Cidades inteligente não tem nada a ver com tecnologia, diz urbanista colombiano

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"Temos que encarar a realidade: a imensa maioria das cidades não é sustentável, para não dizer que são medíocres. Precisamos criar cidades radicalmente diferentes. Hoje, vivemos a oportunidade trazida pela pandemia, forçando um cenário de mudanças que levaríamos décadas para implantar. Precisamos de comunidades saudáveis dos 8 aos 80 anos: boas cidades para todos, não apenas para pessoas de 30 anos", o alerta é de um dos mais prestigiados urbanistas do mundo, o colombiano Gil Peñalosa, palestrante que apresentou o painel de abertura do Smart City Expo Curitiba 2022, nesta quinta-feira, 24. 

Fundador e presidente da organização canadense sem fins lucrativos 8 80 Cities, Peñalosa tem atuação em 345 cidades pelo mundo. "O nome 8 80 Cities traz justamente essa necessidade de inclusão de pessoas de todas as faixas etárias. É preciso praças e parques para vivermos em comunidade, com qualidade de vida, interação social e prática de esportes. E em todos os bairros da cidade, não apenas para os mais abastados. Pessoas vulneráveis não vivem em suas casas, que costumam ser muito reduzidas. Elas apenas dormem lá. Toda nossa vida é feita durante o dia, pela cidade", analisa. 

Para ele, a cidades inteligentes tem de incluir os menos favorecidos, não só a camada da população mais privilegiadas, citando como exemplo de sucesso projetos em cidades menos desenvolvidas, como Tirana, capital da Albânia, ou também em Copenhagen, Dinamarca, onde foram construídos diferentes tipos de parques, no quais monitores todo final do dia apoiam crianças e jovens em atividades de lazer e esportes. 

De acordo com Peñalosa, a pandemia chegou quando pensávamos em cidades inteligentes e mudanças climáticas. "Alguns dizem que tudo mudou. O que mudou foi a nossa percepção, em que o 'invisível se tornou visível'. Sentimos mudanças negativas, como a falta de equidade, mas também, mudanças positivas, como o ar mais limpo quando havia menos carros circulando nas cidades. Vimos também cidades fazendo transformações que antes não faziam, alegando falta de verba, informação ou cultura. Algumas criaram redes de ciclovias protegidas em certos dias, transformaram campos de golfe em parques públicos em 24 horas, converteram ruas em zonas livres de carros em áreas com falta de parques." 

Para o urbanista, a segurança dos espaços públicos de convivência deve ser pensada a partir do convívio com as crianças. "Gosto de propor uma reflexão: você levaria um parente de 8 anos para a praça do seu bairro? Ela é segura para ele? Se a resposta for positiva, é um bom sinal. Além disso, precisamos fomentar ainda mais as políticas de ciclovias, com redução da velocidade nas vias de automóveis. Bicicletas não segregam, não importa qual modelo você tem, diferente dos automóveis. É mais democrático e reduz o número de carros: hoje 1,3 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito todos os anos. As smart cities devem resolver problemas como esse. Precisamos de ações e exemplos que inspirem outras cidades. Então, Smart City Expo Curitiba, vamos agir agora!", provocou. 

Prefeitos compartilham experiências sobre tecnologia inteligentes para cidades 

Os prefeitos de Curitiba (PR), Rafael Greca; de São Luís (MA), Eduardo Braide; de Recife (PE), João Campos; e de São Paulo (SP), Ricardo Nunes, participaram da sessão temática moderada por Gilberto Perre, da Frente Nacional de Prefeitos.  

O prefeito Rafael Greca afirmou que a inovação só é válida para as cidades ao se transformar em processo social. Entre os destaques tecnológicos de Curitiba, ele citou as duas mil câmeras instaladas pela capital paranaense e que fazem leitura facial da população. Também falou sobre o sucesso das 150 hortas urbanas e das duas fazendas urbanas. "Queremos uma cidade que vá do arado ao computador", afirmou.  

O prefeito de Curitiba ainda ressaltou a integração dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) com a tecnologia de realidade virtual e o programa de pirâmide social que deve ser lançado nos 330 anos da cidade, em março do ano que vem. "Inovação é a transformação para o mundo dar um passo adiante em clima de paz, de respeito a todas as pessoas e livre de todos os preconceitos", disse.   

Universalização do acesso à internet  

Ricardo Nunes, prefeito da capital paulista, reiterou que a busca por tecnologia deve ter um cunho social. Ele falou sobre a necessidade em universalizar o acesso à internet para toda a população. Afirmou afirmou que São Paulo assumiu o compromisso de instalar antenas nas regiões da cidade em que não têm cobertura de Internet, as "áreas de sombra". O prefeito contou que implementou um software de material pedagógico para os alunos da rede municipal, porém, a maioria dos estudantes não tinha acesso à internet em casa: "investimento perdido".  

Ao falar das inovações de sucesso, Nunes citou a tecnologia que tem como objetivo melhorar o transporte urbano e o Centro de Inovação Bruno Covas que dá incentivo a startups verdes.    

Compromisso com a população  

Cícero Luna, prefeito de João Pessoa, afirmou que a capital da Paraíba busca ser referência na educação por meio da tecnologia. De acordo com Luna, a meta é ser igual ou superior às melhores escolas particulares do país.  Cidade inteligente tem visão e compromisso em cuidar do que é mais importante: a população", pontuou.   

Entre as inovações exemplares de João Pessoa, Luna falou do Programa Remédio em Casa, do prontuário eletrônico e do Programa Papel Zero: "Não assino nada em papel, é tudo digital".  Luna disse que defende a tecnologia como uma ferramenta para que se possa ser mais eficiente ao cuidar das pessoas.  

Filômetro   

O prefeito de São Luís, Eduardo Braide, contou que a cidade foi a primeira capital a vacinar a população e os adolescentes e a aplicar a dose de reforço contra a Covid-19. "Envolvemos a tecnologia em todo o processo da vacinação e criamos centros independentes. Desenvolvemos o aplicativo Filômetro que indicava, em tempo real, o tamanho da fila da vacinação para a população."  

Braide falou que preza por uma política voltada para as pessoas. A cidade está transformando os casarões históricos em habitação de interesse popular, com diversos apartamentos. Além disso, está criando uma rota acessível no Centro Histórico da cidade. "Ser cidade inteligente é mudar a vida das pessoas de forma rápida e impactante. Uma cidade só é boa para quem é de fora se, em primeiro lugar, for para quem mora lá", afirmou.   

Estratégia de digitalização   

João Campos, prefeito de Recife, disse que a meta da cidade é se tornar uma grande referência na área digital nos próximos quatro anos. "Temos o Embarque Digital, que promove a formação de jovens no ensino superior em tecnologia. Temos duas mil bolsas. A gente é fiador porque quer garantir a empregabilidade."  

Segundo Campos, a estratégia de digitalização de Recife tem foco no cidadão. "Não podemos excluir ninguém por não ter acesso à internet ou por não ser alfabetizado digitalmente."    

Durante a pandemia, a cidade criou um sistema de saúde que atende remotamente: "A telemedicina é uma realidade em Recife". Campos contou que a vacinação foi a porta de entrada da digitalização para a população. No aplicativo Conecta Recife, o cidadão encontra todos os serviços da saúde.  "A tecnologia precisa ter relação com a sociedade, não pode ter barreiras. Ela deve servir para enfrentar a desigualdade e as grandes mazelas", enfatizou. 

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