As soluções para a transformação digital no segmento jurídico têm se expandido de forma expressiva nos últimos tempos. Dados referentes ao aumento de associados à AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs) mostram um crescimento partindo de 20 empresas associadas em 2017, quando foi fundada, para mais de 600 associadas até a presente data.
Entre os associados, encontramos empresas de tecnologia, escritórios de advocacia, responsáveis por departamentos jurídicos em grandes empresas e por aí vai. Segundo a associação, entre 2017 e 2019, houve um aumento de 300% na quantidade de startups dedicadas a soluções para o segmento jurídico.
Eventos foram criados e ficaram lotados no pós-pandemia, ou seja, além da expansão da oferta, houve também uma explosão em termos de interesse por tecnologia de soluções jurídicas buscando o aumento da produtividade e a redução de custos.
Mas a que se deve essa expansão e interesse por tecnologia?
Antes de destacarmos sobre o interesse por tecnologia, vale relembrar como as empresas e escritórios trabalhavam antes disso: há décadas, quando se falava em tecnologia para automação, rapidamente vinha o exemplo dos editores de texto. Embora as planilhas fossem necessárias, ficavam restritas aos departamentos de controle e financeiro, quase um assunto à parte. A captura de informação estava associada à contratação de estagiários para consultar os tribunais e inserir os dados em ferramentas que hoje são consideradas arcaicas.
A evolução veio com a transformação digital da pessoa física, com mais acesso a computadores e celulares, ao compartilhamento de informações e às mensagens instantâneas. Isso foi levado para o dia-a-dia das empresas, e foi acelerado em função da pandemia.
A pandemia pode ser considerada um capítulo à parte. As empresas e pessoas mais conservadoras e tradicionais tiveram que dar a mão à palmatória e implantar, em alguns meses, a transformação que haviam postergado por anos. A razão é simples: SOBREVIVÊNCIA nos negócios.
Já fazendo uma conexão com o parágrafo acima, a explicação para este "boom" no segmento jurídico é a mesma: SOBREVIVÊNCIA!
É muito difícil imaginar um escritório de advocacia ou um departamento jurídico que consiga ser eficiente e eficaz sem o aparato tecnológico disponível atualmente. As lawtechs já criaram um cardápio de serviços que permite oferecer serviços com mais rapidez que agrega mais valor aos clientes.
Vamos começar pelos indicadores. A jurimetria é primordial para a tomada de decisões e aproxima os advogados de uma ciência exata, que já esteve muito distante destes profissionais. Claro que a essência ainda está na capacidade de análise estratégica de cada profissional, pois os dados podem indicar a direção com base em histórico de ocorrências e cabe ao advogado definir o melhor caminho, considerando outros fatores que a ferramenta ainda não tem a precisão necessária. Em resumo, é possível analisar as probabilidades e validar sua aplicação ao caso tratado.
O segundo ponto é a governança. Em um ambiente com milhares de processos, fica complicado gerenciar cada caso manualmente. Ferramentas de controle de Workflow (fluxo do processo) são indispensáveis nos dias de hoje. A captura de informações em tribunais feitas por robôs, os chamados BOTs, alimenta esse fluxo e integra os dados às ferramentas de gestão de cada empresa (ERPs) de forma a garantir o pleno gerenciamento de prazos e responsabilidades. Neste tópico inclui-se também a gestão de documentos necessários para o processo.
São muitos contratos que precisam estar atualizados e assinados pelas partes. O GED (Gerenciamento Eletrônico de Documentos) já está presente na grande maioria dos escritórios e departamentos jurídicos e foram incorporados de forma definitiva na execução dos trabalhos. Arquivar documentos na rede local, com vários usuários acessando, passou a ser um grande risco e com consequências imprevisíveis em caso de vazamento das informações. Equipes de Compliance, incluindo a aderência à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), estão atentas e ativas para avaliar o risco/impacto e tomar as ações necessárias.
Um item pouco considerado no passado, nosso terceiro e último ponto, é a interface com o usuário. Anteriormente feita por planilhas, hoje passa a ser primordial no atendimento e relacionamento com clientes, que querem saber a situação de seus processos de forma online real time, na medida que nosso sistema judiciário permita, e tomar providências e decisões para mitigar seus riscos.
Esses usuários se acostumaram com o formato Internet banking, UBER, iFood, que viabilizaram o imediatismo das informações com imenso valor agregado para os clientes finais, e não esperam menos do que isso para atender seus clientes.
Enfim, a tecnologia e seus avanços vieram para modificar o modelo de negócios e adaptar-se é mandatório. Os escritórios de advocacia mais inovadores já criaram suas empresas de tecnologia e buscam, cada vez mais, antecipar-se às necessidades dos clientes, garantindo assim sua longevidade no setor.
Ruy Rede, engenheiro eletrônico, pós-graduado em marketing, especialista em Compliance, segurança de dados, inovação tecnológica e automação e CEO da BTTECH.