De trainee a gerente em 30 segundos

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O que mais encontramos nos periódicos que falam sobre tecnologia são matérias referentes às novidades da área. Todos os dias, em todos os setores têm lançamentos. São tantos que, mesmo para quem esta na área de TI e se mantem atualizado, a sensação de ignorância é gigantesca.
A rapidez com que as coisas acontecem é tamanha que por vezes perdemos a noção do tempo. Você é capaz de dizer, por exemplo, em que ano foi lançado o IPHONE, produto até hoje reconhecido por todos como inovador e com design revolucionário?
Foi em 2007. Lá se vão seis longos anos…
Para os padrões dos avanços tecnológicos atuais, ele já é um vovô dos smarts phones. Se atentarmos apenas para a tecnologia mobile, são tantos os lançamentos de modelos e marcas diferentes que alguém arriscaria dizer quantos modelos são lançados mensalmente?
Olhando fora da área de TI percebemos que os avanços tecnológicos também se dão a passos largos. Você já notou que o giz nas salas de aula é um elemento em extinção? Que os implantes dentários aposentaram as nostálgicas (e muitas vezes cômicas) dentaduras e que as novas técnicas de cirurgias cardíacas salvam uma enorme quantidade de pessoas e trazem uma excelente qualidade de vida aos operados além de serem muito menos invasivas?
Mesmo os leigos, pessoas que não estão imersas diariamente no mundo da tecnologia (se é que ainda é possível encontrar pessoas nestas condições), mostram-se assustados e até estressados com tanta mudança tecnológica. Imagine como fica a cabeça dos profissionais que trabalham nessa área e são bombardeados diariamente com tamanha avalanche de novidades? 
A sensação de não saber nada para os leigos pode se traduzir simplesmente na dificuldade de não conseguir ligar a TV ou mudar o canal, para o profissional que vive de tecnologia e tem a sensação de estar se transformando diariamente em um dinossauro, o medo é de ficar ultrapassado e perder sua empregabilidade.
Se o principal objetivo para quem esta há tempos no mundo da tecnologia é manter o nível de conhecimento para garantir a sua empregabilidade, para os entrantes na área de TI, em sua maioria conhecidos como geração Y, seu objetivo ou até seu maior sonho é conseguir a mesma velocidade no seu crescimento profissional que um projeto de smart fone tem em virar realidade, ou seja, deixar de ser trainee e virar gerente em um ano.
A diferença entre eles é que os projetos dos novos smart phones não saem do zero. Além de terem um exército de pessoas trabalhando no desenvolvimento de novas funcionalidades, sua evolução esta apoiada na tecnologia dos modelos anteriores, o que não acontece com o conhecimento e experiência dos entrantes na carreira de TI. Infelizmente para esses, ainda não se inventou a máquina como a do filme Matrix, onde era possível passar para as pessoas todo conhecimento teórico e prático de determinada tecnologia em poucos segundos.
Por mais que saibamos que esse equipamento ainda não existe, diversas instituições de ensino insistem em vender milagres, chegando ao limite de prometer transformar garotos em gerentes em menos de um ano.
Evidente que a venda do sonho do gerente em um ano não é apenas impulsionada pelo simples avanço tecnológico e muito menos pela eterna necessidade de conhecer mais que todos têm. Prega-se fortemente no mercado a necessidade de acelerar o amadurecimento dos profissionais a todo preço; acredita-se que a maneira de amadurecer rapidamente um profissional é lotando seu currículo de cursos, MBA, pós-graduação, especialização. Tudo que possa acelerar o seu amadurecimento.
A crença nesta verdade é tão latente que a garotada chega às universidades com uma fisionomia de dar dó. Eles olham o currículo dos cursos, e de maneira muitas vezes desesperadas perguntam: "meu chefe disse que só subirei na carreira se tiver um diploma de especialização. Pensei em fazer Gestão, acho que isso me levará onde eu preciso ir. Quanto tempo demora o curso?"
O que seria o correto responder:"Faça o primeiro que vier pela frente, afinal precisamos de alunos e você do diploma" ou mostrar de maneira consciente e responsável as reais possibilidades de crescimento e aprendizado com o curso escolhido e explicar que sem colocar em prática o que aprendeu no mundo acadêmico de pouco lhe ajudará para uma ascensão profissional?
É obvio que não podemos negligenciar a necessidade de atualização constante, mas também não podemos acreditar que profissionais com amadurecimento de estufa possam trazer os resultados esperados pelas corporações.
Se não acredita, experimente promover um Tenente a General e fique no campo de batalha para apreciar o resultado ou já que a morte na guerra pode não lhe afetar, tome coragem e faça uma cirurgia cardíaca de alto risco com um residente. Com certeza aprenderá que muito conhecimento teórico sem a maturidade necessária dificilmente dará bons resultados.

Alberto Parada, vice-presidente de Educação da SUCESU-SP, colunista e palestrante, integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, formado em administração de empresas e análise de sistemas, especialista em Gestão de Projetos e Outsourcing; atuou como executivo na IBM, CPM-Braxis, Fidelity e Banespa; é voluntário no HEFC, hospital para portadores de Câncer.

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