O poder disruptivo e revolucionário do Blockchain a serviço das cooperativas financeiras

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Na tradução literal, blockchain significa corrente de blocos. Na prática, é uma tecnologia que trabalha com a descentralização de registro de dados como uma medida de segurança. Ou seja, os dados de transações financeiras ficam espalhadas em diversos computadores, reduzindo falhas e até mesmo fraudes. Mas o que esta nova tecnologia tem a ver com as cooperativas financeiras? E de qual maneira pode contribuir para a vida dos cooperados?

Primeiramente, importante ressaltar que inovar faz parte do nosso dia a dia cooperativista. No caso do blockchain, temos orgulho de o Sicoob ter sido pioneiro nos estudos sobre o tema em 2016, participando do grupo de trabalho na Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) denominado GT-Blockchain ao lado das maiores instituições financeiras nacionais. Como consequência, em 2017, o Sicoob e 4 grandes instituições financeiras nacionais constituíram grupo específico para avaliar os possíveis usos e benefícios do blockchain no setor financeiro. Uma iniciativa inédita, integrando diferentes entidades do segmento financeiro em um trabalho colaborativo para experimentação desta tecnologia.

O resultado foi a criação do Sistema Financeiro Digital (SFD), responsável por conectar datacenters das instituições financeiras (IFs) participantes que permitiu a implementação do 1º experimento para liquidação financeira em tempo real no país. Já em novembro 2018, alcançamos um marco histórico: a primeira transferência em tempo real de valores do Sicoob para as IFs participantes!

Para coroar este trabalho, o SFD foi um dos 12 projetos selecionados na primeira edição do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas do Banco Central (LIFT), dentre as 81 propostas apresentadas que contaram com a participação de mais de 100 pessoas entre pesquisadores, desenvolvedores, especialistas e parceiros. De acordo com o órgão regulador, o LIFT assemelha-se a uma sandbox setorial, com o propósito de incentivar o desenvolvimento e amadurecimento de ideias que podem ter impacto inovador no Sistema Financeiro Nacional (SFN).

E mais recentemente, junho desde ano, durante o maior evento de tecnologia, automação bancária e de serviços financeiros da América Latina, o Ciab Febraban, foi anunciada a Rede Blockchain do Sistema Financeiro Nacional (RBSFN). O primeiro caso de uso da RBSFN anunciado é o "Device ID" voltado para que as instituições financeiras compartilhem identificações de dispositivos móveis. A partir disso, poderemos enriquecer os sistemas antifraude para verificar se um dispositivo específico é confiável ao avaliar, por exemplo, se ele é um aparelho perdido, furtado ou roubado. O conhecimento adquirido ao longo do projeto SFD permitiu que o Sicoob fosse uma das primeiras instituições a entrar na RBSFN e não temos dúvidas que as principais inovações dos serviços financeiros no Brasil passarão por essa nova rede anunciada no Ciab.

Respondendo a segunda pergunta, a mudança na vida dos cooperados, a experiência com a tecnologia blockchain poderá demonstrar ganhos de eficiência e aumento da segurança na realização de transações. Fator que coloca o Sicoob como o único Sistema a disponibilizar esta tecnologia às cooperativas financeiras. Mas vamos entender um pouco melhor como isso vai ser aplicado.

Nascida no mercado financeiro como uma forma de viabilizar transações de criptomoedas, como os bitcoins, a tecnologia já pode ser aplicada a diversas indústrias. Segundo especialistas, a segurança se dá porque, no encadeamento dos blocos, a informação do bloco anterior contém a impressão digital do anterior e agrega seu próprio conteúdo. Estas duas informações unidas vão gerar sua própria impressão digital e assim sucessivamente.

O blockchain deve revolucionar a forma de fazer negócios em vários mercados porque impõe um novo modelo baseado em blocos que carregam informação de maneira segura, estabelecendo a confiança entre os participantes sem a necessidade de intermediários. Ou seja, é muito difícil apagar dados ou transformá-los, visto que há cópias destes registros em diversos computadores. Além do mais, os dados ficam protegidos por criptografia e, como a rede blockchain é pública, as movimentações podem ser auditadas e verificadas por qualquer pessoa, aumentando ainda mais a transparência das transações.

No caso do SFD, a solução permite a transferência de recursos entre os clientes das IFs de forma rápida e segura, durante 24h do dia nos 7 dias da semana, melhorando a experiência dos cooperados, pois é necessário apenas selecionar o contato na agenda telefônica e informar o valor da transferência. Por outro lado, para as cooperativas, temos o benefício direto em redução de custos e riscos decorrentes da desintermediação do processo e redução do transporte de numerário com a chamada "desmaterizalização" do dinheiro pois tudo ocorre de forma digital.

Fazer parte destes estudos e da sua implementação demostra o quanto as cooperativas estão avançadas em termos de tecnologia financeira. Mas isso não é tudo, das 10 tendências tecnológicas para o sistema financeiro, apontadas em pesquisa da Febraban, o Sicoob investe em mais da metade delas, incluindo o Blockchain, mas também o Open Banking, Chatbots, uso de biometria, Segurança Cibernética e Internet das Coisas (IoT). E, mais, só em 2018, o sistema investiu em transformação digital, incluindo melhorias nos aplicativos, além de inovações revolucionárias que se enquadram na Inteligência Artificial (AI). Em 2019, os avanços tecnológicos continuam no foco com investimentos na ordem de R$340 milhões.

Mas não queremos que essa tecnologia fique restrita apenas ao Sicoob, pois podemos avançar ainda mais. Com o blockchain é possível integrar o sistema cooperativo em uma única rede que possibilitará exercitarmos de fato a intercooperação, criando soluções inovadoras de forma conjunta. Entendemos que o cooperativismo pode dar um grande exemplo para o resto do mundo, uma vez que a maior dificuldade de implantação desta tecnologia é a questão da governança onde todos os participantes precisam sentar-se na mesma mesa para discutir as "dores" e problemas de negócios, para só assim fazer uso da tecnologia. E se sentar à mesa bem como debater soluções está no DNA do cooperativismo.

Antônio Vilaça Júnior, diretor de Tecnologia da Informação do Sicoob Confederação.

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