O cenário econômico e produtivo da indústria brasileira não alcançou sua melhor performance ao longo de 2023. O IBGE aponta que o nível de produção no mês de agosto deste ano, por exemplo, ficou 1,8% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,3% menor que o ponto mais elevado da série histórica de maio de 2011. Das 25 atividades analisadas na Pesquisa Industrial Mensal, elaborada pelo instituto, apenas 8 performaram acima do nível do período pré-crise sanitária.
No entanto, as expectativas para o desempenho da indústria em 2024 são mais positivas: economistas do Banco Itaú projetam um crescimento de 1,8% para o setor no próximo ano. Também são mencionados apoios financeiros e medidas governamentais que devem alavancar o avanço do segmento. Pensando nas perspectivas para 2024, alguns pontos merecem atenção dos players do setor industrial.
- Digitalização do chão de fábrica
O primeiro deles é a importância da ampliação da digitalização do chão de fábrica. O investimento tecnológico é fator fundamental para a diferenciação, qualificação e maior competitividade na indústria nacional. Isso porque, com automação, é possível obter uma gestão otimizada, com processos bem definidos e organizados e dados qualificados para a tomada de decisão, viabilizando planejamentos estratégicos de curto, médio e longo prazo. É fundamental desmistificar os receios em relação à tecnologia, deixando-a de encarar como gasto e passando a enxergá-la como investimento. Hoje, já há ferramentas de mobilidade a baixo custo que geram um impacto de alto valor agregado.
- Indústria no e-commerce
Outro ponto que deve ganhar destaque para o próximo ano é o avanço da presença de indústrias no e-commerce, em modelos de vendas B2C (business to consumer) ou D2C (direct to consumer). Em um cenário aquecido do comércio digital, muitas indústrias pulam etapas importantes a fim de obter um rápido sucesso e retorno financeiro. Porém, é preciso se atentar ao cumprimento da jornada necessária para uma boa atuação no ambiente digital e que, principalmente, não canibalize a operação existente.
É fundamental que as empresas façam um planejamento cuidadoso e analisem o grau de maturidade da operação, entendendo se é possível se adequar para atender um maior volume e a prazos mais bem definidos, por vezes mais curtos. Também é necessário definir estratégias para a entrada no varejo digital, entendendo quais produtos serão disponibilizados e em quais condições de entrega, organizando também toda a questão logística da atuação, que pode ser complexa.
Outro ponto importante, é avaliar o melhor canal para colocar em prática essa estratégia, se marketplace, e-commerce próprio ou ambos. Adotar ferramentas e sistemas para fazer a gestão administrativa de todos os processos, tendo um backoffice estruturado que qualifique o trabalho e a entrega, integrando ambos os modelos de comercialização da empresa, também é fundamental.
- ESG na indústria
Por fim, sigo destacando a importância da evolução da pauta ESG na indústria. Investidores, clientes, fornecedores e todo o mercado está atento às demandas relacionadas à sustentabilidade ambiental, governança corporativa e aspectos sociais das empresas – e isso também precisa ser realidade no setor de manufatura, que tem grande responsabilidade em todos esses aspectos. É fato que essa pauta passa por conscientização, capacitação das partes envolvidas e adaptação a regulamentações que estão em constante mudanças. E neste ponto, a tecnologia pode atuar para tornar as ações mais efetivas e bem planejadas.
Hoje, o mercado brasileiro já debate a Indústria 5.0 e o avanço de diferentes tecnologias, como a implementação de IA Generativa e outras inovações nas rotinas da manufatura. Porém, o que sempre digo, e sigo reforçando como premissa para 2024 é que é preciso ter uma visão de jornada, entendendo que à medida que a maturidade dos processos evolui, as empresas podem investir na sofisticação dessa digitalização até atingir a Indústria 4.0 – que começa a dar seus primeiros passos de verdade no Brasil.
O cenário pode parecer desafiador, porém empresas que adotarem uma abordagem ágil e adaptável estarão melhor preparadas para prosperar. A colaboração, a resiliência, a eficiência operacional e o compromisso com práticas sustentáveis serão fatores decisivos para o sucesso. O setor industrial está diante de um futuro promissor, e aqueles que souberem se adaptar e inovar serão destaque em um cenário inteligente, eficiente e consciente.
Angela Gheller, diretora de produtos de Manufatura da TOTVS.