A cultura organizacional desempenha um papel fundamental na eficácia das iniciativas de segurança digital de uma empresa. Mais do que apenas um conjunto de regras e políticas, trata-se de uma visão coletiva que deve permear todas as camadas da organização de forma transversal. Um estudo conduzido pelo Grupo Daryus revela que 15% das organizações entrevistadas não investem em treinamento regular de cibersegurança. Na contramão, 84% consideram os colaboradores como a principal porta de entrada para ameaças cibernéticas.
Em linha com essa visão, o Gartner Group projeta que, até 2025, 60% das organizações terão sofrido falhas de segurança devido à falta de uma cultura robusta. Segundo o levantamento, muitas empresas ainda acreditam erroneamente que a proteção de dados é uma responsabilidade exclusiva da equipe de TI, desconsiderando a necessidade de uma abordagem coletiva e cultural para mitigar riscos.
Os números chamam atenção para a urgência de criar um ambiente em que o tema seja parte do DNA da empresa, reforçando a importância de uma estratégia holística. Embora certificações como a ISO 27001 sejam indispensáveis, elas representam apenas um ponto de partida. Isso porque, enquanto a conformidade regulatória se concentra em fornecer a base padrão, uma filosofia estabelecida em prol da segurança vai além, promovendo uma mentalidade proativa na qual todos se sentem responsáveis por zelar pelas informações mantidas internamente.
Isso deve ser visto como um investimento contínuo, integrando práticas de segurança aos comportamentos diários de todos os colaboradores. Para tanto, faz-se necessário estabelecer estratégias para incorporar a essa agenda na cultura empresarial, o que pode ser realizado por meio de diferentes iniciativas.
Treinamentos gamificados, por exemplo, utilizam jogos e simulações para ensinar os conceitos de cibersegurança de forma envolvente e prática. Assim, conteúdos que antes eram complexos podem ser absorvidos com mais facilidade, de maneira intuitiva, aumentando a retenção de informações.
Simulações de phishing também são uma prática indispensável para educar diferentes setores. Ao replicar ataques cibernéticos comuns, esses testes são capazes de auxiliar na conscientização sobre os riscos relacionados à engenharia social e à manipulação digital, aumentando a capacidade de identificar e evitar fraudes. Paralelamente, as simulações promovem uma comunicação aberta sobre segurança digital, desmistificando as ameaças e incentivando os colaboradores a relatar incidentes suspeitos sem medo de represálias, ao passo que permitem que a empresa identifique áreas de vulnerabilidade e ajuste suas medidas de proteção.
Por outro lado, algumas vezes, treinamentos padronizados não conseguem engajar todos os membros de uma equipe, pois não consideram as particularidades e desafios únicos de cada setor. Por isso, as empresas podem desenvolver programas de treinamentos adaptados para atender às demandas específicas de seus departamentos de forma contextualizada. A partir disso, é possível maximizar a relevância do aprendizado, tornando-o mais importante, significativo e aplicável ao dia a dia do trabalho.
Contudo, não podemos deixar de considerar, os desafios na implementação dessas ações. É importante ter em mente que os colaboradores podem ser podem ser relutantes em adotar novas práticas, e que essa resistência é natural. Toda mudança, de certa forma, é desconfortável. Uma comunicação clara e transparente sobre os benefícios é fundamental para tornar o processo mais fluido.
Ademais, manter o interesse geral em assuntos de cibersegurança é um desafio contínuo. Para não perder esse engajamento, criar uma cultura de reconhecimento e celebrar boas práticas é uma estratégia indispensável, ao passo que a participação da liderança nessas iniciativas demonstra a todos que o tema é uma prioridade estratégica, essencial para o sucesso das operações.
Por fim, mas sem esgotar o tema, podemos concluir que a segurança digital não é apenas uma questão de tecnologia, mas uma peça-chave da cultura organizacional que protege o futuro de qualquer empresa. A implementação de programas de treinamento e sessões de discussões interativas promovem um ambiente proativo em que todos os colaboradores se tornam agentes de proteção, contribuindo para a mitigação de riscos e a resiliência organizacional.
Eduardo Coutinho, CEO da Montreal.