O agronegócio sempre foi destaque na economia brasileira e, durante a pandemia, esse papel se intensificou. Mesmo em meio aos desafios atuais, em junho a balança comercial registrou um superávit de US$ 7,46 bilhões no Brasil. Foi o melhor saldo comercial para o período desde 1989, e o grande responsável por isso foi o agronegócio, que teve crescimento de 23,8%, em comparação ao mesmo mês do ano passado. Esses dados evidenciam a força e o potencial do segmento para seguir avançando.
Nesse contexto de protagonismo, a atividade agrícola tem sido palco de algumas das mais importantes transformações em tecnologia. Assim como o motor a combustão foi o estopim da primeira revolução industrial, recursos como internet das coisas, inteligência artificial, realidade virtual e computação cognitiva trazem um novo conceito de trabalho e reestruturam a sociedade.
Dessa forma, o agronegócio vem adaptando sua estrutura para reforçar a competitividade e tornar-se mais produtivo e sustentável. Nossa geração tem sido impactada por uma série de inovações que ressignificam a ordem produtiva e ditam novas maneiras de fazer negócios, interagir e consumir. Esses são fatores que podem garantir a segurança alimentar das próximas gerações.
Podemos dizer que o agro é um dos segmentos que mais têm autonomia para ditar o ritmo de sua transformação digital. Devido à necessidade de gerenciar uma infinidade de variáveis, como condições climáticas, controle das áreas de produção, quantidade de água no solo, peso dos animais, entre outros fatores, o setor vem quebrando barreiras na adoção de novas ferramentas, e vemos um mercado ávido por soluções que garantam eficiência e qualidade na produção.
No entanto, para que a agricultura continue sendo relevante para a economia brasileira, os produtores precisam atentar às tendências que vão indicar o comportamento do mercado em um futuro próximo, pós-pandemia. Em meio à digitalização acelerada, quando falamos em agronegócio, podemos dividir as inovações em três grandes pilares: biotecnologia, tecnologia digital e tecnologia física. A junção dessas áreas é a chave para o crescimento sustentável.
A biotecnologia abrange áreas como melhoramento vegetal, mutação e engenharia genética, e auxilia o avanço da medicina veterinária, a obtenção de plantas transgênicas e sementes sintéticas, entre outras evoluções. Há mais de 20 anos, vimos o primeiro clone da ovelha Dolly quebrar paradigmas da genética. Hoje vislumbramos ferramentas que permitem mutações precisas no DNA, contribuindo para a variabilidade genética, sem ter a necessidade de gerar um produto transgênico.
Junto a isso, os avanços da tecnologia digital, ligados a big data, internet das coisas, conectividade, machine learning e inteligência artificial, permitem uma análise aprofundada sobre fatores que influenciam a produção. Por meio de sua aplicação, é possível monitorar todas as etapas da cadeia agrícola e gerar informações que garantam tomadas de decisão mais acertadas em relação ao período de poda nas plantações ou à idade de abate nos criadouros, por exemplo.
Já a tecnologia física, que compreende a área de robótica avançada, uso de veículos autônomos, maquinário de plantio, colheita e pulverização, drones, impressão 3D e desenvolvimento de novos materiais, é responsável pela eficiência no campo. Esse maquinário é capaz de otimizar as rotinas sem a necessidade de interação humana, o que acarreta maior agilidade e aumento no aproveitamento da produção.
Todos esses fatores constituem um ambiente de desenvolvimento constante, para que o agronegócio possa avançar sem comprometer o equilíbrio ambiental. O uso de novas tecnologias permite o aumento da produtividade sem interferir na área de produção, e as pesquisas científicas alavancam a criação de materiais renováveis, como o plástico formado com base em resina e etanol, por exemplo. Assim, a gestão eficiente desses diferenciais pode ser a saída para redirecionar a economia brasileira e garantir a transformação necessária no agro.
Paulo Sérgio Rodrigues, sênior principal da Infosys Brasil.