Transformação digital avança também no setor público

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É inegável que a pandemia de Covid-19 acelerou a transformação digital de empresas em todas as partes do mundo. O que antes estava previsto para acontecer em meses ou anos saiu do papel em semanas, seja um e-commerce, uma política de home office e até mesmo a telemedicina.

Em geral, pensamos sobre a transformação digital sob o ponto de vista do setor privado; porém, o impacto vai bem mais além. Apesar de contar com menos recursos disponíveis para investimentos em razão do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos e menor flexibilidade orçamentária, o setor público vem se dedicando à digitalização de serviços, tendência que se acelerou a partir da pandemia de Covid-19.

No Brasil, o governo federal, que tem a meta de transformar 100% dos serviços prestados em digitais até 2022, já digitalizou mais de 50% deles, com economia estimada em R$ 2,2 bilhões ao ano, segundo os dados oficiais. Hoje não é mais necessário aguardar até 17 dias por uma carteira de trabalho – o documento é emitido na hora, por exemplo. Desde o início da pandemia, quase dois serviços passaram a ser oferecidos pela internet a cada dia.

Entre as infraestruturas de TI em alta no setor público destacam-se o colocation (data center terceirizado) e a migração de dados para a nuvem, que permitem obter mais capacidade com menor investimento e de forma mais rápida do que ampliar os data centers próprios (e antigos). É o que têm feito empresas como a Caixa e a Petrobras, instituições de ensino como a USP e órgãos como o Ministério da Saúde. Com a digitalização do SUS (Sistema Único de Saúde), a rede pública poderá criar uma linha do tempo de atendimento de cada cidadão, ampliando a eficiência do serviço. Usar com inteligência as informações coletadas é um dos maiores benefícios que a digitalização pode trazer, especialmente se a população é beneficiada.

Vejamos outro exemplo. Para expandir o uso de serviços compartilhados, uma prefeitura precisa identificar outros municípios com o mesmo problema para que possam trabalhar juntas em uma solução, poupando tempo, pessoal e recursos. Isso vale inclusive para ações dentro de um mesmo município envolvendo diferentes órgãos e secretarias. Assim como no caso da saúde, o caminho pode ser migrar parte da infraestrutura de TI para a nuvem, ou então para um centro de dados terceirizado onde seja possível realizar conexões diretas com parceiros e com as próprias provedoras de cloud.

Além da imensa capacidade de processamento e armazenamento de dados, a nuvem é flexível, de modo que o cliente paga pelo que ele consome. A Receita Federal tem picos de acesso nos meses de março e abril. Nos demais meses do ano, a demanda cai; ou seja, a instituição não precisa ter a mesma capacidade de processamento disponível, pois ela ficará ociosa. É como pagar a TV por assinatura de uma casa de praia que fica ocupada em dezembro e janeiro apenas. As soluções podem e devem ser moduladas de acordo com as necessidades do mercado.

A nuvem também é uma aliada valiosa nos planos de recuperação de desastres. Enchentes, incêndios e outras catástrofes podem atingir um data center; imagine o tamanho do dano causado se todos os dados estão armazenados em um mesmo local e sem backup. Em vez disso, é possível espelhar os elementos críticos de TI na nuvem, garantindo um retorno mais rápido das atividades.

A transformação digital transcende as diferenças entre os setores público e privado. Com os negócios cada vez mais interdependentes e habilitados para a nuvem, eles precisam alcançar um novo nível de confiabilidade, segurança e conectividade instantânea para se manterem competitivos e atenderem às expectativas dos usuários. Precisam acessar nuvens e dados em tempo real, por meio de uma conexão direta e segura, evitando a internet pública, que certamente não é indicada para o tráfego de dados sensíveis.

Manter todos os dados on-premises, ou seja, em data centers próprios, está definitivamente caindo em desuso. Segundo pesquisa do Gartner, 80% das empresas terão fechado seus data centers tradicionais até 2025. Em 2019, 10% delas já tinham adotado outros modelos de processamento de dados.

No entanto, ao planejar as novas soluções de TI, é preciso considerar as características e necessidades de cada serviço: grau de segurança, velocidade, latência, escalabilidade, entre outros, uma vez que há uma variedade de arquiteturas possíveis, com diferentes combinações (nuvem pública, privada ou híbrida; data center próprio ou terceirizado; conexão direta ou internet pública).

Passamos do momento de falar sobre transformação digital, seja no setor público ou privado – o momento é de partir para a ação.

Eduardo Carvalho, presidente da Equinix no Brasil.

1 COMENTÁRIO

  1. Na questão de serviços compartilhados, pegando como exemplo, são necessárias pessoas com habilidades humanas para fazer as conexões necessárias.
    Partir para ação não poderia também significar dar mais atenção aos aspectos humanos nas transformações?

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