Toda vez que o dólar está alto no Brasil é comum chover notícias sobre como vale a pena exportar mais, afinal de contas, para o cliente que está no exterior, nosso produto custa menos, e por isso é mais competitivo.
Essa visão é apoiada pelo Governo Brasileiro porque basicamente traz mais dinheiro para o País e pode ajudar a aquecer a economia interna que está bastante deteriorada por causa da crise atual, a qual o mercado nacional enfrenta uma das suas maiores dificuldades das últimas décadas. Uma prova disso é o constante rebaixamento no grau de investimento do Brasil pelas agências de classificação de risco, como a Moody's.
Falar dessa interpretação de maneira descomplicada faz parecer óbvio que exportar nessa época é um ótimo remédio para ajudar a economia e as empresas a se recuperarem. Mas será que é só esse remédio? É simples como a explicação para leigos acima?
Nem sempre, porque apesar do Governo fomentar novas políticas como o Recof (Regime de Entreposto Industrial sob Controle Aduaneiro Informatizado), Sped ou novos controles de Drawback, não é simples tornar esses benefícios uma realidade nas empresas. Sem contar a instabilidade política que é refletida nas regras, como por exemplo, o caso do Reintegra (Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras), que muda o tempo todo.
O fato é que exportadores que mantiveram suas operações, contatos e clientes ativos no exterior, têm um maior poder de resposta para redirecionar seus esforços do mercado nacional para o internacional, equilibrando suas contas. Mas aqueles que nos últimos anos deram total preferência para o mercado nacional, não têm essa mesma velocidade para responder, e ninguém volta a exportar da noite para o dia. Não é exatamente simples retomar a cultura e o mercado de uma exportadora.
Mas como todo olhar empreendedor, o importante é entender que quem pode fazer essa manobra nesse momento, deve fazer, e aumentar o foco no mercado externo e em suas exportações para sair da crise com resultados positivos, financeiramente falando, mas também preparado para aproveitar as oportunidades que virão depois.
Como as exportações não representam a maior fatia do nosso PIB, mesmo com o estímulo por causa do câmbio favorável, exportar não deve ser o único remédio para salvar toda a pátria.
Isso tudo gera uma percepção de que só a alta do dólar não vai ajudar o nosso País a sair da crise, e que para o Brasil sair dessa só exportando é algo um pouco remoto, até porque a onda cambial varia de acordo com fatores de todos os cantos do mundo, e achar que só o dólar alto vai salvar nossa economia, pode ser uma aposta perigosa porque o universo cambial é bastante volúvel e instável.
Enfim, se dividirmos os exportadores entre os que mantiveram suas operações no exterior e os que preferiram focar mais no mercado nacional, a conclusão final é que para esse remédio chamado exportação funcionar, será necessária a ajuda de especialistas externos ao contexto de negócios de cada empresa, seja no formato de consultoria, tecnologia ou as duas juntas, convergidas.
Alexandre Gera, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da Divisão de Aplicativos da Sonda IT.