As empresas norte-americanas estão mantendo mais dinheiro em caixa, usando apenas uma parte pequena para aplicações no mercado financeiro, além de reduzir o pagamento de dividendos aos acionistas ao mínimo legal exigido. No fim do ano passado, o total represado pelas companhias do país atingiu US$ 1,64 trilhão, o que representa um aumento de 12% na comparação com 2012, até então o ano recorde de retenção de recursos pelas companhias privadas, segundo relatório da Moody's Investors Service, divulgado nesta segunda-feira, 31.
De acordo com a agência internacional de análise de risco, o contingenciamento foi liderado por empresas do setor de tecnologia, como Apple, Microsoft, Google e Verizon Communications. "A retenção de dinheiro em caixa pode ajudar as empresas a manter a classificação de crédito mais elevada e garantir que a dívida de curto prazo pode ser paga se houver oscilações ou interrupções nos mercados de capitais", diz o analista de crédito da Moody's, Richard Lane, no relatório, ao qual a Bloomberg teve acesso.
Segundo ele, elevados níveis de dinheiro em caixa, no entanto, podem atrair acionistas ativistas, que podem afrouxar as regras das diretrizes das agências de classificação de risco, ou incentivar as empresas a tomar decisões arriscadas, como aquisições caras.
A Apple, cuja retenção de dinheiro em caixa subiu de US$ 5,46 bilhões em 2004 para US$ 158,8 bilhões no ano passado, passou a manter 9,7% do caixa corporativo fora do mercado de capitais. A empresa, que restabeleceu a distribuição de dividendos em 2012, foi alvo de duras críticas do megainvestidor ativista Carl Icahn por não ter distribuído dinheiro suficiente aos acionistas. Icahn vendeu a sua participação na campanha em fevereiro, após ela ter intensificado as recompras de ações.
As empresas de tecnologia tinham retidos em caixa o total de US$ 309 bilhões ao fim do ano passado, mais do que o realizado em 2009, respondendo por 53% de todas as empresas não financeiras. Além disso, elas mantiveram US$ 450 bilhões no exterior — 47% do caixa total corporativo mantido fora dos EUA.
Brechas fiscais
As empresas têm colocado dinheiro em países com baixos impostos, aproveitando as lacunas do código tributário dos EUA. Empresas multinacionais com sede nos EUA têm acumulado US$ 1,95 trilhão fora do país, um aumento de 11,8% em 2013 ante o ano anterior, de acordo com registros da Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários dos EUA. Apenas três empresas americanas — Microsoft, Apple e IBM — responderam por US$ 37,5 bilhões do montante total contigenciado, ou 18,2% de aumento.
Os gastos de capital (Capex) das empresas atingiram US$ 869 bilhões e os pagamentos de dividendos totalizaram US$ 365 bilhões no ano passado, recorde dos últimos sete anos, enquanto que a recompra de ações e aquisições diminuíram, de acordo com a Moody's.