A transformação digital é atualmente um dos mais urgentes desafios enfrentados pela gestão pública brasileira. A afirmação é de pesquisadores em Governo Eletrônico do Coppead/UFRJ, que estudam o tema e ressaltam que muitos serviços que hoje estão sendo oferecidos de forma remota poderiam estar mais acessíveis e rápidos para a população neste momento de quarentena por conta da pandemia do coronavírus.
As pesquisadores afirmam que projetos relacionados aos processos digitais engavetados há anos tiveram que ser adaptados em curto prazo para que os serviços não ficassem totalmente parados. É o caso da validação de documentos através da assinatura digital (substitui o visto do agente público e a exigência da presença física); videoconferências; rápido aprendizado com ferramentas tecnológicas; melhor uso dos celulares; nuvem e VPN (como forma de back up dos arquivos e menos dependência da rede interna). Essas tecnologias simples e sem maiores mistérios permitiram aos servidores trabalharem de casa e a realização de sessões em câmaras de vereadores, votações na câmara dos deputados e Senado, além de decisões no STJ. O interessante é que não houve um preparo específico, apenas o senso de necessidade dos atores envolvidos.
Para Marie Anne Macadar, professora de Sistemas da Informação do Coppead/UFRJ, coordenadora do grupo de pesquisa, é necessário que os agentes públicos briguem pela formalização e homologação dos processos ainda na quarentena ou, no mais tardar, assim que voltarem aos escritórios e repartições, antes que sejam engolidos pelas novas prioridades das rotinas. "É importante que cada equipe identifique os pontos positivos do teletrabalho, mensure os ganhos obtidos e justifique sua manutenção. Pelo lado dos gestores, é importante dar o exemplo de continuamente debater tecnologias e soluções para suas equipes. Formar comitês, em paralelo aos trabalhos do dia a dia, para que avaliem novas alternativas tecnológicas", explica ela.
A professora afirma que uma evolução digital pode promover ampla desburocratização e ocasionar novas formas de atuação dos governos, com melhorias para a administração pública e, consequentemente, para a população. "É possível criar outras opções como investir no home office para diminuir os custos de deslocamentos; criar uma identidade digital, para facilitar pagamentos (como o repasse do auxílio emergencial para Covid-19); implementar o uso de plataformas virtuais de aprendizagem que ajudariam nas aulas online, entre outras medidas", afirma a professora, completando que, para isso, é preciso oferecer acesso à internet e computador pelos alunos; capacitação dos professores para uso das tecnologias; e infraestrutura das escolas.