O quadro de distanciamento social provocado pela pandemia global de coronavírus representou um dos maiores desafios para a humanidade em sua história recente. No Brasil, essa condição não poderia ser diferente. Enquanto autoridades públicas buscavam por alternativas cabíveis de se enfrentar o vírus e amenizar o contágio, o cenário empresarial teve de readequar processos e reformular sistemas até então consolidados, a fim de garantir a continuidade de suas atividades. Não há como negar a complexidade do momento e como ele afetou o comportamento de líderes, profissionais e colaboradores, sem distinções.
No entanto, as sequelas não são apenas técnicas, ligadas diretamente a métodos trabalhistas. O indivíduo por trás de sua função teve de adaptar-se à uma nova realidade de trabalho, sujeito às adversidades de serviços remotos, ferramentas inovadoras, ambientes residenciais, entre outras características capazes de despertar empecilhos psicológicos totalmente naturais e condizentes com o perigo sanitário compartilhado por todos em decorrência do COVID-19.
O contexto herdado para a figura de liderança é propício à reflexão e análise do que se deve manter e aproveitar para a sustentação de um futuro operacional humanizado. Quais são os maiores aprendizados para a cultura das empresas? E o papel do líder?
Muitos podem não lembrar, mas o termo "novo normal" foi cunhado em 2009 para descrever como seria o mundo após a crise global da economia. Goste ou não do termo, com a conjunção das crises econômica e sanitária, ele voltou revigorado e imperativo. Por isso quero fazer um chamamento a reflexão. O que as empresas irão ressignificar? Quando e como? Eu acredito que a hora é agora e que a transição é inexorável.
Gestão de pessoas priorizando o que realmente importa
O choque para as relações interpessoais das empresas foi imediato, amplo e demonstrou a importância de uma comunicação acessível e embasada pela aproximação como exercício de empatia. Mais do que nunca, o ato de se confiar em seu semelhante para conduzir determinada tarefa, ou a compreensão do líder quanto à flexibilidade de se assimilar as características que cada profissional apresenta, são exemplos significativos de como o gestor pode se comportar.
Como esperar que o engajamento e a produtividade sejam preservados se não há nenhum tipo de respaldo ou preocupação de lideranças quanto à situação psicológica de seus semelhantes? A premissa pode parecer básica, mas deve ser incorporada na filosofia organizacional do negócio. Para transformar, antes de qualquer coisa, é necessário procurar pontos de melhoria e identificar as maiores lacunas deixadas pelo período de pandemia, começando pelas pessoas.
Trabalho remoto e a recepção tecnológica
Com a interrupção de atividades presenciais em grande parte das empresas, o trabalho remoto demonstrou-se uma alternativa eficiente para garantir a normalidade dos negócios. Não por acaso, deve seguir como tendência crescente no futuro pós-pandemia. O líder, sob a noção de que distanciamento físico não é motivo para erradicar a proximidade e o contato com os funcionários, precisou repensar meios de fortalecer a comunicação interna através de soluções e aplicativo digitais. Naturalmente, a preparação se estendeu para a recepção tecnológica, atribuindo novas particularidades no cotidiano empresarial.
A iniciativa deve partir de pessoas que transmitem confiança. Encabeçando a estratégia organizacional, gestores que compõem a cúpula de cima têm como encargo se atentar a ações cativantes e direcionadas para o alinhamento entre colaboradores, fomentando a mudança comportamental de forma contínua.
Transformação cultural já está acontecendo
Os dias caóticos dos últimos meses aceleraram o processo de adesão a conceitos de transformação cultural. Evidentemente, os motivos não foram os melhores, mas existe um grau de perspicácia em tornar esses problemas aparentes como oportunidades, para se valorizar tópicos que antes eram encarados com certa relutância. A vulnerabilidade de uma empresa não é somente um peso que impossibilita a expansão operacional, trata-se de uma condição comum e plenamente compatível com a instabilidade ocasionada por períodos conturbados. O que se retira de experiências como essas é o que realmente importa para o gestor.
Por fim, muito se discute sobre o cenário pós-pandemia. Ouso utilizar a frase como referência para lançar outro questionamento: como as pessoas se comportarão? Se é possível afirmar com segurança uma das várias tendências no âmbito empresarial, julgo o papel humano como determinante para a consolidação de uma cultura interna orientada a preceitos fiéis à humanização e sua influência nas relações de trabalho.
Como você enxerga a transformação cultural nas empresas após a pandemia de coronavírus?
Alessandra Bacci, head de Pessoas na eCOMEX-NSI.