A Workana, plataforma de trabalho freelance com atuação em toda a América Latina, desenvolveu em janeiro e fevereiro o estudo Desigualdade de Gêneros no Mercado de Trabalho. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas, dentre elas, homens e mulheres, freelancers e empreendedores.
Uma das constatações dessa pesquisa é a de que no mercado freelance há menos desigualdade de gênero, em comparação ao mercado tradicional. 82% das mulheres responderam que em uma negociação freelancer, o fato de ter filhos não foi um ponto considerado pelo contratante, pois a maioria não leva o gênero em consideração em suas contratações remotas. Em contrapartida, 87% das mulheres já foram questionadas se tinham filhos em uma entrevista, contra 68% dos homens.
Já em relação às áreas de atuação, ainda há bastante disparidade: o mercado com menor presença feminina é o de tecnologia, como TI e programação, sendo somente de 8%, em comparação com 43% dos homens. Por isso, de acordo com Guillermo Bracciaforte, cofundador da Workana, "para as mulheres que têm interesse em ingressar na área da tecnologia, a atividade de freelance pode ser uma alternativa para quebrar essa barreira e trazer mais liberdade para essas profissionais, já que o ambiente ainda é predominantemente masculino", analisa.
Essa participação mínima das mulheres em tecnologia acaba refletindo na remuneração. Pois os homens acabam ganhando mais do que as mulheres mesmo no freelancing, por conta da pequena presença feminina em áreas mais valorizadas e com maior ticket médio, como TI e programação. Portanto, quando se trata de rendimentos mensais mais altos, 16% dos homens ganham acima dos R$ 4 mil, já as mulheres são somente 8%.
Segundo Bracciaforte, a atividade freelance pode ser uma boa alternativa em relação aos rendimentos, já que o profissional é quem define o quanto vai cobrar por cada trabalho executado.
Apesar de menos presentes no mercado de tecnologia, as mulheres são, no geral, mais qualificadas: 34% possuem superior completo, 17% são pós-graduadas e 5% têm MBA, em comparação com 30%, 11% e 4% respectivamente para os homens. Por outro lado, eles dedicaram mais horas para a sua capacitação no ano passado. Enquanto 34% das mulheres investiram mais de 100 horas, a porcentagem para os homens foi de 45%. Já 10% das mulheres não se dedicaram à capacitação, enquanto para os homens, foram apenas 2%.
Mesmo com mais qualificação, ainda há dificuldades para as mulheres alcançarem cargos de liderança: somente 40% das mulheres entrevistadas já lideraram uma equipe, em comparação com 65% dos homens. O fato pode estar relacionado à "síndrome do impostor", que faz com que as pessoas não relacionem seu sucesso à inteligência, competência ou habilidade pessoal.
De acordo com um estudo realizado pela Universidade Dominicana da Califórnia, nos Estados Unidos, a síndrome atinge em menor ou maior grau 70% dos profissionais bem-sucedidos, principalmente mulheres.
De modo geral, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho tem diminuindo, mas ainda há muito o que melhorar. Prova disso, infelizmente, é a quantidade de mulheres que deixaram de denunciar abusos, como sexual ou de autoridade, por medo de serem demitidas. Dentre as entrevistadas, foram 40%, e para os homens, esse número é de apenas 15%. Com relação a assédio sexual, 23% das mulheres admitem ter sofrido, já para os homens, cai para 3%.