A tecnologia existe e funciona bem, os handsets começam a aparecer, mas por enquanto foram lançados no mundo poucos serviços de pagamento via NFC (Near Field Communications), tecnologia de comunicação por aproximação. Uma das razões talvez esteja relacionada à dificuldade de se estabelecer um modelo de negócios padronizado e que agrade a todas às partes envolvidas: bancos, operadoras móveis, redes de adquirência e, claro, o consumidor. O tema dividiu especialistas reunidos em painel durante o Forum Mobile+, nesta quarta-feira, 26, em São Paulo.
Basicamente, existem duas possíveis soluções para um serviço de pagamento móvel e que envolvem atores diferentes. Uma é baseada em nuvem, como a escolhida pela PagSeguro em um teste-piloto lançado em abril com 100 funcionários do UOL em São Paulo: todas as informações sobre os clientes e seus cartões de crédito ficam armazenadas no servidor da empresa. O consumidor precisa apenas encostar seu celular com NFC em outro do lojista com a mesma tecnologia e digitar uma senha do serviço. "Na verdade, as informações sequer trafegam pelo celular. O cliente pode usar até em uma rede Wi-Fi desconhecida", disse Igor Taquehara, gerente de produtos da PagSeguro. A empresa que criou a carteira eletrônica (no caso a PagSeguro) faz toda a gestão de risco e assume a responsabilidade financeira em caso de fraude. Taquehara ressalta que, ao contrário do que parece, neste modelo as redes de adquirência não são excluídas do processo. "A captura é processada junto com os adquirentes, tal como fazemos nas vendas pela web", explica. Apenas foi trocada a interface: em vez da web, o celular.
Outra solução, que parece ser a preferida de bancos e operadoras móveis, consiste na inclusão de um elemento seguro, certificado pelas partes, no SIMcard do usuário. Essa solução envolve a contratação de uma nova figura, conhecida como TSM (Trusted Service Manager), que garante a segurança na comunicação entre os sistemas bancário e de telecom. Uma das vantagens dessa solução é a possibilidade de efetivar transações mesmo quando não há sinal na rede celular, pois os dados do cliente estão armazenados, de maneira criptografada, no SIMcard. O lado negativo é que a quantidade de participantes da cadeia torna a operação bem mais complexa.
Ainda restam muitas dúvidas sobre qual modelo prevalecerá. "A questão do TSM não está bem resolvida, por isso optamos por outro caminho", disse Taquehara, da PagSeguro. "Não consigo entender porque são necessários vários TSMs", disse José Domingos Favoretto, gerente de arquitetura e soluções do CPqD, referindo-se ao fato de cada banco e cada operadora buscar um TSM diferente. Ele enxerga um interesse econômico das teles por esse modelo, pois poderia lhes render uma receita maior do que a oferecida atualmente pelo simples tráfego das máquinas de POS. O problema é que as redes de adquirência não querem abrir mão da sua parte.
Gustavo Ullman, diretor de tecnologia da G&D, defendeu o modelo com TSM. "A operadora precisa, sim, de um TSM porque é ela quem acessa o elemento seguro. O SIMcard é dela. O banco ou o varejista podem ou não ter um TSM, que, neste caso, atuaria como um provedor de serviço", explicou.