O Brasil é uma potência no agronegócio. Somos o terceiro maior exportador mundial de produtos agropecuários, algo em torno de US$150,1 bilhões, atrás apenas da União Europeia e Estados Unidos, segundo o último levantamento TradeMap ITC 2023, divulgado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Além disso, o setor representa cerca de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) e dos empregos no país, assim como 40% das exportações nacionais.
Ainda segundo dados da CNA, o país lidera exportações em uma série de produtos, como soja, café, laranja, açúcar, entre outros. Isso tudo se deve aos avanços tecnológicos e a qualificação dos produtores agrícolas e seus filhos, que voltam das universidades (graduação e pós-graduação) munidos com uma bagagem de novas abordagens gerenciais e tecnológicas.
Há também um investimento massivo em soluções de internet via satélite, como a exemplo do Starlink, o que contribui para as oportunidades de adoção de tecnologias conectadas. Outro motivo pelo destaque do nosso país é o cenário internacional, como a guerra na Ucrânia e as crises climáticas nos EUA, que têm gerado uma dependência maior dos produtos agrícolas brasileiros.
Em relação às tendências, embora tenhamos desafios quanto a preço de sensores e equipamentos que são atrelados à cotação do dólar, o país tem grandes chances de repetir o desempenho nos próximos anos. Nesse contexto, as Agtechs (startups do agronegócio) e as Deep Techs (startups de base científica) ganham ainda mais protagonismo por trabalharem com tecnologias de ponta.
Por falar em tecnologia, em 2025 os robôs e sensores devem estar em alta, principalmente para a automação de tarefas que ajudam a combater a escassez e a insalubridade da mão-de-obra no campo, promovendo mais qualidade de vida dos trabalhadores e otimizando processos. A exemplo disso, a John Deere lançou recentemente um trator autônomo junto à startup Agtonomy.
A Inteligência Artificial também vem crescendo, com soluções de sensores para colheita, que permitem uma maior qualidade em modelos preditivos frente aos desafios climáticos que estamos enfrentando. Um caso brasileiro que está ganhando força é a startup Cromai, que transforma dados do campo em soluções inteligentes, ajudando no controle de ervas daninhas e impurezas por meio da georreferenciação, dentre outras possibilidades.
Para os próximos anos, ferramentas para o monitoramento bovino, como colares para o gado e sensores que otimizam a produção de leite e processos de fertilização, devem estar entre as prioridades dos investimentos.
Na outra ponta, com as mudanças climáticas e problemas regionais de produção ligados à geografia, o setor busca por estratégias de produção em climas adversos e maneiras de se exportar com maior longevidade. Entre as possibilidades, estão as fazendas indoor, como a startup brasileira Pink Farms, que emulam condições climáticas para produtos mais nutritivos, resistentes e com menos conservantes.
Ademais, as películas e compartimentos serão cada vez mais solicitadas para aumentar a longevidade dos alimentos, assim como a startup Apeel, que faz pílulas comestíveis para aumentar a vida útil de frutas e legumes e já vale mais de US$ 2bi. A logística de alimentos, um dos carros-chefe do setor, terá como aposta soluções de sensoriamento de áreas de armazenamento (Cold Supply Chain), como é o caso da startup PostHarvest, de controle da atmosfera de armazenamento de alimentos.
Por fim, haverá uma interface ainda maior do setor de biotecnologia, as Biotechs, com o agro. Os últimos avanços de fronteira em saúde com a engenharia genética, terapias e microbiologia podem ser pilares para a modernização do setor, que deve atuar em pelo menos três frentes. A primeira é a otimização de sementes, onde por meio de tecnologias genéticas será fundamental para reduzir a dependência de fertilizantes (com custo atrelado ao dólar) e agrotóxicos, como é o caso da Phytoform, que utiliza GMOs ou "next generation crops". A empresa anunciou ser capaz de aumentar a produtividade em 400% na produção de tomates.
A segunda será a fagoterapia – o uso de fagos para tratar infecções por bactérias será bastante utilizada na pecuária, reduzindo a necessidade de aditivos como antibióticos na criação de frangos. Este é, inclusive, um investimento que a Embrapa tem apostado há alguns anos, podendo ter um grande impacto no combate à Salmonela, por exemplo.
Por último e não menos importante, a busca pela redução do impacto de metano por meio da microbiologia deve crescer, com intervenção na dieta de bois e ovelhas. Em 2023, Bill Gates participou de uma rodada de investimento de US$12MM em uma startup que atua nesse espaço, a Rumin8.
A meu ver, tanto as Deep Techs quanto as Agtechs e Biotechs devem crescer ainda mais nos próximos anos, porque além do agronegócio ser uma potência no Brasil, o setor não deixa de se reinventar, estando passos sempre à frente em termos de infraestrutura e inovação, trabalhando para impulsionar o desenvolvimento econômico, social e sustentável.
Paulo Mendonça, Gerente de Relacionamento e Parcerias da Wylinka.