Apesar de ainda não ter um modelo definido no Brasil, o uso de celulares como meio de pagamento, o também chamado mobile payment, começa a alterar o atual modelo de captura de transações eletrônicas de crédito e débito no país. A tendência é que as soluções de mobile payment e os cartões de crédito ainda coexistam por um bom tempo, mas no futuro a probabilidade é que as duas modalidades se tornem uma só.
Se isso de fato ocorrer, ganhará a disputa o meio de pagamento eletrônico que apresentar a melhor relação custo-benefício para o cliente, que envolve segurança, praticidade, baixos custos e usabilidade. Por enquanto, o fato é que ambos os sistemas disputarão o mesmo consumidor.
Atualmente, o modelo de pagamento pelo celular ainda é incipiente no Brasil, mas começa a ameaçar o domínio dos cartões de crédito com a entrada das operadoras de telefonia móvel no segmento, como a Oi, com o Paggo, a Claro, por meio de parceria com o Banrisul, e a Vivo, por meio de acordo com a Itaucard.
Como resposta a esse movimento, a Redecard e a Visanet também investem em sistemas de mobile paymet para garantir seu espaço na disputa pelo novo modelo e manter seu domínio no mercado de pagamentos eletrônicos.
O diretor de operações e tecnologia da Redecard, Alessandro Raposo, defendeu o modelo da companhia e apontou que o sistema de mobile payment não vai decretar o fim dos cartões de plástico ou dos atuais terminais de ponto-de-venda (PoS, na sigla em inglês). Segundo o executivo, o novo modelo será um complemento e permitirá a massificação dos serviços financeiros. "É igual ao que ocorreu com o surgimento das compras pela web, que se tornaram complementares às vendas nas lojas físicas e um meio não canabalizou o outro", analisa.
Raposo ressalta que existem várias tecnologias para serem integradas ao sistema de pagamento eletrônico, sejam os celulares, sejam os sistemas contactless (sem contato), que utilizam a tecnologia Near Field Communication (NFC). Na opinião dele, porém, a grande dúvida que ficará na cabeça dos consumidores e empresas é onde estará o dinheiro. "O grande desafio está na integração das informações entre todas essas tecnologias possíveis", salienta.
O executivo revelou que, no Brasil, mais de 10 mil consumidores já utilizam o Phoneshop, sistema de mobile payment da Redecard, para realizar compras e que 350 mil PoS da empresa no país já estão adaptados para receber pagamentos por meio do celular. "É necessário permitir as duas opções ao cliente, deixando a cargo dele fazer a escolha de qual meio utilizar. Se esses modelos convergirem para um só, isso ocorrerá no futuro, não no curto prazo", comenta.
Por outro lado, Roberto Roberto Rittes, diretor geral do Oi Paggo, avalia que, apesar de não acreditar que os terminais PoS tradicionais sumam do mercado, os celulares utilizados como meio de receber pagamentos estarão presentes em mais estabelecimentos comerciais do que os PoS.
O executivo frisa que o aluguel dos PoS é muito caro, o que inviabiliza, em muitos casos, que micro, pequenos e até alguns médios estabelecimentos comerciais trabalhem com pagamento por cartão de crédito. "Isso já está acontecendo. Porém, para se tornar massivo, o produto tem de ser superior ao atuais cartões de crédito e será necessário criar uma nova bandeira", diz Rittes, ressaltando que entre os benefícios do mobile payment estão as taxas menores de uso pagas pelos lojistas e a maior praticidade e mobilidade para os clientes.
Entretanto, Rittes avalia que, num primeiro momento, o foco das operadoras que atuarem com mobile payment tende a ser marcar presença nos locais onde os cartões de crédito não chegam, ampliando as possibilidades de compras dos consumidores e massificando os serviços financeiros móveis de pagamento.
Já no entendimento de Marcelo Conde, presidente da Spring Wireless, existem ainda alguns desafios a serem vencidos pelo modelo de pagamento via celular no Brasil. Entre eles, o executivo cita a questão da segurança e confiabilidade, já que o mobile payment ainda precisa provar que é tão seguro como o sistema atual. Além disso, Conde também frisa que as taxas de uso pagas pelo consumidor e dono do estabelecimento do mobile payment têm de ser as menores possíveis. "Custo alto é uma barreira muito forte para a adoção do modelo", disse Conde.
Por fim, o executivo observa que para ter sucesso, o mobile payment terá de superar outro grande empecilho: garantir a mesma experiência de uso, independentemente do modelo de aparelho utilizado pelo cliente.
- Disputa por território