Emissões de carbono e diversidade na composição da equipe de trabalho são os pontos fortes dos relatórios ESG das instituições financeiras

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Assim como em outros mercados, o papel das instituições financeiras na agenda ESG ganha cada vez mais evidência, especialmente diante da atuação do Banco Central, SUSEP e CVM com normas recentes que direcionam esses temas no Brasil. Para compreender e acompanhar melhor o cenário, a EY, uma das principais auditorias e consultorias do mundo, realizou uma pesquisa que indica como as instituições brasileiras de serviços financeiros fazem a divulgação de indicadores de sustentabilidade fundamentais para a geração de valor a longo prazo.

O estudo, que aponta pontos fortes, oportunidades de melhoria para os relatos das instituições financeiras brasileiras e destaca os principais dilemas e desafios para sua evolução, foi estruturado com base em uma metodologia global criada pela EY para análise de geração de valor de longo prazo ("Long Term Value") de uma instituição, que identifica três tipos de alavancas: valor para a Sociedade, como geração de emprego e emissão de carbono; valor para os Colaboradores, como engajamento e diversidade, e valor para os Consumidores, como segurança de dados e confiança do consumidor.

A pesquisa identificou que o tema "Emissões de Carbono", incluindo inventários de emissão, grau de aderência ao TCFD (Força-Tarefa sobre divulgações financeiras relacionadas ao clima), compromissos e metas de carbono alinhadas a acordos internacionais, já é bem explorado nos relatórios das instituições financeiras brasileiras. "Sobre isso, temos até certo destaque quando comparamos com instituições financeiras globais. Porém, nos temas 'biodiversidade e uso da terra' temos muito menos informações sobre investimentos em florestas, projetos socioambientais para recuperação de áreas e restauração florestal, portfólio em florestas e áreas para geração de carbono, entre outros, possuem espaço para aprimoramento, por exemplo. Esse é um ponto que precisa se desenvolver no país", explica Rafael Schur, sócio da EY e líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil da EY.

Schur completa que isso tem uma explicação. "Esse resultado é coerente com o grau de maturidade destes temas nas agendas das instituições financeiras, uma vez que mudanças climáticas é um tema amplamente debatido e que ganhou força empresarial a partir das conferências do clima da ONU, TCFD e respectivo padrão de divulgação, por exemplo".

Em contrapartida, o estudo indica que a agenda de biodiversidade ainda é embrionária nas instituições financeiras, principalmente pela falta de clareza na relação entre negócios e biodiversidade. "A tendência e expectativa é que as divulgações de biodiversidade se ampliem à medida que aumente a consciência sobre o tema, a adesão a frameworks de referência e estabelecimento de práticas e iniciativas que futuramente serão reportadas", explica Schur.

Para o executivo, "o conjunto de normas ESG emitidas trouxe diversos desafios, em especial no gerenciamento de riscos com novas exigências e necessidade de detalhamento sobre o processo de identificação, avaliação, classificação e mensuração desses riscos. Por isso, os participantes do sistema financeiro devem estabelecer uma distinção clara entre aqueles que abordarão a sustentabilidade como um exercício orientado ao cumprimento das regulações, e os que a tratarão como parte do seu propósito e estratégia".

Outros temas avaliados na pesquisa se referem à composição da empresa, em termos de diversidade, bem-estar e saúde dos colaboradores. "Composição da Força de Trabalho e Diversidade", com a abertura da distribuição de força de trabalho nos diversos níveis hierárquicos, diversas categorias de diversidade (gênero, faixa etária e grupos vulneráveis, quando aplicável) também é muito bem apresentado no Brasil. "A diversidade da força de trabalho é um tema que vem sendo muito discutido nos últimos anos, aparecendo em diversos frameworks e compromissos, inclusive com requisitos de metas e transparência, de modo que era esperado que fosse bem reportado pelas IFs", diz Schur.

Porém, quando analisado o tema de "Saúde e Bem-estar do Colaborador", que considera métricas de acidentes de trabalho, participação em programas de bem-estar e saúde mental, ainda existem muitas oportunidades de melhorias em todas as instituições financeiras analisadas. Para o executivo, "com a pandemia, o bem-estar dos colaboradores é um tema que se tornou mais evidente e amplificou as preocupações sobre o bem-estar das pessoas em geral e dos colaboradores nas empresas." Rafael ainda complementa que "nesse sentido, em que pese a preocupação das instituições em desenvolver iniciativas e programas para essa finalidade, isso acaba não aparecendo de forma transparente nos relatos, seja pelas dificuldades de medição, seja pela pouca visibilidade externa que se dá ao tema. Com isso, podemos considerar que o aprimoramento deste tema esteja mais relacionado ao aperfeiçoamento de métricas e respectiva inclusão nos relatórios, do que o estabelecimento de iniciativas e programas de bem-estar, que supostamente já existem, mas não estão sendo devidamente reportados".

Já os temas confiança e saúde financeira dos consumidores apresentaram insights relevantes do mercado. O primeiro, que inclui Net Promoter Score (NPS) de clientes, reclamações e canais de atendimento ao consumidor, apresentou um resultado desigual, em que metade das instituições apresentam uma abertura consistente e a outra metade não reporta. "Isso sugere diferentes visões entre as instituições e espaços para aprimoramento", pontua Schur.

Enquanto "saúde financeira dos consumidores", que considera métricas relacionadas a serviços para o bem-estar do consumidor – pontos de atendimento, serviços e produtos disponíveis, isenção de tarifas e soluções financeiras, ainda possui muitas oportunidades de melhorias em todas as instituições analisadas. O executivo explica que "a evolução da divulgação desses temas passa por avanços setoriais no estabelecimento de métricas de satisfação e saúde financeira dos consumidores, que contribuam para estimular a transparência na divulgação dessas informações. Sob o ponto de vista normativo, o tema está mais associado à agenda de relacionamento com clientes e Cidadania Financeira do BACEN, do que mais diretamente associado ao ESG, o que pode influenciar a divulgação em alguma medida".

Outra dupla de temas que foram analisadas no estudo se referem a fatores ESG nas decisões de negócios e inclusão financeira. Enquanto o primeiro está bem representado nas demonstrações analisadas, considerando os indicadores recomendados pela SASB, o tema "Inclusão Financeira" apresentou um resultado desigual entre as instituições, de modo que, na média, há oportunidade de avançar nesse aspecto. "A integração de fatores ESG na análise de crédito é um tema que tem se desenvolvido fortemente, seja pelo impulso de diversos frameworks que estabelecem diretrizes para adoção de critérios socioambientais na concessão do crédito, seja pela dinâmica regulatória, que vem exigindo aprimoramentos constantes", aponta Schur.

Já o segundo, apesar de relevante no posicionamento estratégico das instituições ao mercado, apresentou divulgação desigual. "Podemos traçar algumas reflexões sobre isso. Uma das hipóteses é de que, apesar do tema fazer parte da agenda de negócios, paradoxalmente não ganha grande destaque na agenda tradicional de ESG, que vem dando ênfase às questões ambientais ligadas a carbono e diversidade no campo social. Por outro lado, aquelas que reportam são capazes de demonstrar seus programas, iniciativas e dados quantitativos, sinalizando o caminho para a evolução que o setor pode alcançar.

Por fim, a agenda de sustentabilidade e, consequentemente, o modelo de relato baseado em indicadores financeiros e não-financeiros vem sendo bastante desafiado pelos avanços dos debates em torno da divulgação de sustentabilidade e mudanças climáticas, da materialidade e da influência de regulações ESG. "É importante que os reports abordem também impactos sociais e ambientais, como uso e gerenciamento de recursos naturais, efeitos nos clientes, na força de trabalho e no modelo de governança que afetam, inclusive, as relações com investidores e com reguladores. Os impactos – positivos ou negativos – podem gerar consequências operacionais, reputacionais e financeiras, sendo fundamentais para entender o desempenho financeiro e a criação de valor ao longo do tempo", explica Schur.

Metodologia e realidade brasileira

Essa metodologia de análise criada pela companhia está fundamentada na divulgação de informações não financeiras e, a partir dos relatórios divulgados para o mercado, são analisadas mais de 100 métricas. "Dentre elas, consideramos o Fórum Econômico Mundial (WEF), Coalizão para o Capitalismo Inclusivo (EPIC), além da Sustainability Accounting Standard Board (SASB)", conta o executivo.

Para cada um dos indicadores selecionados, o time de analistas da EY Global atribuiu scores individualizados de 0 a 1 baseados na cobertura e efetividade da divulgação desses indicadores nos relatos integrados, relatórios anuais e relatórios de ESG e Sustentabilidade, quando existentes, para o ano base de 2021 publicados em 2022.

Os resultados do processo de pontuação das dimensões de divulgação das informações de sustentabilidade foram apresentados e validados junto às instituições financeiras analisadas. O recorte Brasil analisou 13 instituições financeiras brasileiras, entre bancos, cooperativas, seguradoras e gestoras de ativos.

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