Com o crescimento e amadurecimento das economias emergentes, a recuperação lenta das economias europeia e norte-americana e o aumento do consumo da população, as discussões sobre sustentabilidade ganham novos contornos para alcançar resultados eficazes e com agilidade. Uma vez considerada temática “paralela” de poucos grupos, a sustentabilidade passou pelo estágio da alta popularidade em que companhias, empresas e governos se autodenominavam “verdes” a partir da adoção de medidas pouco práticas ou eficientes, e agora atinge seu grau máximo de comprometimento em que há uma real busca por mecanismos de produção e consumo de produtos e serviços que impactem pouco o ambiente, utilizem recursos financeiros conscientemente e gerem benefícios para a população e seu entorno.
Enquanto alguns setores econômicos são vistos como “vilões” por altos volumes de emissão de carbono no meio ambiente, no contexto da economia tangível, a indústria da tecnologia da informação é responsável por apenas 2% de toda a poluição produzida. Mais do que ser pouco poluente, a TI – e seus gestores – devem assumir para si parte da responsabilidade e do desafio de auxiliar demais mercados na redução dos demais 98% da poluição existente. Os avanços recentes da TI, como virtualização, dados em nuvem e a robustez redes móveis e fixas dão recursos para a chamada desmaterialização, isto é, a criação de ambientes onde os ativos físicos têm sua importância reduzida ou mesmo são desnecessários.
Iniciativas recentes mostram como as inovações tecnológicas podem ser utilizadas no dia a dia de empresas e de cidades para aliar a gestão virtual com a gestão de recursos reais. Já são modelos de negócio financeiramente viáveis as companhias de aluguel e compartilhamento de carros, uma iniciativa inteligente, menos poluente e mais amigável ao meio ambiente em comparação ao aluguel convencional ou compra de carros. A solução: criar um novo modelo de negócio a partir da introdução de um software de gestão de frota e de monitoramento via GPS, a empresa permite que internautas acessem carros por dia ou por hora estacionados em diversos pontos de uma cidade.
Surgem também redes de relacionamento e de negócios focadas no “novo turismo”, em que pessoas colocam a disposição um quarto ou um imóvel para locação durante temporadas para visitantes e turistas que querem ter uma experiência mais “social” e próxima ao dia-a-dia do morador do seu destino de viagem. Em poucos cliques, é possível mapear, filtrar, interagir e selecionar residências que de outro modo ficariam sem ocupação, gerando apenas os custos “padrão” como contas de água, luz, gás, dentre outras.
O conceito ‘da moda’ em TI atualmente: o cloud computing pratica os mesmos preceitos da desmaterialização, ou seja, da não necessidade de ativos próprios, afinal não é mais necessário possuir servidores e computadores para processar dados. Pode-se contratar esse serviço de outra empresa que os possuam em grandes quantidades, e que aproveita de forma mais eficiente a capacidade instalada dos mesmos, fazendo-a trabalharem para diversos clientes.
Com estes exemplos é possível compreender como a tecnologia da informação, por meio da virtualização ou da desmaterialização de ativos, segue os mesmos princípios essenciais da sustentabilidade – reduzir, reutilizar e reciclar. É possível criar serviços com custos reduzidos, que deixarão de gerar demanda por mais fabricação de produtos, que por sua vez reutilizarão ativos já existentes de forma mais eficiente. É o mesmo princípio da computação em nuvem, propiciando redução de impacto ambiental nas atividades humanas de consumo por meio de plataformas inteligentes.
Outro caso interessante, e real, de como a tecnologia e novas funcionalidades podem auxiliar no cotidiano de pessoas, empresas e cidades a melhor gerir a infraestrutura física e os bens naturais existentes são as redes inteligentes de utilities. Ao instalar uma rede de medidores inteligentes de energia, por exemplo, as companhias de energia têm maior precisão e controle dos períodos de maior pico de uso, podendo criar tarifas diferenciadas de precificação para diferentes perfis de usuários, clientes selecionam alternativas formas de pagamento (como pré-pago) ou a habilitação da tarifação por épocas sazonais.
A empregabilidade e viabilidade da TI “verde”, já consolidada na pauta e nas práticas dos gestores de empresas, parte agora da conscientização dos seus executores e agentes diários do papel e da responsabilidade que eles têm em gerar soluções sustentáveis aos atuais projetos existentes ou repensar em novos modelos de TI e de negócios.
Fernando Simões é Diretor executivo da Atos Consulting para a América Latina