Fala-se muito no Brasil e no mundo sobre o combate às fraudes a partir de medidas de compliance implantadas em maior ou menor profundidade em corporações. Mas, o que pouco se fala é sobre o número de operações realizadas e que resultaram em descobertas de ações indevidas provenientes do alto escalão das empresas. Uma das pesquisas mais recentes a esse respeito, realizada pela renomada consultoria KPMG em 2017, aponta que, na base de 360 casos de investigação de fraudes em diversos países, 60% dos colaboradores que participaram de atos ilícitos no universo corporativo possuíam cargos de executivos.
Lembro que, para um colaborador atingir um cargo de executivo de alto nível, é preciso que haja muito empenho, é claro, e extrema confiança por parte da organização empresarial. Mas, apesar da dura conquista a longo prazo, alguns acabam se aproveitando desta boa reputação construída durante os anos para cometer ações fraudulentas, acreditando que será mais difícil serem "descobertos".
De fato, é necessário bastante empenho nesse tipo de investigação em vista que, além da autoconfiança, esses personagens costumam ter informações estratégicas que podem facilitar ou criar possibilidades favoráveis a desvios de conduta. Por esse motivo, os crimes realizados por eles costumam ser mais sérios e trazer prejuízos financeiros e/ou reputacionais de grandes proporções.
Um exemplo recente foi o escândalo envolvendo alguns executivos do alto escalão da marca Audi na Alemanha, que foram denunciados por fraude em um caso de manipulação de motores a diesel. Os três envolvidos estão sendo acusados de serem coniventes além de um gerente, suspeito de vender conscientemente veículos das marcas Audi, Volkswagen e Porsche com as certificações falsificadas. Com o episódio, a marca teve perdas financeiras que chegaram ao valor de 1,4 bilhão de euros no primeiro semestre de 2020.
Mas não são só as grandes empresas que podem cair em situações como essas. Infelizmente, os roubos ativos, corrupção e fraudes, principalmente em relatórios financeiros, são recorrentes no universo empresarial como um todo, segundo levantamento da Associação de Examinadores Certificados de Fraudes (ACFE). Por isso, entender as características de cada um desses dolos é uma das etapas iniciais de um processo de governança corporativa que deve ser implementado no universo corporativo.
Entre as principais etapas a serem observadas de perto por CEOs e gestores para minimizar o problema estão a identificação das principais atividades e processos que costumam envolver entradas e saídas de dinheiro, como por exemplo: área financeira, de compras, folha de pagamento, fretes, estoque, entre outras. Nesse contexto, é importante analisar como estão sendo realizados o controle dos processos, a fim de identificar possíveis falhas ou riscos para a ocorrência de fraudes.
Vale também elaborar planos de ação para implementar práticas e novos controles que eliminem os riscos – auditorias surpresas e checagem de terceiros (colaboradores, fornecedores, clientes, parceiros e investidores), por exemplo; e investir em ferramentas tecnológicas que otimizem os novos processos implementados (biometria, plataforma de mineração de dados e aplicativos de fiscalização, por exemplo).
Nos dias de hoje, o alto índice de corrupção e fraudes, envolvendo tanto executivos de alto escalão, quanto fornecedores e outros contratados, demonstra que é necessário realizar a checagem de terceiros a fim de garantir que os relacionamentos sejam mais transparentes e idôneos.
Procure, portanto, plataformas e soluções que otimizem o tempo das equipes neste processo e diversos outros. O investimento, certamente, valerá a pena. Afinal, quando se trata de dados sensíveis e de quem têm acesso a eles, os prejuízos, em situações desfavoráveis, costumam ser bem maiores!
Eduardo Tardelli, CEO da upLexis.