Uma semana após enviar carta ao presidente dos EUA Barack Obama se queixando por ter seu nome envolvido no polêmico programa de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, a Cisco agora é acusada pelo governo chinês de ser conivente com os EUA no esquema de ciberespionagem, segundo informa o New York Times.
Reportagem publicada nesta terça-feira, 27, no site do China Youth Daily, o jornal estatal chinês afirma que a fabricante de equipamentos de rede "continua intimamente ligada ao governo americano, utilizando seu domínio de mercado em redes de informação chinesas, desempenhando um papel vergonhoso e tornando-se uma importante arma para que os EUA explorem seu poder sobre a internet do país".
Em resposta, a Cisco negou as acusações, dizendo que não fornece qualquer tipo de backdoors (porta dos fundos, em tradução livre, que permitem a inserção de códigos maliciosos que executam comandos não autorizados em servidores e equipamentos de rede) em seus produtos. "A Cisco não trabalha com qualquer governo para enfraquecer seus produtos", declarou John Earnhardt, representante da empresa, em um comunicado. "Além disso, a Cisco não monitora as comunicações privadas de cidadãos ou organizações governamentais na China ou em qualquer lugar do mundo", acrescentou.
Na semana passada, procuradores dos EUA indiciaram cinco militares chineses sob acusação de terem invadido redes de computadores de grandes empresas norte-americanas, bem como de um sindicato, para desvendar segredos comerciais. O governo de Pequim então denunciou as delações e acusou Washington de hipocrisia, à luz das revelações de espionagem baseadas em documentos vazados pelo ex-colaborador da NSA, Edward Snowden.
O indiciamento dos militares provocou recriminações da China e gerou preocupação de que o aumento das tensões entre os dois países repercutiria nas empresas de tecnologia americanas que têm negócios no país asiático. A mídia estatal chinesa já havia manifestado receio sobre o papel da Cisco na infraestrutura digital do país. No ano passado, o jornal China Daily citou um analista não identificado, o qual declarou que: "Há uma ameaça de segurança terrível na China a partir de empresas de tecnologia com sede nos EUA , incluindo Cisco, Apple e Microsoft."
Ainda de acordo com o New York Times, cerca de 15% da receita da Cisco de US$ 34,8 bilhões, para o período de nove meses encerrado em abril, vieram da Ásia, incluindo a China. Nesse intervalo de tempo, as vendas globais na Ásia caíram 9%, enquanto as da China recuaram 7%.