Não há dúvidas de que o agronegócio é a locomotiva da economia brasileira. E o setor lácteo, um dos principais vagões desta locomotiva, está passando por desafios internos há anos, sobretudo, em razão dos custos de produção e logística, afetados pela ausência de políticas públicas estruturantes e efetivas.
Além disso, as indústrias de laticínios e as cooperativas de produtores, elo crucial do setor, nunca se viram em uma 'saia justa' no sentido de orquestrar estratégias a fim de atender os dois públicos exigentes, que estão posicionados em extremos – o produtor rural e o consumidor final. A indústria de derivados do leite, em alguns casos por meio de cooperativas agroindustriais, possui o papel de combinar a oferta e a demanda, uma equação bastante complexa. E, no meio do caminho, há uma série de agentes intermediários como as transportadoras, consultorias, fábricas de insumos, atacadistas, varejistas, entre outros.
Somada a essa questão, enfrentamos também o desafio de tornar o agro 4.0. Ou seja, analisar minuciosamente a cadeia produtiva do leite a fim de mapear os processos, identificar os gargalos e aplicar as tecnologias necessárias para a automação em todos os elos da cadeia. Estamos diante da mola propulsora do processo de Transformação Digital do Agronegócio em todos os âmbitos, desde o campo (fazenda), passando pela logística, indústria, processo de produção industrial, distribuição até chegar no varejo.
Citando o ditado popular do meio rural "o que engorda o gado é o olho do dono", essa premissa não mudará, continuará viva nos produtores rurais. Porém, com o advento das tecnologias e em frente aos novos desafios, este olhar do dono precisa se tornar digital. Em outras palavras – mais urbanas – o "olhar do dono" se fará presente por meio de processos automatizados nas fazendas, como a irrigação, o consumo de energia elétrica, o monitoramento microclimático, o controle zootécnico, os sistemas automatizados de ordenha, o sensoriamento dos animais e ativos, entre outros.
Uma vez que o fator determinante do sucesso atualmente é a batalha pelos preços na prateleira dos supermercados, surge a indagação: em qual momento eu posso atenuar custos para majorar os lucros? A resposta são os investimentos em tecnologia com o objetivo de alcançar uma gestão efetiva a partir dos dados coletados de forma automatizada, que se tornará uma condição indispensável até mesmo em razão da necessidade de cumprir as normas de segurança alimentar e melhorar as métricas da produção.
A ideia é que as informações direcionem como simplificar, automatizar e controlar as operações com maior assertividade nos custos e na garantia de qualidade por meio da implementação de tecnologias como Analytics, Inteligência Artificial, Machine Learning, IoT, Chatbot, entre outros.
O Brasil é um gigante do agronegócio sob o ponto de vista mundial e essa posição pode ser ampliada se repensarmos as tomadas de decisões e baseá-las em dados, não em achismos, ou seja, adotar uma cultura.
James Cisnandes Jr. é head de Agribussiness da Engineering.