As empresas já estão aderindo e muitas delas estão cada vez mais alinhadas aos princípios e práticas ESG, que diz respeito à preservação ambiental, desenvolvimento social e à governança corporativa.
O número de empresas brasileiras que têm adotado esses princípios, ou pelo menos declaram ser adeptas, vem crescendo nos últimos anos. Porém, existe uma diferença importante entre a declaração, e de fato, sua implementação no modelo de gestão e na rotina diária da companhia.
O levantamento Panorama ESG Brasil 2023, pesquisa elaborada pela AMCHAM em parceria com a Humanidas, examinou a adoção de práticas ESG no mercado brasileiro, consultando mais de 500 empresas. Um dos destaques mostra por que as empresas aderem aos pilares ESG: para 61% dos entrevistados, as práticas têm o objetivo de fortalecer a reputação da marca no mercado, já 57% disseram que é para ter impacto positivo em questões socioambientais e apenas 40% afirmaram que as práticas têm a finalidade de reduzir os riscos ambientais, sociais e de governança.
A pesquisa também traz o perfil das empresas, que são de médio e grande porte (70%), em estágios avançados de validação do modelo de negócio. Além disso, 75% delas possuem mais de 10 anos de existência, o que mostra solidez.
De acordo com Andrea Moreira, CEO da Yabá Consultoria e professora de MBA e Pós-graduação de Sustentabilidade e ESG, a mudança está em curso, mesmo que não tão rapidamente para as médias empresas.
"Durante e depois da pandemia, as grandes empresas aceleraram a adoção das práticas ESG. Já as médias corporações, não tiveram disposição e tempo ao longo das últimas décadas para desenvolver maturidade para integrar as práticas ESG no planejamento estratégico e negócio, por isso, o processo ainda está em desenvolvimento tanto no âmbito interno quanto externo. A boa notícia é que muitas empresas já estão nascendo com o ESG no DNA, ou seja, são negócios socioambientais e esse movimento vai acelerar a transição cultural do Brasil considerando os impactos socioambientais de forma geral", analisa Andrea.
Quem comanda as práticas ESG?
O estudo mostra ainda, que a maioria dos responsáveis pelo ESG nas companhias ocupam cargos de liderança como CEOs, VPs, sócios, conselheiros ou diretores (52%), atuando nas áreas de sustentabilidade, gestão de pessoas e administração.
"No âmbito das grandes empresas, que estão já estão com ESG na pauta há alguns anos, a temática está pulverizada e integrada às estratégias do CEO, VP de Marketing, RH e Sustentabilidade. Já o VP de Finanças observava mais incrédulo e com a posição de questionamento sobre custo x benefício, no entanto, nos últimos dois anos o CFO passou a também estar a frente das questões de ESG, pois, a há impacto direto no capital e não mais apenas para a marca", avalia.
Contudo, ainda de acordo com a especialista, é fato que muitos profissionais da alta liderança das empresas que não buscaram conhecimentos durante os últimos 20 anos sobre o tema de Sustentabilidade, agora estão acessando o conhecimento junto às universidades, consultorias nacionais e internacionais.
"Os líderes técnicos e profissionais de gerência média estão conseguindo acessar bons conhecimentos em cursos universitários de pós-graduação, mestrados e MBA, bem como cursos rápidos e específicos disponíveis inclusive online. Estamos realmente na fase do letramento sobre ESG e isso faz a diferença para melhorar as estratégias, processos e gestão dentro das empresas. Na prática, a transformação cultural virá das empresas e da cobrança dos consumidores para os impactos e responsabilidades corporativas socioambientais", afirma.
Para ela, é fundamental que o RH das empresas potencialize o conhecimento temático aos colaboradores de todos os níveis, por meio de treinamentos, experiências e valorização de tais práticas no dia a dia. O exemplo vem de cima para baixo e também de baixo para cima com boas práticas reconhecidas e valorizadas. "Sustentabilidade não tem certo e nem errado, tem o jeito de ser e fazer de cada empresa de acordo com a sua cultura. Sustentabilidade, Direitos Humanos e Ética precisam integrar os valores da organização para dar a base para o ESG na prática", explica.
Fatores que atrapalham o ESG
De acordo com a pesquisa, 38% dos executivos têm dificuldade em mensurar e monitorar indicadores ESG dentro das corporações. Além disso, a maioria diz que há uma forte ausência de uma cultura de sustentabilidade (32%) e a falta de recursos financeiros para investimentos. Outro ponto é que os líderes têm familiaridade com o tema, mas é necessário acelerar o desenvolvimento das equipes.
Para isso, a conscientização e treinamento sobre as práticas sociais e sustentáveis em todos os setores das companhias são alguns dos fatores de sucesso, além de ação e dedicação de recursos para investimento.
"O ESG representa valor tanto para as empresas que adotam boas práticas no dia a dia quanto para a sociedade e ao meio ambiente. Para isso, é necessário avaliar os impactos ambientais, sociais e de governança, tendo como resultado ações práticas e efetivas dentro e fora das organizações", finaliza a especialista.