Inovação evolutiva ou disruptiva: qual seguir?

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Quando o assunto é inovação, ser disruptivo pode soar como um posicionamento atraente – a tal "menina dos olhos". Isso se deve à designação que define uma mudança drástica nos modelos de negócio, principalmente causada por um avanço tecnológico. Os sempre citados, como Uber, Netflix, dentre inúmeras outras empreitadas muito bem-sucedidas, são exemplos claros e que fazem os olhos de muitas empresas crescerem. No entanto, isso significa que todos podem ser disruptivos?

Pode ser que haja uma certa confusão em torno do conceito da inovação disruptiva. Talvez porque somente o aproveitamento de novas tecnologias, combinado com metodologias mais ágeis, como o design thinking, executados por "cabeças frescas" que desafiam o status quo não são a verdadeira secret sauce da inovação disruptiva. Mas se não for, então o que mais poderia ser?

Há dois estudiosos que podem nos trazer uma visão mais clara sobre o assunto. O primeiro deles trata-se do pai da teoria da destruição criativa, o célebre Joseph Schumpeter. O austríaco foi considerado um importante economista no século XX e ganhador de prêmio Nobel.

E o segundo – este mais recente – é o pesquisador Clayton Christensen. O professor de Harvard que estudou profundamente a tão chamada inovação disruptiva. Seu trabalho revelou dois novos ingredientes que fazem a diferença entre inovação evolutiva e disruptiva, e que podem ser essenciais nesse processo de entendimento. Christensen argumenta que as inovações disruptivas são geralmente tecnologicamente mais simples. E, exatamente ao contrário do que se pensa, não se trata de um grande salto tecnológico e de alta complexidade.

Para o pesquisador, trata-se de uma condição importante, pois ela garante que outsiders possam ingressar em um mercado já existente. Se fosse necessário lidar com uma complexidade muito grande, teria uma alta barreira de entrada que impossibilitaria o avanço.

Outra caraterística soa um pouco mais estranha, uma vez que, segundo Christensen, as inovações disruptivas apresentam primeiramente uma deterioração do produto ou serviço. Aparentemente, uma condição que faz da disrupção algo perigoso para as empresas já estabelecidas. Elas não podem deteriorar seu produto, uma vez que já têm renome, expectativas associadas com a marca e receitas recorrentes. A aposta em um produto pior pode ser devastadora, ainda mais por não se ter garantias do sucesso do novo produto. Talvez esteja aí a grande chance para empresas que já nascem disruptivas.

Considerando puramente os aspectos tecnológicos do primeiro Iphone da Apple, poderíamos dizer que o produto era inferior aos dos concorrentes, como a linha Top da Nokia, ou Black Berry – todos líderes do mercado na época. Como nos requisitos de processador, sistema operacional, antena etc, a Apple não foi capaz de empatar, as empresas líderes não viam o Iphone como uma ameaça.

Fatalmente, isso é comum na disrupção, ambas as empresas líderes experimentaram ainda por um tempo o aumento de suas receitas, indicando que eles estavam no caminho certo, fortalecendo a crença de que os Iphones seriam produtos para os idealistas da maçã mordida. Mas não preciso nem dizer o que aconteceu depois. O resto da história é conhecida. Hoje, somente a unidade de negócio dos Airpods, se fosse desmembrada, seria sozinha também uma das maiores empresas de tecnologia.

Florian Scheibmayr, analista líder TGT Consult, empresa brasileira de pesquisa e consultoria em tecnologia.

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