Em uma iniciativa mundialmente inédita, o Instituto Baleia Jubarte (IBJ) ao lado das empresas Norsul, empresa brasileira que atua no mercado de logística multimodal com soluções inovadoras de norte a sul, e Veracel S/A, indústria de celulose localizada no Sul da Bahia, trazem uma nova tecnologia capaz de potencializar os esforços na conservação da vida das baleias jubarte na Região dos Abrolhos, no Sul da Bahia: Uma câmera térmica com inteligência artificial na barcaça de transporte marítimo para facilitar a visualização das baleias na rota, cenário inédito na navegação comercial.
As baleias jubarte ficam de junho a novembro no Banco dos Abrolhos, principal berçário da espécie na costa do Brasil. Neste período, acasalam, dão à luz e amamentam seus filhotes nas águas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Com as medidas de proteção, a espécie conseguiu se recuperar da caça indiscriminada sofrida no século XX (quando existiam cerca de 27 mil baleias jubarte no país), reduzindo-as a um total de 500 baleias. Hoje, estima-se que são mais de 20 mil delas frequentando as águas do país, número que reforça o quão perto se está de atingir a recuperação total da espécie no Brasil.
Tal conquista gerou o desafio de aprimorar os esforços para manter a conservação das baleias jubarte com o transporte de carga por via marítima. A partir do Grupo de Trabalho Jubarte, composto pelo Instituto Baleia Jubarte, Veracel S/A e Norsul, criado para estudar e colocar em prática medidas preventivas adicionais que diminuam o risco de choque entre embarcações e as baleias, surgiu a ideia de usar a inteligência artificial a favor da sustentabilidade.
A instalação da câmera, que fica acoplada à embarcação que faz o trajeto, é uma novidade que vai ajudar a equipe de bordo na identificação das baleias jubarte especialmente à noite. Para identificar a presença de baleias, a câmera térmica irá abastecer um software de inteligência artificial especialmente desenvolvido pela ATON, que foi treinado com auxílio dos pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte para reconhecer os animais. O sistema fará a captação contínua de imagens de vídeo, dia e noite, que ficarão registradas no software. Conforme a utilização da câmera, o nível de inteligência artificial será cada vez maior e capaz de distinguir imagens de baleias e de barcos de pesca, por exemplo. O equipamento é integrado ao radar da embarcação, e emite alarmes sonoros para qualquer obstáculo à frente em um raio de até 2km.
Além da redução do risco de colisão com a barcaça, o sistema também visa monitorar a incidência de baleias na rota da navegação comercial. Durante a temporada reprodutiva de 2021, os pesquisadores realizarão o teste desse sistema em campo e seu aperfeiçoamento irá possibilitar maior preservação dos cetáceos.
A expectativa é que o pioneirismo possa ser utilizado também em outras embarcações no Brasil e em outros países. O sucesso do programa, apresentado e elogiado na Comissão Internacional da Baleia, deve ser levado no futuro a outras agências internacionais com mandato em conservação da biodiversidade e oceanos. "A iniciativa coloca o Brasil em uma posição de liderança em um tema global de conservação. Os resultados positivos alcançados até aqui reforçam mais uma vez a importância da cooperação voluntária entre empresas e organizações não-governamentais, e mostram como essa união pode ser positiva para o meio ambiente" destaca Milton Marcondes, veterinário e coordenador de pesquisas do Instituto Baleia Jubarte. Ele reforça ainda que os resultados do monitoramento ambiental obtidos até o momento não registraram eventos de colisão entre a barcaça e as baleias.
Para Angelo Baroncini, Diretor-Presidente da Norsul, participar dessa ação junto com o IBJ e a Veracel é motivo de orgulho. "O uso de uma câmera térmica em embarcações comerciais é inédito no mundo. Temos a preocupação de fazer o bem para as pessoas e o mundo, e isso inclui os animais que habitam a Terra conosco. Nossa postura diante dos temas ambientais sempre foi pioneira, tanto que somos a primeira empresa 100% carbono neutro no mundo da Cabotagem. As ações realizadas desde o início neste Grupo de Trabalho com o IBJ e a Veracel foram eficazes e permitiram o crescimento da população da espécie ao longo dos anos. Agora, com essa nova tecnologia, vamos além para mostrar o que é possível alcançar com a união e determinação das partes envolvidas a favor do meio ambiente e do futuro do planeta", destaca o executivo.
O transporte marítimo de celulose produzido pela Veracel, feito desde 2005 pela Norsul através da barcaça Norsul Belmonte, elimina 380 viagens de carreta pela BR-101, a cada 51 horas. "Atuar de forma preventiva visando diminuir os riscos da operação é o nosso jeito de trabalhar, e o investimento realizado para essa iniciativa tecnológica está em linha com essa diretriz. Buscamos realizar as nossas atividades marítimas promovendo sempre a convivência equilibrada com os demais usos do mar. Um exemplo disso é o diálogo ativo que a Veracel mantém também com os pescadores, o que reforça a preocupação da empresa com a segurança dos animais marítimos e também com as pessoas que tiram seu sustento do mar. Acreditamos no uso da tecnologia e no diálogo entre as partes interessadas para garantir a sustentabilidade das nossas operações", complementa Tarciso Matos, coordenador de Meio Ambiente e Licenciamento da Veracel Celulose.
Várias medidas foram criadas pelas partes envolvidas no Grupo de Trabalho Jubarte entre as empresas e o Instituto Baleia Jubarte desde a sua criação em 2017. Um exemplo foi a aproximação em cerca de sete milhas náuticas da rota de navegação das barcaças da Norsul utilizadas a serviço da Veracel no trecho que vai de Belmonte a Prado (BA), medida que contribui para a redução do risco de choque entre as baleias jubartes e os comboios oceânicos. Outra ação iniciada em 2018 foi o treinamento das tripulações, em que pesquisadores do IBJ a bordo da barcaça da Norsul ensinam o que as baleias fazem na rota, como reconhecê-las e também a evitar situações de risco, além de explicar o porquê de os animais não detectarem a localização do navio a tempo.
"Isso ocorre porque as baleias percebem o ambiente principalmente através da audição. Elas precisam ouvir o ruído do navio para identificar onde ele está", aponta Marcondes. O som dos navios é emitido mais forte na popa e mais abafado na frente da embarcação. Por isso, uma baleia nadando na frente do navio não consegue distinguir de onde ele está vindo e corre o risco de ser atropelada. "Muitas vezes ela só vai perceber o navio quando a onda que ele produz bate em seu corpo. Aí pode ser tarde demais para sair da frente" diz Marcondes. Nos últimos dez anos, mais de mil atropelamento de baleias ocorreram no mundo, de acordo com a Comissão Internacional das Baleias.
O progresso dos esforços coletivos da parceria entre as três partes (IBJ, Veracel S/A e Norsul), permitiu que o trabalho fosse reconhecido como case de destaque em sustentabilidade na 67ª reunião anual de Países-Membros da Comissão Internacional da Baleia – CIB, único fórum reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o manejo e conservação dos cetáceos, em 2018.