Apesar do avanço das tecnologias digitais em vários setores da economia, as companhias seguradoras ainda resistem em substituir o uso do papel em seus processos internos, o que acaba contribuindo para o aumento do impacto ambiental. “Precisamos de uma quebra de paradigma. Vemos que pessoas ligadas ao operacional das seguradoras propõem alternativas, mas não são bem recebidas pelos líderes pela falsa impressão da dificuldade de implantação de sistemas de TI”, explica o diretor-executivo da fornecedora de soluções de TI agDirect, Fernando Wosniak. Ele afirma que grande parte do papel consumido pelas seguradoras hoje refere-se ao envio de kits de apólices e cobertura de planos aos segurados, o que gera também despesas para envio e postagem.
De acordo com o executivo, é possível reduzir os gastos com esses procedimentos em até 50% ao adotar um banco de dados digital para os clientes, por exemplo. Ele dá como exemplo a automação do sistema da Mapfre, feito pela agDirect, que permitiu o acesso a todos os dados de seguros de veículos por meio de um site personalizado para cada cliente, em um sistema de documentação online. Com a extinção das apólices em papel, segundo Wosniak, foram eliminadas mais de 20 milhões de impressões, o que equivale à emissão de 60 toneladas de dióxido de carbono (CO2).
Wosniak, que participou do Insurance Service Meeting, congresso que reúne seguradoras para discutir o impacto das tecnologias nos negócios do setor, em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro, ressalta, por outro lado, a dificuldade das empresas de TI de adotar uma linguagem acessível às pessoas fora da área.
Para Marcos Nader, CEO da Comprova.com, especializada em certificação digital e comprovação jurídica de processos eletrônicos, a economia pode chegar a 80% quando se utiliza também a comprovação jurídica do envio de e-mails e notificação eletrônica ou a certificação digital para autenticação de assinaturas em documentos em substituição ao procedimento tradicional de documentos registrados em cartórios. “Isso se aplica mais adequadamente a seguradoras que lidam com empresas ou com licitações”, explica.
Certificação digital
De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), a certificação digital já começa a ser adotada por algumas seguradoras que atuam no segmento corporativo (B2B), mas é inviável para o setor como um todo, pois a grande demanda no Brasil ainda se restringe ao seguro de automóveis. A superintendente de operações e negócios da CNSeg, Cláudia Wilson, explica que o órgão ainda não considera o momento ideal para implantação da solução nos próximos anos. “O custo ainda é elevado para o consumidor, de cerca de R$ 200 por pessoa. Como são milhões de segurados, é fora de cogitação para as seguradoras arcarem com essa despesa.”
A CNSeg realiza estudos sobre a adoção da certificação digital desde 2009 e, no ano passado, houve uma reavaliação do tema entre as empresas e os corretores, que mantiveram a posição de que o momento ainda não é o ideal. De acordo com Cláudia, a certificação digital só é usada no setor devido à obrigatoriedade da nota fiscal eletrônica (NF-e), imposta pelo Ministério da Fazenda. “Com isso, todas as companhias foram obrigadas a ter a certificação. Assim, elas passaram a utilizar também nas carteiras B2B para processos de seguro”, completa.
* A jornalista viajou a Angra dos Reis a convite da CNSeg.