Consolidada há muito tempo na tradição cultural americana, rapidamente a Black Friday também caiu no gosto dos brasileiros. Afinal, o histórico de problemas econômicos por aqui sempre ofereceu campo fértil para qualquer tipo de ideia que fizesse os preços caírem.
Apesar disso, a mania nacional do 'jeitinho' por vezes colocou em risco a credibilidade da iniciativa. Um dos exemplos é a oferta de produtos com 50% de desconto, sendo que o valor nominal acaba ficando o mesmo que já vinha sendo praticado nas semanas anteriores. Este truque já foi devidamente identificado e infelizmente marca negativamente a Black Friday com o slogan "Tudo pela metade do dobro do preço".
Preocupados em preservar a aura de benefícios em torno da marca Black Friday, lojistas, entidades de defesa dos consumidores e até órgãos públicos se movimentam todos os anos para criar instrumentos que impeçam este tipo de ruído na comunicação do evento.
Ocorre que este ano os defensores da iniciativa terão uma preocupação a mais. A edição de 2021 será a primeira sob a vigência integral da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Isto significa que falhas ocorridas nos processos de captura e compartilhamento de dados dos clientes, por exemplo, podem ser cruciais para prejudicar a imagem da promoção.
A criação da lei foi essencial para o início de uma cultura de privacidade no Brasil. Depois de 12 meses em vigência, ela já embasou 1.102 sentenças judiciais de cidadãos que questionam o uso de seus dados por empresas. É uma lei que "pegou" no país. A adesão vem crescendo entre todos os portes de empresas. De compras on-line a redes sociais, de hospitais a bancos, de escolas a teatros, de hotéis a órgãos públicos, da publicidade à tecnologia. Seja qual for o segmento, todos já trabalham com a certeza de estar sendo impactados pela LGPD.
Diante deste cenário, é certo que o consumidor estará mais atento ao comportamento das marcas, uma vez que agora ele tem na LGPD um arcabouço de normas que o protege, assim como os caminhos para denunciar e ter seus direitos preservados. Desta forma, quem não quiser ter problemas, precisará abrir espaço na preocupação com a redução dos preços para desenvolver esforços também no sentido de agir em estrita conformidade com a LGPD.
Neste sentido, algumas das principais medidas são:
1) Aumentar a capacidade de treinamento dos canais de atendimento ao cliente;
2) Aumentar a atenção aos "Termos de Uso". Se ainda não houver nenhuma menção à forma como os dados são tratados, o estabelecimento pode não estar preparado para receber os dados de clientes seguindo a LGPD;
3) Organizar campanhas de Marketing, adotando estratégias de comunicação que não desrespeitem os direitos dos usuários;
4) Investir em tecnologia de qualidade para que o sistema atue de acordo com as autorizações dos formulários.
Não resta dúvida de que uma revisão imediata sobre como está organizado o processo de captura e compartilhamento de dados se faz necessária. Outra preocupação deve estar relacionada à forma de trabalho dos prestadores de serviço. Não deixe sobre a responsabilidade de outros uma parte do processo cuja culpa por erros, mesmo que cometidos de forma involuntária, possa recair sobre sua empresa. Mapeie o passo a passo da jornada e minimize os riscos ao máximo.
Não será bom para ninguém se, além da brincadeira pejorativa sobre os produtos pela metade do dobro do preço, a Black Friday no Brasil ganhar também algum slogan relacionado à falta de cuidado ou mesmo ao mau uso de dados dos compradores.
Ricardo Maravalhas, CEO da Immunize System.
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