Jeff Bezos deixará o cargo de CEO da Amazon até o terceiro trimestre de 2021, afastando-se de sua função no gerenciamento do dia a dia da companhia. Apesar do anúncio ter sido aparentemente tranquilo, não deixou de causar frisson no mercado quando, de fato, a "ficha caiu". Afinal, a Amazon.com nunca teve outro presidente-executivo, e Bezos construiu, do zero, uma das mais bem-sucedidas empresas do mundo, com 1,3 milhão de funcionários, receita anual próxima a US$ 500 bilhões e um valor de mercado de US$ 1,7 trilhão.
Bezos não desfalcará totalmente o time, já que assumirá a função de presidente executivo do Conselho, onde pretende focar suas energias a novos produtos e iniciativas. Quem entrará em campo para substitui-lo será Andy Jassy, executivo brilhante e na Amazon há 23 anos, que tem uma forte reputação no mercado, além de contar com a confiança de Bezos. O futuro CEO foi responsável por inaugurar a era da computação em nuvem na companhia, que deu origem à Amazon Web Services (AWS), hoje segmento de hospedagem mais lucrativo da empresa.
A questão é se Jassy conseguirá imprimir o ritmo e manter vivo o espírito de reinvenção contínua, seguindo a metodologia vencedora "Day One" de Bezos: independentemente do tamanho, uma empresa deve se comportar como Startup e com visão de "primeiro dia", ávida por inovar e expandir suas operações aguerridamente.
Esse conceito traduz bem os tempos atuais em outros segmentos e mercados. Segundo um levantamento da Dell Technologies, realizado com 4,3 mil líderes empresariais de todo o mundo, nesse momento de pandemia, 79% dos respondentes disseram estar reinventando seus modelos de negócios. No cerne dessa disrupção está a transformação digital: 80% das empresas abordadas declararam ter acelerado pelo menos algum programa com foco na digitalização de processos em 2020. Movimento similar é observado no Brasil, em ritmo constante e orientado para o futuro, conforme mostra pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em que 83% das indústrias afirmam que precisarão de ainda mais inovação para sobreviver no pós-pandemia.
Com esse cenário de disrupção em todo o mundo, a expectativa é que o novo número 1 da Amazon não decepcione na sua próxima função, levando em conta que a AWS de Jassy responde por cerca de 60% do faturamento da companhia hoje, mas terá um trabalho árduo pela frente.
O fato é que a escalabilidade e o alcance da Amazon indicam que o futuro CEO enfrentará desafios significativos: rivais do varejo e Market place da China têm ganhado espaço rapidamente no mundo, além de grandes concorrentes que têm investido em modelo plataforma, como o Walmart, que têm a vantagem de usar suas próprias lojas como centros de remessa. Pontos de alerta para a era pós-Bezos na Amazon.
Pensando no mercado brasileiro, a Amazon, que chegou em 2019 e não divide números de seu negócio, concorre com grandes varejistas consolidadas como o Magazine Luiza, que registrou aumento de 148% nas vendas digitais em 2020, a Via Varejo (dona das Casas Bahia e do Pontofrio), com crescimento de 280% no segundo trimestre de 2020, e a B2W (Submarino e Americanas.com), que teve acréscimo de vendas online de 56,2% no terceiro trimestre.
Durante sua trajetória, Jassy terá também que inspirar as pessoas. Segundo o Seattle Times, apenas durante os três primeiros meses da pandemia, a Amazon registrou um turnover maior que dobro da média das indústrias de varejo e armazenamento os EUA, uma rotatividade que chegou a 100% para o período. Além das cifras e reinvenção, Jassy enfrentará a tendência de contratar e manter profissionais que buscam cada vez mais trabalhar em um ambiente seguro, desafiador e com um propósito com o qual elas se identifiquem. Na era digital, uma das responsabilidades do n°1 da Amazon certamente será estabelecer uma visão calcada em um sonho que seja desafiador o suficiente, mas consistente e factível para envolver também seus talentos nessa nova jornada.
James Rocha, diretor de Operações da Meta.