A evolução exponencial da tecnologia, nos últimos anos, tem impulsionado a jornada da transformação digital nas organizações, fenômeno cada vez mais crucial para a sobrevivência dos negócios. Não é difícil perceber que pequenas startups, por exemplo, vêm abocanhando fatias relevantes do market share. Ninguém quer ficar para trás. Ao mesmo tempo, várias empresas continuam a resistir à mudança e preferem manter o status quo em seus modelos organizacionais e de negócios.
Repensar formatos, processos e modelos econômicos é cada vez mais necessário (e visto) nas corporações, principalmente após o início da pandemia. A urgência em se transformar e se reinventar gerou inúmeros desafios, como a necessidade de execução imediata dos planos com menor tempo de planejamento, e a mudança nos modelos de negócios diante de um mundo mais imprevisível. Isso tudo vem exigindo das empresas uma maturidade digital que a maioria delas não tem. Pesquisas revelam que, mesmo em setores altamente digitalizados, tal maturidade pode variar significativamente, de forma a impactar os resultados das empresas.
Estudo recente da McKinsey, realizado com empresas de grande e médio porte de diversos setores, mensurou quão maduras estão digitalmente as organizações que atuam no Brasil. A pesquisa apontou que as empresas líderes em maturidade digital alcançam taxa de crescimento do EBITA [medida da lucratividade da empresa usada pelos investidores] até três vezes maior que os demais grupos. Globalmente, os líderes digitais cresceram cinco vezes mais que as empresas sem esse perfil.
Mesmo empresas com maturidade digital menos desenvolvida têm consciência da relevância e do potencial de disrupção do Digital e do Advanced Analytics. Este último é uma nova etapa para além de Business Intelligence que une análise preditiva, Big Data Analytics, Machine Learning, data mining e outras técnicas e ferramentas extremamente avançadas, no sentido de chegar a novas conclusões e informações até então desconhecidas. E o crescimento tecnológico se mantém em taxas exponenciais. Uma das próximas etapas é a nova versão da Internet, o metaverso. Mas, afinal, o que é esse tão comentado metaverso?
Origem do conceito
O termo apareceu pela primeira vez em 1992, no livro "Nevasca", do autor Neal Stephenson. É uma terminologia que se refere a um novo mundo virtual, baseado em toda a tecnologia disponível, e que pretende replicar a realidade. Para os cinéfilos, uma Matrix. Alguns jogos como Roblox, Second Life, Fortnite são versões embrionárias, quando comparamos com todo o potencial que esta evolução pode nos trazer. É muito mais do que realidade aumentada ou virtual. Assustador, ou encantador?
Se pensarmos sob o ponto de vista de transformação digital, principalmente para as organizações que resistem a se transformar, pode ser assustador, porque é mais uma etapa de transformação, sendo que já existem outras que ainda não foram alcançadas. Para simplificar, é necessário entender algumas características dessa transformação.
A primeira é que ela não nos leva de um ponto para outro, e sim a uma transformação constante e regular. A segunda característica importante é que essa transformação não é linear, ou seja, não precisa que todas as organizações passem por todas as etapas. Dependendo da corporação, é possível simplesmente adotar a próxima evolução e repensar o negócio baseado nesse progresso.
Isso significa que algumas organizações já podem focar no metaverso. Alguns aspectos que podem ser analisados pensando nesse cenário:
Futuro do trabalho
O futuro do trabalho passará por ambientes híbridos, que possibilitarão acesso a novos profissionais, novas habilidades e novas experiências. Do lado dos profissionais, novas oportunidades e vagas estarão disponíveis. Alguns estudos apontam que os colaboradores não pretendem mais trabalhar em casa, e nos escritórios também não. Novos espaços serão criados e adotados para o trabalho.
O metaverso será, com certeza, um deles. Algumas empresas já estão fazendo testes com estes ambientes. Por exemplo, a Microsoft já está usando o metaverso para reuniões imersivas e com avatares. O impacto no modelo de trabalho gerará a necessidade de novas habilidades, nomeadamente, novos modelos de liderança dos profissionais.
Canais de distribuição
O metaverso abre uma nova perspectiva nos canais de distribuição. Será possível disponibilizar ambientes colaborativos onde os clientes podem comprar, "experimentar" e trocar ideias em relação ao produto ou serviço entregue. Isso significa que, mais do que nunca, a experiência que é entregue pela organização será crucial para o sucesso do seu negócio. Imagine a sua loja virtual por onde os clientes passeiam, compram e falam abertamente sobre a experiência que estão tendo. Atualmente, já temos este modelo de comunidades em plataformas, como por exemplo o Meta (Facebook) e o Instagram. No entanto, no metaverso o controle é infinitamente menor. Ou seja, o impacto é maior, seja ele positivo ou negativo. Isto significa que as organizações necessitam focar ainda mais na experiência e usabilidade quando os clientes utilizam estes canais de distribuição-
Ética, segurança e responsabilidade
Por se tratar de um ambiente novo e, principalmente, sem qualquer tipo de controle, é muito importante que as organizações o utilizem de acordo com os princípios de ética e responsabilidade. Mais do que nunca, as companhias precisarão adotar medidas que permitam organizar e monitorar os "espaços criados" pelas mesmas.
Do mesmo modo que as empresas estabelecem regras e cuidam das suas instalações físicas, precisam dedicar profissionais para garantir que os espaços virtuais sigam as mesmas regras de compliance. Os profissionais de áreas como o Direito precisarão atualizar-se rapidamente para atender a estas novas necessidades. As organizações deverão investir ainda mais em profissionais de segurança da informação considerando o dinamismo dentro dos novos mundos virtuais. Conceitos como o ESG [Environmental, Social and Governance – sigla em inglês ou Ambiental, Social e Governança] serão ampliados e amplamente implementados, para que seja possível ter governança e sustentabilidade no ambiente corporativo.
Modelos de negócio
Alguns modelos, como negócios baseados em meios de pagamento, serão amplamente impactados. Em um mundo virtual, a tradicional maquininha poderá não ser mais utilizada. Inclusive, talvez até o dinheiro, conforme o conhecemos hoje, não existirá mais. Isso gerará impactos em todo o sistema financeiro mundial, e no modo como tradicionalmente estamos habituados a fazer transações comerciais. A proposta de valor associada ao produto entregue será, mais do que nunca, o ponto- chave para o sucesso do negócio.
Essa realidade já começou. Tal como aconteceu com todas as grandes transformações da humanidade, inicialmente podemos até negar. Mas, inevitavelmente, em algum momento seremos confrontados com ela. E, nesse ponto, quem estiver mais preparado sairá na frente. Grandes desafios, principalmente relacionados a questões éticas, nos serão colocados. É fundamental estar preparado para fazer com que tornem oportunidades de crescimento como profissionais e, principalmente, como seres humanos.
Carlos Baptista, professor e coordenador no Núcleo de Seleção de Alunos do MBA da FIAP. Especialista em transformação digital, atua como diretor da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano e é co-criador do Modelo Ágil Comportamental (MAC). Possui mais de 30 anos de experiência em TI no Brasil e Portugal.