O mundo nunca esteve tão consciente da importância de conservar recursos e reduzir as emissões de carbono. Não há lugar onde essa consciência crescente esteja sendo sentida com mais força do que no setor de energia. As empresas precisam navegar em regimes tributários e políticas governamentais cada vez mais exigentes, bem como a percepção negativa ligada ao combustível fóssil se enraíza na população de forma geral e é trazida à tona pelos seguidores de Greta Thunberg (ativista ambiental Sueca, de 16 anos) e da Extinction Rebellion (movimento sociopolítico ambiental).
Além da crescente pressão social sobre a forma de negociações, elas também devem considerar o negócio como imperativo. Isso implica na construção de planos de longo prazo que os isolem da volatilidade macroeconômica e geopolítica e da perspectiva de escassez de habilidades, à medida que as gerações mais jovens estão menos inclinadas a optar por ingressar em um setor "sujo".
Tendo esse cenário macroeconômico como background, resumi as seguintes previsões para o setor de Energia, Utilities e Recursos.
Previsão 1: Em 2020, a energia renovável/sustentável vai atrair 85% de todos os novos investimentos, mas a demanda por petróleo e gás permanecerá alta
Como previ no início deste ano, a demanda por energia aumentará como o equivalente a toda uma nova China e a Índia e será incluída na demanda global de energia do planeta até 2030. À luz dessa projeção, prevejo que em 2020 a demanda por petróleo e gás permanecerá alta, enquanto a demanda por fontes renováveis aumenta a uma taxa de dois dígitos a cada ano.
A primeira e mais óbvia mudança no mercado é que o consumo de combustível renovável, que aumentará dramaticamente. Os dados da Agência Internacional de Energia (IEA) sugerem que, até 2023, as energias renováveis serão o dobro da porcentagem dos combustíveis em geral, e que o tamanho do mercado crescerá um quinto entre 2019 e 2024; A CNBC emitiu uma previsão mais pessimista em novembro de 2019. No entanto, a demanda do consumidor por energias renováveis nunca foi tão alta e é provável que aumente em todo o mundo.
De fato, a IEA sugeriu que a capacidade total de energia renovável do mundo aumentará para o equivalente à atual produção de energia dos EUA. Um ponto notável ao considerar essas previsões é que a proporção estimada de fontes renováveis aumenta sempre que a organização faz uma previsão. Em 2017, foi sugerido que o crescimento da próxima década seria pequeno e não chegaria a dois dígitos; a cada ano as perspectivas se tornam mais otimistas.
Mesmo que a energia eólica e solar estejam se tornando mais confiáveis e mais baratas de instalar, prevejo que em 2020 o petróleo e o gás continuem a atender cerca de 50% de nossa demanda de energia (antes de um declínio acentuado em 2030), enquanto as energias renováveis continuarão a crescer. Rápido.
Previsão 2: As demandas por maior prestação de contas introduzem novas tecnologias – e complexidade – no setor de mineração industrial
Em relação aos fatores mencionados acima sobre as demandas dos consumidores e as forças macroeconômicas, veremos um movimento claro ao longo de toda a cadeia de valor da mineração em direção a um aumento de prestação de contas.
Blockchain garantirá procedência
Eu vejo um enorme potencial na tecnologia de blockchain para ajudar as empresas envolvidas na cadeia de valor de metais preciosos e minerais a provar sua procedência e conformidade. Uma blockchain fornecerá dados indiscutíveis sobre de onde, como e sob que circunstâncias uma determinada matéria-prima foi obtida, refinada, enviada e revendida.
Como as principais forças de condução por trás disso são a necessidade de atrair o consumidor ético e cumprir as obrigações de conformidade, prevejo que, em 2020, veremos alguns exemplos iniciais da tecnologia blockchain sendo implantados no ecossistema de mineração, para provar aos consumidores e clientes que seu ouro, platina, lítio e etc. foi extraído de maneira sustentável e ética.
O rastreamento habilitado para IoT adicionará novos níveis de rigor – e complexidade – às operações de mineração
Considere o seguinte cenário: A escavadora de terra de uma empresa de mineração foi equipada com sensores conectados com IoT para capturar e registrar a temperatura, pressão e vibração de peças críticas. A caixa de engrenagens da máquina falhou e a empresa de mineração fez uma reivindicação de garantia ao fabricante. Analisando os dados do sensor, o fabricante contestou a alegação referente aos dados, que provavam que a escavadora havia sido operada de maneira não segura.
A pergunta óbvia é porque os dados não foram usados em um estágio anterior para alertar o operador de que a máquina estava sendo submetida a estresse indevido. A resposta: não havia estratégia por trás dos dados.
Esse cenário (baseado em uma história verídica) destaca uma tendência que se tornará cada vez mais predominante de 2020 para frente: a mudança para termos contratuais mais complexos entre fabricantes de equipamentos originais (OEMs) e empresas de mineração. Onde os contratos de equipamentos podem ter sido baseados em métricas simples, como número de dias utilizados, número de pés perfurados etc. Prevejo que, provavelmente, veremos termos que regulam a temperatura de operação ou a faixa de rotação do motor, dentro da qual um veículo deve ser operado. Os OEMs usarão sensores de IoT para monitorar os ativos em tempo real, para garantir que as penalidades sejam aplicadas se os níveis de limite forem excedidos.
Se o setor de mineração está pronto ou não para gerenciar esse nível de complexidade ainda veremos. Uma coisa é clara: essa tendência exigirá que as empresas de mineração reforcem suas habilidades comerciais e a análise de risco contratual, criando a necessidade de um backbone de ERP robusto para proteger seus modelos financeiros e prever custos de contrato.
Previsão 3: Os modelos de negócios tradicionais evoluem à medida que 55% de todas as principais empresas de energia se diversificam nos próximos três anos
Ao sentir a pressão para construir um negócio que seja sustentável a longo prazo, várias empresas tradicionais de petróleo e gás já começaram a diversificar e, de fato, trabalham com o marketing para dizer que são empresas com preocupações que vão muito além de puramente petróleo e gás.
A Statoil, agora chamada Equinor, é a companhia estatal norueguesa de petróleo. A mudança de nome indica sua intenção de ir além do combustível fóssil para satisfazer a demanda, assim como o investimento em parques eólicos no Reino Unido e na Alemanha. No mesmo espírito, a Shell, conhecida pela extração, refino e comércio de petróleo e gás, agora comercializa não apenas energia doméstica, mas também banda larga, tecnologia residencial inteligente e serviço de aquecedores. No mundo das telecomunicações, podemos ver movimentos semelhantes de empresas como a Virgin, que procuram permitir que sua infraestrutura de cabeamento seja usada para transportar cargas para veículos elétricos.
Nem todos escolherão essas rotas específicas de diversificação, mas todas as empresas dos setores de petróleo e gás e geração de energia diversificarão seu portfólio de alguma maneira – seja combinando métodos alternativos de geração de energia ou utilizando a expertise offshore da empresa para "pivotar" de combustível fóssil para parques eólicos offshore.
Prevejo que em 2020 veremos muitos nomes familiares mudando seus negócios e oferecendo serviços novos ou periféricos. Isso realmente não é servitização – é muito mais. Grandes players se expandirão para dominar uma cadeia de valor de energia de ponta a ponta ou reagirão a uma oportunidade adjacente que melhore a infraestrutura existente para ser explorada com relativa facilidade.
A mudança para as energias renováveis, a rastreabilidade e a completa disposição das indústrias de adotar novos modelos de negócios caracterizarão o mercado em 2020 – desde que continuem tendo sucesso, isso deve nos dar esperança.
Colin Beaney, diretor global de Indústria da IFS para Energia, Utilities e Recursos.