Depois de colocarem o Brasil no posto de terceiro maior mercado de games do mundo, os jogadores brasileiros podem comemorar mais um feito: no primeiro trimestre de 2019, foram suas compras de desktops que amenizaram a queda do mercado de computadores no país. Essa é uma das conclusões do estudo IDC Brazil PCs Tracker Q1/2019, que contabilizou a venda de 1,268 milhão computadores nos três primeiros meses de 2019, volume que é 5% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Desse total, 381 mil foram desktops e 887 mil foram notebooks, retração de 4% e de 6%, respectivamente, em comparação ao primeiro trimestre de 2018.
"O desktop personalizado pelo próprio usuário, configurado para rodar seus jogos preferidos, é o caminho mais rápido e econômico de entrar no mundo dos games, e neste começo de ano foi o responsável por um volume importante de máquinas no mercado de consumo", diz Wellington La Falce, analista de pesquisa da IDC Brasil.
Já o setor de notebooks não teve um consumidor doméstico com o mesmo apetite dos gamers, mas no segmento corporativo teve relevância maior e suavizou a queda no resultado total de vendas de PCs. As vendas de notebooks para o usuário doméstico caíram 8% no primeiro trimestre de 2019. "Viemos de dois anos seguidos de alta, com forte crescimento nas vendas de portáteis. É natural, portanto, uma demanda menos agressiva. Além disso, tem a questão preço. Os notebooks ficaram, em média, 14% mais caros, consequência do fim dos incentivos da Lei de Informática e do dólar mais alto", pondera o analista da IDC Brasil.
La Falce lembra também que, independente da categoria – desktop ou notebook -, nos primeiros meses do ano é comum um volume de vendas menor, pois o consumidor costuma comprar bens de maior valor no Natal e muitas vezes acumula essas dívidas com despesas típicas do início de ano, como IPVA, IPTU, material escolar etc.
Ainda assim, o mercado de consumo teve um melhor desempenho do que o mercado corporativo. No primeiro trimestre de 2019, das vendas de 1,268 milhão de computadores, 810 mil foram para o usuário doméstico e 458 mil para as empresas.
"A queda do mercado de computadores no setor corporativo foi de 6%, movimento puxado para baixo pelo governo, que retraiu 30% em relação ao primeiro trimestre de 2018. Tivemos não apenas uma troca de governo, mas uma mudança radical de gestão e o período de avaliação antes de novos investimentos já era esperado", afirma La Falce.
Além das vendas mais fracas para o setor público, o mercado de computadores no primeiro trimestre de 2019 foi impactado também pelo freio no ímpeto do empresariado. "O novo governo começou, mas não com a rapidez esperada para a retomada da economia. O governo está claramente preocupado com as contas públicas e com a Reforma da Previdência, mas hoje o mercado está estagnado. E estagnação também gera instabilidade e insegurança para investimentos", analisa La Falce. "Em cenários estáveis o mercado de computadores cresce. Foi assim em 2017, por exemplo, quando o mercado cresceu 15%", lembra.
Em termos de preços, o IDC Brazil PCs Tracker Q1/2019 mostra que, em média, os computadores para o usuário doméstico ficaram 10% mais caros do que no primeiro trimestre de 2018, provocando um aumento de 7% na receita e um faturamento de cerca de R$2 milhões. No mercado corporativo, o preço médio ficou 21% mais alto e o faturamento foi de cerca de R$1,4 bilhão, 15% maior do que no mesmo período do ano passado. Segundo o analista da IDC, a alta de 21% deve-se, basicamente aos notebooks, que ficaram 14% mais caros no período, e à retração do governo, já que o ticket das compras deste setor é mais baixo e puxa a média do corporativo para baixo.
Insubstituível
Para a IDC Brasil, o cenário para os próximos meses não deve sofrer mudanças significativas e a projeção para 2019 é de um crescimento de 1%, com vendas de 5.600 milhões de unidades de computadores.
Segundo La Falce, os gamers suavizaram a queda do mercado de PCs no primeiro semestre e tudo indica que seguirão comprando desktops e contribuindo para os resultados do setor de consumo.
O mercado educacional também deve reagir aos impulsos de inovação e renovar o parque instalado, assim como a preocupação com a segurança de dados e a preparação para a adequação à LGPDP deve provocar uma atualização de máquinas nas instituições de ensino. O governo, por sua vez, ainda que retome as compras no segundo semestre, deve ser de forma conservadora. E o setor privado, embora dependente de decisões do governo que injetem ânimo e segurança, deve reagir mais rapidamente.
"O computador continua insubstituível. O consumidor final até pode investir em outros devices, mas as empresas sabem que nenhum dispositivo gera a mesma produtividade de um PC", diz o analista da IDC. Além disso, completa La Falce, com o fim do suporte ao Windows 7, as empresas precisarão de novos computadores, capazes de rodar o Windows 10.