Após auditorias motivadas por uma onda de suicídios e acidentes nas unidades da Foxconn, principal fabricante em regime de terceirização da Apple, a empresa se comprometeu a adequar sua rotina operacional à lei trabalhista chinesa. Além disso, foram propostas algumas mudanças pela China Labor Watch, organização não-governamental que atua na área trabalhista, sediada em Nova York, responsável pelas inspeções, estão a redução das horas extras, aumento de salários e melhores condições de trabalho.
A Foxconn se comprometeu a tomar medidas após as inspeções. O problema é que os operários não estão interessados em ter sua jornada de trabalho reduzida, e ameaçam deixar a companhia caso passe a vigorar a limitação do horário de trabalho, o que, segundo eles, afetará a renda mensal. De acordo com as novas normas, os funcionários poderão fazer, no máximo, nove horas extras semanais para complementar o salário, que será aumentado.
Nas entrevistas, a maioria dos operários afirmou que prefere trabalhar entre dez e 15 horas diárias ou até mais, já que eles deixaram suas famílias em cidades distantes para ganhar a vida no sudoeste chinês. “Acredito que os mais experientes das linhas de produção de tecnologia irão se demitir”, diz o depoimento de um deles ao qual o The Wall Street Journal teve acesso, identificado apenas como Ma. “Não sabemos o quanto nosso salário irá aumentar. Mas, depois de estar aqui há três anos, não tenho muito incentivo para ficar já que sei que não irão aumentar muito o que eu ganho”, explicou.
Ele ingressou na companhia ganhando 3,4 mil yuans mensais, o equivalente a US$ 540, incluindo horas adicionais. Hoje, consegue receber cerca de 5 mil yuans (US$ 802) ao mês. O salário base na fábrica de Shenzhen, uma das maiores unidades da Foxconn, onde Ma trabalha, é de 2,2 mil yuans fixos (US$ 350). Ele tem 26 anos e, para garantir um salário melhor, também compra peças de carros usados e as comercializa em um site de comércio eletrônico.
O caso Foxconn expõe uma dicotomia no mercado de tecnologia, que usa mão de obra barata da China para fabricar eletrônicos. Se isso começar a se alterar, analistas preveem impacto tanto para os fabricantes quanto no preço final dos produtos.
Segundo uma estimativa da consultoria Berstein Research, seria necessário elevar em 50% os ganhos dos trabalhadores para alcançar o mesmo patamar alcançado com as horas adicionais. Além disso, novas contratações seriam inevitáveis.