Instituições de Ensino Superior são early adopters do IPv6

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A alocação de endereços IPv4 no Brasil entrou em "terminação gradual" segundo o recente anúncio feito pelo NIC.br¹ e pelo LACNIC². Na prática, isso representa a indisponibilidade de novos acessos à internet e afeta significativamente o desenvolvimento digital de nosso país. Preocupante, principalmente se o único caminho para a solução não estivesse desenvolvido há mais de 10 anos: o IPv6. Não é por acaso que muitos entusiastas do assunto dedicam-se a ele, pois o esgotamento do IPv4 já ocorreu na Ásia, há três anos, e na Europa, há dois. Com estoque limitado a quatro bilhões de endereços, seu fim já era previsto no país.

Felizmente, temos evoluído no que diz respeito à adoção IPv6 no Brasil! Recentemente, a Akamai – líder mundial em soluções de aceleração e segurança para a internet – divulgou o tradicional estudo State of the Internet, com informações referentes ao 4T13 e que trouxe dados interessantes a respeito. Dentre eles, o material destaca as instituições de ensino superior – faculdades e universidades – como os early adopters do IPv6. No período analisado pelo material, o maior aumento foi de 50% na Universidade de Iowa State (EUA), que teve 53% de tráfego via IPv6. Na América do Sul, destaca-se a brasileira Universidade Federal de São Carlos (SP), com 26% de solicitações IPv6.

Embora esses sejam dados significativos no contexto acadêmico e de pesquisa, vale destacar que corporativamente estamos longe de uma estatística de adoção de IPv6 aceitável. Isso envolve não só as companhias de modo geral, mas também as operadoras de telecomunicações, que já deveriam prover serviços em IPv6 em larga escala.

Mas, afinal, por que as academias são pioneiras?

Após o mapeamento do esgotamento de seu protocolo antecessor, o início do ciclo do IPv6 foi definido pelos órgãos responsáveis. Assim, a capacitação nessa nova tecnologia tornou-se fundamental para continuidade do processo. Esse contexto motivou o investimento no estudo das possibilidades de inovação com o novo protocolo, principalmente por parte das instituições de ensino, que são responsáveis por formar as novas gerações de profissionais de TI e oferecem ambiente propicio para experimentar, simular e testar o IPv6 no seu limite. Conforme já citado, isso tem sido feito inclusive em nosso país, que cada vez mais inclui novas pessoas ao universo online e cresce substancialmente em termos de endereços IP. Segundo a Akamai, o Brasil é o país com o maior crescimento em endereços IPv4 no mundo, com 47% de aumento em relação ao mesmo período de 2012.

Além de ser a solução para o já previsto fim da disponibilidade de IPv4, o protocolo IPv6 representa um grande avanço em termos de segurança online. Ele corrige algumas limitações existentes em seu antecessor e, por permitir a existência de uma quantidade de endereços gigantesca, torna algumas ameaças inviáveis, como o uso de técnicas de varredura de IP para encontrar computadores com vulnerabilidades de seguranças, por exemplo. Mesmo assim, é importante destacar que questões de segurança são mutáveis e o novo contexto certamente gerará novas demandas. Isso exige que investimentos em pesquisas e no aprendizado sobre o novo protocolo sejam ampliados e feitos não só pelas instituições de ensino.

Sem os entraves do limite de endereços IP, as probabilidades com a nova tecnologia têm terreno fértil! Surge espaço para um novo momento da Internet: a "Internet das coisas", onde qualquer equipamento poderá ter um IP e fornecer dados. Por exemplo, imagine uma casa inteligente onde cada dispositivo tenha um IP e esteja conectado à internet. Dentro dessa realidade é possível monitorar a temperatura dos ambientes, informações sobre os mantimentos na geladeira, qual canal de TV está sendo assistido e, ainda, ter controle inteligente do uso de recursos como energia, água e gás.

Incrível, não? Essas são apenas algumas possibilidades que o IPv6 nos oferece. Agora, precisamos que o mercado de TI de fato dedique-se à formação e atualização de profissionais para termos acesso a esse imenso leque de inovações. O NIC.br tem feito um trabalho admirável na divulgação do IPv6, mas o momento demanda que todos colaborem. A Internet faz parte de nosso mundo e das relações que estabelecemos com ele. Sua expansão é necessária e o uso do IPv6 é fator crítico de sucesso para esse novo futuro.

¹ Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, entidade civil, sem fins lucrativos, que desde dezembro de 2005 implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
² entidade que distribui endereços para América Latina e Caribe

Sandro Melo, coordenador do curso de Graduação em Redes de Computadores da BandTec

 

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