A Dassault Systèmes anunciou nesta terça-feira, 20, uma nova fase no desenvolvimento de software, além do tradicional segmento de PLM (sigla em inglês para gerenciamento de ciclo de vida de produtos), cujos investimentos serão direcionados para o que chama de 3D Experience. A estratégia para esse novo conceito foi detalhada pela companhia no fórum de mesmo nome, que promove esta semana em Bruxelas, na Bélgica.
A fornecedora francesa de soluções e sistemas de TI aposta na junção de soluções colaboração e redes sociais, aplicativos de modelos em 3D, software de simulação e apps de inteligência analítica para reforçar seu portfólio. A base da nova estratégia é versão 6 de sua plataforma de 3D Experience 2013, que traz novos recursos para várias indústrias como a aeroespacial e de defesa, transporte e mobilidade, naval e offshore, bens de consumo e bens de consumo embalados.
"Não queremos ser apenas uma empresa de software. Nossas plataformas buscam uma quebra de paradigma em cada mercado, auxiliando nossos clientes em toda a operação de engenharia de alta tecnologia", enfatiza o presidente e CEO da Dassault Systèmes, Bernard Charlès.
De acordo com o executivo, a maioria das novas licenças vendidas no último ano fiscal é proveniente da nova versão plataforma. "O custo inicial é alto, mas os clientes entendem o retorno no longo prazo. Vemos clientes com economia de até 150 milhões de euros e, com o atual momento econômico europeu, o gasto inicial é justificado", pondera Charlès, referindo-se à crise econômica na zona do euro.
Sem revelar valores, o CEO diz que a Dassault Systèmes investiu pesadamente para expandir seu portfólio por meio da compra de dez empresas, cuja atuação vai desde a extração e análise de dados de setores específicos, como é o caso da canadense GemCom, na área de mineração, até painéis 3D integrados à internet, como no caso da Netvibes. O objetivo, segundo ele, é fornecer dados em tempo real, em computação avançada, voltada a grandes empresas dos setores automotivo, aeroespacial, saúde, gestão de recursos naturais, urbanização e educação. "Continuaremos a suportar nossa plataforma anterior [a versão 5] e os sistemas tradicionais de PLM. A 3D Experience não irá substituir tecnologias anteriores, apenas atenderá segmentos especializados de grande porte", explica Charlès.
Perspectiva regional
A ideia, conforme explica vice-presidente executivo de estratégia corporativa e desenvolvimento de mercado da Dassault, Pascal Daloz, é atender todo o espectro corporativo e todos os mercados no mundo, fornecendo desde sistemas tradicionais de PLM, CAD, manufatura até aplicativos interativos 3D. Ele cita o caso do Brasil. Segundo o executivo, ao mesmo tempo em que o país possui um enorme mercado consumidor, no qual o PLM tradicional é predominante, a empresa tem clientes na área de engenharia de alta performance prontos para adotar a versão 6 da plataforma, como é caso da Embraer, um dos maiores clientes da Dassault Systèmes na América Latina. "Hoje, os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) representam 20% da nossa receita. Em cinco anos, esse percentual deve chegar de 30% a 35%, já que os países emergentes vêm crescendo acima da média", ressalta Daloz.
O executivo justifica o fato de a América Latina ainda receber poucos investimentos da companhia, apesar do grande potencial de mercado. Segundo Daloz, a região latino-americana como um todo carece de mão de obra qualificada e de centros de inovação, o que emperra a produção de soluções inovadoras locais e a instalação de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) regionais, portanto, recebe menos investimentos e transferência de tecnologia. “A Dassault Systèmes aplica 30% da receita nesses laboratórios, aproximadamente 600 milhões de euros anuais. Procuramos, em primeiro lugar, parcerias com universidades de alto desempenho", detalha.
Segundo Daloz, 40% dos centros de P&D estão instalados na França, Suécia e Reino Unido, 35% nos Estados Unidos, 15% na Ásia e apenas 5% na América Latina, localizados no Peru e Chile. O aspecto positivo dos países emergentes é o fato de serem mais receptivos em relação às novas tendências, como a computação em nuvem e a mobilidade. "Por serem empresas locais, com legados menores, naturalmente estão mais abertas às novas tecnologias, o que pode representar uma imensa oportunidade de inovação no futuro", observa.
Simplicidade e consumerização
E esta também é a aposta da Dassault Systèmes em relação aos mercados emergentes. De acordo com a vice-presidente executiva de indústria, marketing e relações públicas da companhia, Monica Meneghini, a nova versão da 3D Experience muitos dos softwares são baseados na nuvem e podem ser acessados em tablets. "A simplificação é a principal sofisticação, costumava dizer Leonardo da Vinci. Isso se aplica também aos softwares corporativos, que devem ser de fácil uso para melhor aproveitamento e produtividade", salienta.
Daloz, por sua vez, vai além e diz tratar-se de um modelo de computação capaz de unir tecnologias artísticas e de engenharia. Ele vê o momento atual de convergência entre essas duas áreas, que eram completamente independentes até o início dos anos 2000. "Vemos simuladores de voo se aproveitando do design de jogos, por exemplo. Ao mesmo tempo, videogames utilizam cálculos avançados de tecnologia para reproduzir situações cada vez mais plausíveis na vida real", detalha. Ele observa que o usuário final é a mesma pessoa que usa a ferramenta no horário comercial. "Portanto, não faz sentido propor uma solução de difícil entendimento apenas porque seu propósito é o mercado corporativo. Temos isso em mente a cada atualização de software", afirma.
* A jornalista viajou a Bruxelas a convite da empresa.