Apesar do impacto negativo da pandemia de covid-19 na economia da América Latina, a líder em inteligência de mercado, serviços de consultoria e eventos para os mercados de tecnologia da informação, telecomunicações e tecnologia de consumo, IDC, projeta que, em 2020, o setor terá crescimento de 5,5%, em um cenário de dólar constante, e seguirá crescendo em 2021, com previsão anual de alta de 7,7%. Os dados foram apresentados durante o webinar "IDC FutureScape – Previsões para 2021 e implicações na região".
Ricardo Villate, vice-presidente da IDC para a América Latina, explicou que o desenvolvimento acontece porque a indústria de TI é, agora, um motor econômico. Ao contrário das recessões anteriores, os investimentos em tecnologia não desaceleraram tanto quanto a economia. Em 2020, o setor continuou crescendo.
"Para 2021, esperamos um aumento contínuo dos gastos com TI, com um crescimento médio de 7,7%, considerando um cenário de dólar constante, o que equivale a ver um crescimento em reais ou em moedas como pesos ou soles, por exemplo", disse.
Villate destacou que algumas das principais chaves para entender o desenvolvimento na região são: a transformação acelerada de tendências e situações que, segundo previsões, ainda levariam muitos anos e, em alguns casos, estão acontecendo em meses.
Para o vice-presidente da IDC para América Latina, a crise expôs algumas limitações nos sistemas de TI e as empresas tiveram que encontrar maneiras para promover o trabalho dentro de casa. Assim, se abriram oportunidades para que se expandissem, melhorassem sua posição competitiva e revolucionassem os setores.
Segundo Villate, a IDC fala sobre transformação digital na região há quatro anos, mas 2020 foi um ano de mudança de direção, onde a economia digital tem sido predominante, também impulsionada por uma retração da economia tradicional.
As vendas digitais de produtos físicos, por exemplo, estão crescendo a uma taxa rápida, impulsionadas pela migração para as compras on-line. Estima-se que 15 milhões de consumidores teriam feito sua primeira compra on-line em 2020 e que o e-commerce cresceu 30%, representando quase 6% de todas as vendas no varejo na região.
Dessa forma, a IDC prevê que a economia latino-americana seguirá em seu destino digital e 40% do PIB estará digitalizado até 2022.
Previsões para os próximos anos
1. A era da TI será centrada na nuvem. Até o final de 2021, cerca de 75% das grandes empresas na América Latina vão dobrar a velocidade da sua mudança para uma infraestrutura de aplicativos centrada em nuvem, em comparação com o que tinham antes da pandemia, e, em média, 35% desses gastos de infraestrutura serão relacionados à nuvem.
2. Aceleração de borda. Em 2023, metade dos investimentos em tecnologias de edge ou borda serão acelerados pelas reações às mudanças ocorridas no trabalho e nas operações durante a pandemia, além de acelerar os modelos de negócios para a maioria das indústrias na América Latina. A necessidade de fornecer infraestrutura, aplicativos e recursos de dados para pontos de presença estimulará a adoção de novas soluções de rede e de edge em nuvem, que têm respostas mais rápidas às necessidades dos negócios, além de ser a base para impulsionar a resiliência digital a longo prazo.
3. Híbrido por design. Em 2023, 60% das 5 mil maiores empresas da região vão se comprometer com a paridade técnica para uma força de trabalho híbrida por definição, e não por circunstância, facilitando o trabalho colaborativo, remoto e em tempo real. Em 2020, um novo mercado foi criado para espaços de trabalho digitais inteligentes, aqueles que conectam trabalhadores e locais de trabalho híbridos. O espaço de trabalho inteligente fornece uma visão personalizada e associada aos recursos necessários aos funcionários, incluindo acesso a especialistas e outros colaboradores.
4. Corrigir dívida técnica. As empresas terão que lidar com a dívida técnica acumulada durante a pandemia, que afetará 50% dos diretores de TI da América Latina até 2022, causando estresse financeiro, freio inercial na agilidade de TI e migrações "forçadas" para a nuvem.
Diante da contingência, muitos CIOs atropelaram protocolos normais de TI para implementar soluções digitais, às vezes literalmente da noite para o dia, o que, ao resolver problemas imediatos, criou uma dívida técnica com infraestrutura e sistemas que não são tão robustos, flexíveis e escaláveis.
Essa dívida será sanada quando a crise passar, mas, se não for controlada, se tornará um fardo insustentável para a área de TI, por manter sistemas frágeis que absorvem recursos para sua manutenção contínua, limitando a capacidade da empresa.
5. Resiliência digital. Em 2022, em resposta às novas condições, as empresas focadas na resiliência digital vão se adaptar às interrupções e escala de serviços 50% mais rápido do que as focadas apenas em restaurar os níveis anteriores de resiliência.
A pandemia destacou que a capacidade de se adaptar rapidamente e responder a interrupções de negócios não planejadas ou previstas foi determinante para o sucesso em uma economia cada vez mais digitalizada, em comparação com uma forte dependência de abordagens tradicionais, como continuidade de negócios e recuperação de TI.
6. Plataformas automatizadas. Em 2023, um ecossistema de nuvem que envolve análises em tempo real e controle de recursos será a plataforma fundamental para todas as iniciativas de TI e automação de negócios na América Latina.
As empresas precisam criar novas soluções automatizadas com base em uma plataforma adaptativa, autorregulável e centrada na nuvem, que pode ir a qualquer lugar e permanecer administrada de forma centralizada.
7. Extensão da IA. Em 2023, 25% das 2 mil maiores empresas do mundo vão adquirir pelo menos uma startup de software de IA para garantir competências diferenciadas e propriedade intelectual. No entanto, a América Latina enfrentará dificuldades para atender a esse mesmo tipo de demanda.
Haverá uma luta por inteligência artificial superior e o talento em dados se intensificará no curto prazo. Na região, entretanto, não há tanta oferta e o investimento em startups de IA é limitado. Isso colocará a América Latina em risco de perder competitividade.
A demanda por talentos de IA está crescendo com o resto do mundo. No entanto, a oferta de qualificação na região é insuficiente para atender a demanda. De acordo com um estudo de outubro de 2020 da IDC, os países da América Latina demandarão mais de 225 mil especialistas em IA e cientistas de dados entre 2020 e 2023.
8. Ecossistemas de TIC. Até 2024, 70% das empresas latino-americanas vão rever seu relacionamento com fornecedores e parceiros para melhor executar estratégias digitais e para a implantação generalizada de recursos e operações autônomas de TI.
Com a pandemia, veio a reinvenção dos modelos de negócios, incluindo a própria indústria de TIC. Em 2024, as complexidades operacionais associadas à alta demanda de Conexão dos funcionários, farão com que 25% dos orçamentos de conectividade na região mudem para soluções de comunicações como serviço para agrupar largura de banda, segurança, colaboração e serviços móveis.
9. A TI entra na economia circular. Em 2025, 50% das 5 mil maiores empresas da América Latina vão demandar materiais reutilizáveis nas cadeias de suprimentos de hardware de TI e estipular metas de neutralidade de carbono para instalações de fornecedores e menor uso de energia como pré-requisitos para fazer negócios. As empresas de tecnologia vão incorporar os princípios da economia circular em seus projetos de produtos e a experiência será o padrão. A busca por maneiras de maximizar o uso de recursos terá como alvo parceiros de alavancagem, que estarão sob maior escrutínio e sujeitos a padrões para garantir que sejam verdadeiramente sustentáveis e não apenas "verdes" em suas soluções.
10. As pessoas são importantes. Em 2023, mais da metade da força de trabalho híbrida e dos esforços de automação comercial ficarão para trás ou falharão por falta de investimento na formação de equipes de operações de TI / segurança / desenvolvimento com as ferramentas e habilidades certas. A IDC espera que o trabalho em casa permaneça em um nível mais alto após a recuperação, mas o desafio de longo prazo será acomodar um conjunto mais amplo e em constante mudança de locais de trabalho com recursos de tecnologia flexíveis.
Quando se trata de participar de um modelo de trabalho híbrido, o desafio para o CIO será garantir que suas próprias operações de TI e equipes de desenvolvimento não sejam "deixadas para trás".
A previsão é que, até 2024, para cobrir o déficit de desenvolvedores, 30% dos funcionários de grandes organizações latino-americanas com mais de mil funcionários terão alguma responsabilidade de desenvolvimento ou automação e chance de crescimento mais rápido em TI.