A cidade de Curitibanos, localizada na região do Contestado, no centro geográfico de Santa Catarina, foi a escolhida pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) para a realização de uma Prova de Conceito (PoC sigla do inglês Proof of Concept) da Solução SmartAcqua. A iniciativa teve como objetivo comprovar a eficiência do software para a redução de perdas de água tratada e sua gestão. "Foi uma experiência muito positiva que nos permitiu descobrir que havia não apenas vazamentos – um a cada cinco km da rede – como também furtos de água", destaca José Heitor Maciel, coordenador da Agência Curitibanos da CASAN.
Com uma população superior a 40 mil habitantes, dos quais 92,11% em área urbana e 7,89% em área rural, Curitibanos é contemplada pela Bacia do Rio Uruguai, tendo como principal manancial o rio Marombas e abastecida por mais três poços e nove reservatórios, contando com uma rede de distribuição de 197 km de extensão. A cidade apresenta alto índice de perdas de água na distribuição (IPD) que é da ordem de 43,7%, e de 304 litros por dia de perdas por ligação (IPL). E justamente por essa razão, foi a selecionada para a prova de conceito. "É um dos maiores índices de perdas dentre os 195 municípios que têm o saneamento sob responsabilidade da CASAN", destaca Maciel.
Fabrizio Campos, engenheiro da SmartAcqua, explica que a solução foi usada para fazer o planejamento de todas as etapas dos trabalhos que seriam realizados em campo. "Recebemos os dados da CASAN relacionados a Curitibanos, que foram inseridos na Solução SmartAcqua e tratados pelos algoritmos de IA, cuja função é identificar, potencializar e georreferenciar as perdas de água". Com base nesse processamento foi obtido um diagnóstico e prognóstico da cidade como um todo e do sistema de distribuição para verificar quais eram as regiões e os bairros que deveriam ser priorizados.
O SmartAcqua permite identificar tanto as perdas físicas quanto as comerciais, mas na PoC de Curitibanos o trabalho se concentrou nas perdas físicas. "Utilizamos mapas de calor para o georreferenciamento, o que nos deu a visualização das informações no espaço geográfico que ajudaram no planejamento das ações", explica Campos. Após essa etapa, foram escolhidos sete pontos da cidade, três dos quais no bairro de Água Santa e quatro no de São Luiz.
Contando com a parceria da Canumã, que forneceu os loggers de ruído que foram instalados em alguns pontos dos dois bairros selecionados, e geofones, entre outros equipamentos, a meta era observar o consumo de água por ruas para localizar onde poderia haver vazamentos. "Nossa força-tarefa fez verificações por categorias de ocorrência para saber se havia vazamentos no cavalete (local onde ficam instalados os hidrômetros), ou nos ramais, ou ainda vazamentos na rede propriamente dita", detalha Campos.
No bairro de Água Santa houve seis ocorrências em três ruas, em que foram encontrados vazamentos no cavalete e nos ramais. No bairro de São Luiz foram identificados três pontos em duas ruas. "No total, identificamos que havia cinco vazamentos por km de rede. É uma média muito alta de perdas. Nos dois bairros identificamos um potencial de recuperação de 15.988 m³ de água por mês. E na cidade de Curitibanos como um todo o potencial de recuperação é de 52.488 m³ por mês", destaca Campos.
Na avaliação de Enéas Ripoli, CTO da SmartAcqua, o combate às perdas de água não é um trabalho simples. "Desenvolvemos nossa tecnologia também com o objetivo de unir todas as "ilhas" que existem dentro das empresas de saneamento. Na minha opinião, esse é o maior problema. Tem equipe que cuida do comercial, e outra do operacional, mas essas pessoas não se falam. Por isso reunimos todas as informações num só local. O uso da IA fornece assertividade porque os algoritmos processam todas as informações e têm grande capacidade de comparar dados que um ser humano não consegue, ou demora muito, ou a qualidade do trabalho não é boa", destaca.
Para Andréia May, engenheira sanitarista da Comissão de Gestão de Perdas da CASAN, que coordenou a realização da PoC em Curitibanos, há negacionismo em vários setores da economia e inclusive no saneamento, quando se refere a perdas de água. Ela concorda com Ripoli sobre a falta de vinculação entre as áreas comercial e operacional nas empresas de saneamento.
"Cada lado atua de forma isolada e assim não se atinge os resultados esperados, ou os resultados conseguidos são por tempo limitado. Ficam os dois lados brigando ao invés de trabalharem em conjunto. Com a Solução SmartAcqua conseguimos finalmente unir os dois lados para termos uma visão total do município", afirma Andréia. Na sua avaliação, há várias soluções para a área de saneamento, mas muitas delas são caseiras, não abrangentes e não permitem integração com outros sistemas.
Hélio Samora, CEO da SmartAcqua, destaca que todo investimento em tecnologia só compensa se ele se pagar. "Para isso, nossa solução dispõe de um módulo para fazer o estudo de viabilidade econômica, que permite analisar, por exemplo, se em determinada situação valeria a pena trocar dois km de tubulação, ou colocar redutores de pressão, entre outras opções". Samora explica que a Solução SmartAcqua pode ser integrada a qualquer sistema e inclusive, na pior das hipóteses, importar dados de uma planilha Excel. Mas para a PoC não foi feita uma integração com outros sistemas porque a iniciativa teve duração de 90 dias e não haveria tempo hábil para isso.
Ripoli ressalta que no saneamento cada ação que é feita pode se perder no dia seguinte se não houver uma gestão. "É um ciclo operacional prático que aprendi em 25 anos de atuação na área de perdas e que foi transformado nessa solução com alta tecnologia. Nós não nos preocupamos com outras coisas a não ser com as perdas de água. Perdas físicas e comerciais requerem vigilância constante, gestão e entender o que está acontecendo todos os dias", completa. Segundo o CTO, além da eficiência, toda companhia de saneamento tem que se preocupar com o bem-estar das pessoas porque elas sofrem quando chegam em casa no final do dia e não tem água. E solucionar esse problema passa por combater as perdas de água.
Para Heitor Maciel, o SmartAcqua é uma arma que pode ajudar bastante no trabalho de combate às perdas de água. "Além de vazamentos a cada cinco km que identificamos com a solução, ainda temos muito trabalho a ser feito, porque Curitibanos possui redes de água com 40, 50 anos de idade. São ligações também muito antigas. O combate às perdas hoje é nosso foco e é algo que tem que ser feito continuamente. Temos que nos organizar mais para trabalharmos nesse sentido e realmente chegar à eficiência. O primeiro passo já foi dado com o PoC e foi muito importante".
Andréia completa fazendo um agradecimento à SmartAcqua por ter oferecido o seu software para essa iniciativa. "Eles não pouparam esforços. Sua equipe foi para Curitibanos numa época de muito frio e o pessoal fez um acompanhamento e uma integração muito boa conosco, que continua até hoje, embora a prova de conceito já tenha terminado. Continuamos conversando para a melhoria do saneamento", completa. Desde 2011 Andréia trabalha na área operacional da CASAN atuando principalmente no planejamento operacional, coordenação de equipes e redução de perdas de água.
A CASAN é responsável pelo saneamento de 195 municípios de Santa Catarina (66% desse estado) e um do Paraná, atendendo a mais de 2,8 milhões de habitantes, e está lidando atualmente com 39% de perdas de água (SNIS 2020/IN049 – físicas e comerciais). Se esse índice for reduzido para 25%, conforme estipula o novo marco regulatório do setor, a companhia poderá ter um ganho potencial de R$ 210 milhões por ano e ter água para abastecer adicionalmente até 570 mil pessoas nos municípios em que atua.