Quando um dos empresários mais bem-sucedidos do mundo diz que se sente um "dinossauro apavorado" diante dos rumos que os negócios atuais estão seguindo, um sinal de alerta deve ser ligado. A afirmação foi de Jorge Paulo Lemann, um dos homens de negócio mais bem-sucedidos quando o assunto é condução de empresas tradicionalmente consolidadas. Lemann se referia às novas tecnologias, como inteligência artificial e análise de dados. Ou seja, o universo que estamos presenciando cada vez e que chamamos de transformação digital.
Por mais que uma empresa tenha todos recursos financeiros à sua disposição, um passo em falso pode colocar em cheque o futuro e até mesmo a sua própria existência. Conhecemos diversos casos de companhias que por não terem se reinventado, caminharam rumo à extinção. O exemplo mais emblemático é o da rede de locadora de filmes Blockbuster. Por outro lado, vimos recentemente o caso da Apple, que deixou sua marca como primeira companhia a atingir valor de mercado de US$ 1 trilhão. Há 20 anos, a mesma se deparava com a possibilidade real de falência. Exemplo de reinvenção.
A reinvenção atual das companhias passa sobretudo na mudança de mentalidade. Entender que a transformação digital que passamos a nos deparar com as tecnologias como inteligência artificial, Internet das Coisas, BigData, blockchain, entre outras, veio para ficar. O dado preocupante é a falta de conscientização das empresas tradicionais, na figura de seus líderes e gestores, em compreender isso. Segundo o estudo 2018 Global Consumer Executive Top of Mind Survey, desenvolvida pela consultoria KPMG, nem todas as companhias estão abertas quando o assunto é transformação digital como um elemento estratégico dentro da corporação.
Se por um lado a falta de recursos qualificados possa ser uma das justificativas pelos gestores para avançar nesse quesito, por outro, essas dificuldades sempre vão existir e não podem impedir a inclusão da transformação digital na estratégia da empresa. É neste momento que a principal função do líder vem na direção de mudar o mindset, seu e de toda a organização, a fim de criar um pensamento realmente digital. E, aqui, não falamos da criação de um aplicativo ou algum outro serviço online, mas virtualizar e adequar todos os processos internos. Essa etapa inicial é fundamental e antecede o lançamento dos produtos, é como preparar o terreno para a construção de algo muito maior.
Incentivar essa transformação, porém, é um desafio e tanto. Mudanças geralmente trazem desconforto e são vistas com desconfiança pelos profissionais mais conservadores, que muitas vezes não estão capacitados para se adequarem a uma nova realidade. O líder deve tomar à frente para envolver todas as áreas da empresa e criar ambientes inovadores, bem como uma nova cultura organizacional que funcione de forma integrada, ágil e aproveitando as principais qualidades de seus colaboradores.
Este novo cenário cria condições mais favoráveis para que a empresa possa se desenvolver pensando sempre em melhorar a experiência do seu público. O consumidor está cada vez mais exigente, ele anseia por novos produtos todos os dias e quer ter acesso facilitado aos mesmos, seja no método de pagamento ou a forma de entrega. O fato é que inovar é urgente, e a cultura digital ramificada na empresa permite vislumbrar novas oportunidades de negócios, independentemente do ramo de atuação, seja ela uma companhia de commodity ou de serviço.
Um grande case de inovação para seguir prosperando é a Olivetti. A centenária empresa italiana foi por muito tempo referência em máquinas de escrever e calculadoras, mas teve que se reinventar para não morrer após a popularização dos computadores e, posteriormente, notebooks. Hoje controlada pela Telecom Itália, a companhia ainda fornece equipamentos para escritório, como impressoras e scanners, mas é uma grande entusiasta da transformação digital, desenvolvendo soluções de Cloud Computing, Machine to Machine (M2M), Internet das Coisas (IoT), Analytics e Big Data. A GE-General Eletric é outro exemplo de empresa que tem grande ramificação de mercados de atuação.
Tamanha mudança de posicionamento é inviável sem a transformação da cultura impulsionada por grandes líderes. O digital ainda hoje é um diferencial, em pouco tempo se tornará algo básico, como as novas gerações que já nascem de olho na tela dos smartphones. Mas não dá para esperar essas crianças chegarem ao mercado de trabalho para apostar em uma transformação, a hora é agora. Você está preparado?
Alexandro Barsi, sócio-fundador e CEO do Verity Group.
Excelente artigo! O perigo está em transformar as transformações atuais em uma "panaceia" que resolve todos os casos, tipo digitalização, ou transformação digital, inovação, o proprio desenvolvimento de startups, etc.Todo esse cadinho inovativo, não transforma tudo, num passo de mágica numa empresa "chamada moderna". Mas sem dúyvida, a "mudança de cultura", é o ponto mais dificil, e o mais importante de tudo!