera troca de informações e soluções entre os parceiros, pois os pesquisadores irão desenvolver estudos de acordo com as demandas dos agentes de segurança pública, os quais vão relatar suas demandas e ponderar acerca de possíveis soluções para os desafios. Estima-se que a cada seis meses, a partir do início de suas atividades, os diversos grupos de discussão formados apresentarão relatórios de atividades aos gestores de ensino e operações da SSP-SP. A intenção é desenvolver uma agenda colaborativa entre a academia e as Polícias.

Este projeto também conta com a parceria com os pesquisadores do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas, da Universidade de São Paulo (USP) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Faz parte da sua estrutura de governança um Comitê Internacional formado por pesquisadores reconhecidos mundialmente na área de Segurança Pública.

Combate à criminalidade: uma atividade multidisciplinar

Para a criação deste Centro, o projeto partiu do princípio de que a criminalidade tem sido extensivamente estudada ao longo dos séculos por sociólogos, psicólogos, criminologistas, agentes policiais e judiciários, economistas e cientistas políticos. Todos atuando em um esforço conjunto e contínuo para entender os parâmetros que justificam a ocorrência de delitos, a sua prevenção e contenção. No entanto, a partir de avanços tecnológicos em IA e a transformação das cidades em "cidades inteligentes", esse problema ganha novos contextos.

As principais ações do FGV Analytics incluem identificar junto à SSP-SP problemas relevantes que devem ser objetos de estudo, e, junto a própria Secretaria, avaliar os dados disponíveis em seus atuais sistemas de informação, para calcular métricas de resultado e impacto através das ferramentas tecnológicas. Outras ações incluem apoiar a SSP-SP na criação de políticas de prevenção à violência contra grupos vulneráveis, a exemplo de crianças, jovens, mulheres e população LGBTQIAP+, entre outras iniciativas.

A FGV e a Polícia Militar do Estado de São Paulo possuem um histórico de parcerias. Em uma dessas colaborações, uma pesquisa aplicada avaliou o impacto das Câmeras Corporais na ação policial. Neste estudo, além de tentar entender o uso da força e da atividade policial, também foram investigados os índices de criminalidade e a percepção dos policiais sobre os efeitos da câmera em seus trabalhos e no relacionamento com a população.

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