Mudança de mindset: o Direito como ferramenta estratégica para impulsionar os negócios, a tecnologia e a inovação

0

Até há algum tempo, era comum o estigma que perseguia os advogados de maneira persistente: as demais áreas corporativas das empresas e o mercado como um todo enxergavam o operador do Direito como um obstáculo a ser transpassado para que os projetos acontecessem.

Mas esse cenário está ficando para trás. Atualmente, nota-se um movimento consistente na advocacia em que os advogados são incluídos como parte integrante dos squads de inovação.

E isso se deu, primeiramente, pela consciência da classe jurídica acerca da necessidade de repensar seu papel na sociedade. O tradicionalismo e formalismo acentuados que historicamente fizeram parte da advocacia criaram um abismo relacional com os demais setores da economia, especialmente em nichos dinâmicos e arrojados como o da tecnologia e da inovação.

Nota-se como forte tendência a busca de formações multidisciplinares pelos advogados. Isso porque os escritórios de advocacia e os departamentos jurídicos das empresas têm valorizado o perfil de advogados que além de entenderem sobre leis, regulamentações e documentos jurídicos, tenham conhecimento em outras áreas como tecnologia, cyber segurança, dados, design, publicidade, economia.

A diversidade de repertório cognitivo trouxe novos olhares e abordagens para o mundo do Direito que vive o seu momento mais interdisciplinar até aqui.

Nessa jornada, já é possível conferir efeitos práticos dessa mudança de mindset do mercado jurídico: os escritórios de advocacia e os departamentos jurídicos corporativos começaram a ter visibilidade como parceiros de negócios, ao lado do Comercial, Operações, Marketing, TI.

Os advogados têm sido reconhecidos como parte importante na construção da tomada de decisão nos projetos corporativos. O Direito assume um espaço de impulsionador de negócios, como uma ferramenta estratégica para viabilização de projetos com segurança jurídica e assunção de riscos de maneira informada e consciente, mediante um plano de medidas mitigatórias.

É importante destacar que a jornada de aproximação dos advogados às áreas de negócio passa também pela forma de comunicação que está sendo totalmente repensada. Jargões jurídicos e expressões em latim que antes, equivocadamente, eram associados à consistência técnica de determinado profissional do Direito, hoje, é no mínimo cafona.

Esse cenário deu lugar à aplicação de técnicas de legal design na construção de entregas que tenham o cliente/área demandante no centro de tudo. A regra, agora, é a utilização de linguagem simples e direta nos documentos, mantendo-se a consistência jurídica, mas sem a necessidade de se traduzir para as demais áreas de negócio.

Há, ainda, uma última camada de encantamento que vem sendo utilizada nesta virada de chave da área jurídica, o Visual Law. Trata-se de abordagem que utiliza recursos visuais para facilitar a compreensão de documentos jurídicos tais como pareceres, contratos, termos de uso, avisos de privacidade por meio de imagens, ícones, vídeos, infográficos, linhas do tempo.

Neste sentido, nem mesmo o Poder Judiciário se afastou desta tendência. Em pesquisa realizada com Juízes Federais em 2020 pelo movimento VisualLaw, identificou-se que 77,12% dos juízes são receptivos à adoção de elementos visuais nas petições.

Nesta era em que vivemos de dilúvio informacional, o tempo de retenção para o consumo de conteúdo nunca foi tão valioso e escasso.

Portanto, nos projetos de inovação, a participação de advogado que entenda do negócio, contribua assertivamente para a tomada de decisões com segurança jurídica e se comunique de maneira simples, pode se tornar um valioso ativo de diferencial competitivo para as empresas.

Gisele Karassawa, advogada e publicitária, Sócia-Fundadora e CEO do VLK Advogados.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.