O comércio ético e o fortalecimento econômico dos povos da floresta vêm ganhando notoriedade como solução para a conservação da Amazônia. Atuando desde 2016 alinhado a essa estratégia e trabalhando pela geração de valor para a floresta em pé e aqueles que vivem nela, a rede Origens Brasil ultrapassou em 2022 a marca de R$ 5 milhões de movimentação financeira e registrou mais de 1.100 novos produtores e produtoras – totalizando 3.328 cadastrados. No período, o trabalho da rede apoiou a conservação de 58 milhões de hectares de floresta por povos indígenas e populações tradicionais. Esses resultados são confirmados no relatório anual da rede, lançado esta semana.
Criada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Instituto Socioambiental (ISA) e administrada pelo Imaflora, a rede Origens Brasil opera em cinco grandes territórios da Amazônia – Xingu, Norte do Pará, Rio Negro, Solimões e Tupi Guaporé – e conecta povos indígenas, populações tradicionais, instituições de apoio, organizações comunitárias e empresas, promovendo negócios éticos que valorizam os povos da floresta e a Amazônia viva.
O mais recente relatório mostra que 2022 foi um ano de crescimento significativo para a rede. A atuação se expandiu para 46 áreas protegidas (em 2021 eram 37), sendo 36 já com operações comerciais acontecendo – quatro a mais que no ano anterior. Isso se traduz em um crescimento de 36% de beneficiários potenciais, saltando de 13.170 em 2021 para 17.900, e geração de novas oportunidades para 65 povos indígenas e populações tradicionais (em 2021 eram 50). E a rede também passou a reunir um número maior de instituições de Apoio e Organizações Comunitárias – 75, nove a mais do que no ano anterior.
"Nosso trabalho olha além da geração de renda como resultado. Temos como missão promover o aumento da qualidade de vida e valorização da cultura, para que povos indígenas e populações tradicionais mantenham-se de forma digna nos territórios, conservando a floresta com seu modo de vida. Encerramos o ano reunindo 35 empresas que se comprometeram com esse objetivo por meio da realização de negócios com transparência e diálogo, além de preços justos que valorizam a manutenção da biodiversidade na floresta", diz Mariana Finotti, Analista de inteligência de dados da rede Origens Brasil .
Na região do Xingu, em 2022, nos 18 milhões de hectares de floresta em pé conservados por povos indígenas e populações tradicionais, foram comercializados 39 produtos, como a castanha-do-brasil, a borracha natural, a copaíba, o cumaru, o óleo de pequi, o babaçu, além de artes indígena e ribeirinha, resultando em mais de R$ 2 milhões em movimentações comerciais. Na região, a rede chegou ao total de 933 produtores(as) cadastrados(as), em sua maioria indígenas (82%) das etnias Ikpeng, Juruna, Kalapalo, Kawaiweté – Kaiabi, Kayapó, Kisêdjê – Suyá, Kuruaya, Panará, Parakanã, Tapayuna, Waurá, Xikrin e Xipaya.
A região do Rio Negro tem a maioria de mulheres cadastradas (52%) entre seus 453 produtores, e em 2022 a região comercializou mais de R$ 405 mil com 12 produtos e com apoio de 16 instituições e organizações comunitárias. Na região do Solimões, a rede impactou 56% de todo o território, atuando junto à população tradicional representada por extrativistas (45%) e manejadores (55%).
O Norte do Pará se diferencia pela expressiva contribuição da população quilombola – cerca de 38% dos 713 cadastros. Pelo comércio de 14 produtos, a região somou mais de R$ 1,5 milhão negociados no ano, com destaque para as cadeias de castanha-do-brasil, copaíba, cumaru, mel, pimenta assîsi e andiroba. E no Tupi Guaporé, território mais recente de atuação, a rede também apoiou o mapeamento dos seringais e realizou a primeira capacitação presencial no novo território, com 3.379.738 milhões de hectares de floresta em pé conservados por povos indígenas e populações tradicionais.
"Temos muito orgulho de ter ampliado nossa atuação e gerado bons resultados para toda a rede ao longo de 2022, mesmo em um cenário de muitos desafios na região. Acreditamos que os próximos anos serão ainda melhores, sabendo que ainda existem desafios grandes. Vemos acontecer movimentações importantes nesse início de 2023, como a retomada do Fundo Amazônia, a criação da Secretaria Nacional de Bioeconomia e ações efetivas de combate ao desmatamento e garimpo ilegal, que indicam uma mudança positiva para o fortalecimento de iniciativas de manutenção da floresta em pé e valorização dos povos que lá vivem Seguiremos trabalhando para garantir negócios pela Amazônia viva, com respeito, constância e em colaboração com os seus guardiões e guardiãs", conclui Mariana.