Nuvem ou fumaça?

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O termo "cloud computing" tem sido usado para muitas tecnologias e soluções distintas, passando por SaaS (software as a service), e-business, Web 2.0, computação em grid, processamento remoto e computação sob demanda. Cabem neste mesmo cesto por exemplo, coisas tão distintas como a solução de CRM via Internet da Salesforce.com e a aquisição de capacidade de processamento com a solução EC2 ("Elastic Computer Cloud") da Amazon.com.

O fato é que a padronização de tecnologias, a evolução das soluções de virtualização, as arquiteturas orientadas a serviço, a redução dos custos de conectividade e o crescimento em escala do uso da Internet realmente geraram um cenário interessante para o desenvolvimento de soluções remotas e compartilhadas cada vez mais abrangentes. Ou seja, não se trata de um momento de grande ruptura como muitos parecem sugerir, mas sim de um processo de evolução contínua de tecnologias, soluções e processos que nos aproximam cada vez mais do conceito de "IT utility".

Pensar em soluções para suprir as necessidades de negócio de uma grande corporação, apenas conectando-se a uma "nuvem" de soluções a partir de um "terminal burro", da mesma forma em que se faz com uma tomada para suprimento de energia elétrica, ainda é uma visão muito distante da realidade. Porém, esta é mesmo uma tendência irreversível, que começou com algumas soluções simples mais voltadas às pessoas físicas, passando a soluções corporativas progressivamente mais críticas e/ou complexas.

Aqueles mais familiarizados ao mundo das operações de TI sabem que há muitas barreiras neste processo evolutivo. No aspecto de negócios, há sempre particularidades e características específicas de processos que dificultam a adequação a soluções padronizadas e compartilhadas. Só para ilustrar, existe algum caso conhecido de implantação de um sistema ERP em uma grande corporação que não passou por milhares de horas de customização? Mesmo do ponto de vista dos processos TI, questões como gestão de capacidade e performance, gestão de níveis de serviço, segurança de dados e escalada de problemas são de difícil adaptação neste contexto da "computação em nuvem". Soma-se ainda a necessidade de integração de dados entre os diversos sistemas e processos que podem estar fragmentados em soluções remotas distintas.

Muitos destes pontos na verdade, embora com nuances distintas, passam por alguns dos mesmos paradigmas que eram colocados há poucos anos como barreiras aos processos de "Outsourcing de TI" ou BPO ("Business Process Outsourcing"), digamos "tradicionais", e que hoje são uma realidade para a maior parte das corporações, seja por completo ou em algumas atividades específicas. Isto sinaliza que a curva de evolução de maturidade das ofertas de serviço baseadas em "cloud computing" está apenas em estágio inicial.

Muitas soluções já estão disponíveis e continuam a ser desenvolvidas neste modelo para ambientes de colaboração e produtividade pessoal, CRM, Billing e várias outras aplicações do tipo "software as a service". O conceito de "processamento sob demanda" é também algo que veio para ficar e estará presente não só em soluções pontuais via Internet, como também em "nuvens" proprietárias de grandes provedores de serviços de TI e até grandes corporações.

O maior cuidado neste período de transformação contínua e de experimentação de novos modelos deve evitar áreas de sobreposição com diferentes fornecedores e modelos de entrega de TI, complexidade de integração e de gestão dos níveis de serviço e até um potencial "bypass" da área de TI pelas unidades de negócio, gerando risco de perda do controle sobre a informação corporativa.

De qualquer maneira, tirando todos os excessos e até o "modismo" sobre o tema, os conceitos e potenciais mudanças envolvidos pela onda do "cloud computing" devem estar no nosso radar e ser pauta para discussão com nossa rede de parceiros e fornecedores de TI.

*Paulo Henrique Scrideli é Diretor de Tecnologia e Soluções da TIVIT

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