O futebol no século XXI estabeleceu um novo modelo de negócios, que exige das equipes profissionais um comprometimento maior com seu torcedor, o principal ativo econômico das agremiações. As arenas cada vez mais tecnológicas, os apps que facilitam a vida do fã na hora de comprar ingressos e produtos oficiais e a gestão administrativa dos clubes é uma realidade no Brasil. Quem investe primeiro em tecnologia, sai na frente dos adversários. É o caso do Paysandu, maior potência do futebol do norte do país, que usa bem esses recursos e promete fazer frente às grandes equipes do Brasil.
O Papão da Curuzu tem mais de 100 anos de história, ostentando uma das 20 maiores torcidas do país. Sua administração aumentou consideravelmente os investimentos em inovação nos últimos anos, apostando em tecnologias integradas para profissionalizar a operação. O ERP hospedado em nuvem, por exemplo, foi uma das primeiras iniciativas; muitos outros projetos disruptivos, como bilheteria virtual e WiFi disponível no estádio, estão no radar.
"A tecnologia precisa trabalhar em favor da experiência do torcedor dentro e fora do estádio. Em alguns casos, esse investimento não aparece, como quando integramos os departamentos da empresa a partir de um sistema de gestão; em outros, impacta diretamente a nossa base de torcedores, fortalecendo a paixão pelo clube", comenta André Barbosa Alves, CEO do Paysandu.
Clubes menos conhecidos do grande público também estão de olho nas oportunidades que o boom tecnológico pode trazer para suas pretensões. No interior paulista, por exemplo, o Metropolitano Futebol Clube, que atua nas categorias de base, trilha um caminho semelhante. Vinicius Pontes, CEO do time e CTO da Ativy Digital, é c-level de tecnologia há mais de uma década e, por isso, entende na prática como os dois mundos se relacionam.
"Vejo que o futebol, no geral, carece de processos tecnológicos, de ferramentas mais avançadas que conectam todas as pontas da operação", pondera o executivo. "Eu costumo dizer que marcar um gol é quase como emitir uma Nota Fiscal: é a realização do objetivo, mas apenas uma parte, a última parte, de um longo processo estratégico", completa.
Pontes relembra que o VAR pode ter sido um dos marcos mais visíveis da aplicação da tecnologia no futebol, mas está longe de ser o único — e até mesmo o mais importante. Enquanto análises de desempenho em tempo real e mapas de calor gerados durante o jogo já são uma realidade em dezenas de clubes, ainda há muito espaço para potencializar aplicações dentro do escritório e para desenvolver automações inteligentes que maximizem a gestão corporativa. "O simples que também é essencial", afirma o especialista em tecnologia.
A dinâmica do futebol no mundo, em especial no Brasil, mudou nos últimos anos. A lei da Sociedade Anônima no Futebol (SAFs) tornaram parte das equipes em empresas e, portanto, elas precisam agir como tal. As cifras demonstram que a competitividade não está restrita aos gramados e que cada grito de gol é, de certa forma, precedido por uma boa decisão de gestão.
Vale lembrar que, no Brasil, o futebol é mais do que uma paixão nacional: é uma peça importante na economia do país. De acordo com um relatório divulgado pela CBF, o mercado da bola já era responsável, em 2019, por 0,72% do PIB — e o montante movimentado pelos clubes ainda bateu recorde em 2022, com a circulação de mais de R$1,4 bilhão apenas em transferências.
O movimento, que é uma tendência mundial, também já está em curso no Brasil. É possível observar iniciativas inovadoras nascendo e se desenvolvendo em clubes por todo o país, dos mais tradicionais aos mais recentemente constituídos. Na prática, há uma espécie de campeonato acontecendo também fora dos campos — e o mais tecnológico vence.
Vinicius Pontes, CEO do time Metropolitano Futebol Clube e CTO da Ativy Digital.