Enquanto profissionais e especialistas discutiam conceitos e aguardavam a chegada de uma revolução na educação como um todo, o mundo foi sacudido por uma crise sanitária que resultou numa crise econômica. Este novo cenário obriga uma aceleração nas mudanças. E, no que se refere à educação profissional, exige uma reinvenção urgente.
A preocupação em desenvolver profissionais aderentes a uma nova proposta de negócios estabelece a necessidade de ofertar cursos com os conhecimentos técnicos específicos, os denominados hard skills, justamente porque passam a ter maior valor temas como inovação, empatia, comunicação e planejamento, que são competências mais relativas ao desenvolvimento do ser do que do saber fazer.
Esta realidade de uma nova proposta de formação profissional vem sendo construída nos últimos anos para atender as demandas dos processos seletivos. Isto porque estas seleções deixaram de lado as avaliações de lógica, como o conhecimento de línguas estrangeiras e testes de aptidões técnicos, por exemplo, para se voltarem a entrevistas e atividades que avaliam como primeiro grau de prioridade os soft skills do candidato. Isto é, sua capacidade de se adaptar, de trabalhar em grupo, de superar desafios e suas reações em momentos de conquistas e de resultados ruins.
As relações com o trabalho mudaram muito e a capacidade de se dispor a construir e contribuir são mais significativas do que saber realizar tarefas repetitivas e tradicionais. Agora as atividades são divididas por projetos. E o papel de ator e líder que se diferenciava por tarefas, agora é chamado de squads (nome dado para um modelo organizacional que separa os funcionários em pequenos grupos multidisciplinares com objetivos específicos).
Essas células se organizam a cada duas a quatro semanas para cumprir atividades relacionadas a um desafio; ou seja, as etapas de grandes projetos se transformaram em pequenos projetos cumpridos por equipes multidisciplinares. Sendo assim, um profissional nunca está pronto, ele sempre tem que se atualizar em ferramentas, recursos tecnológicos e mais ainda, em atitudes.
Desta forma, na maior crise econômica da história do Brasil, a retomada econômica e das atividades produtivas precisam se valer de uma proposta de educação mais contextualizada, mais eficiente, mais resiliente e que converse muito com a estrutura da educação profissional continuada.
Neste sentido, começam a aparecer iniciativas como o programa denominado: "MINHA CHANCE", do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O projeto incentiva parcerias com as empresas do setor privado com o objetivo de ampliar a geração de emprego e renda, conectando os cursos oferecidos com as demandas dos empregadores.
O resultado de conexões como esta pode ser notado na prática por meio da atuação de instituições como a Fundação FAT, um dos atores mais ativos da educação profissional do país. A organização já desenvolve cursos voltados para a área de Gestão Empresarial, em parceria com as empresas de tecnologia e gestão empresarial SAP e TOTVS, totalmente customizados de acordo com as demandas das empresas e do mercado de trabalho, abrangendo jovens e adultos, desempregados e empregados, visando ampliar o seu escopo de atuação.
Este é o momento de vermos as políticas públicas deixarem de lado o investimento no acesso ao ensino superior e focar em squads, programas com formações mais rápidas e eficientes, visando atender necessidades imediatas dos segmentos produtivos. Assim vamos capacitar os cidadãos e tornar os profissionais mais produtivos e eficientes.
César Silva, diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação.