Em tempos de discussões acirradas sobre a inteligência artificial, tenho pensado cada vez mais na potência da inteligência emocional. Os autores do livro "The CEO Next Door", sucesso nos EUA, Elena Botelho e Kim Powel, entrevistaram 2600 líderes para entender quais as características em comum entre eles e quais suas receitas para o sucesso. Dentre os entrevistados, somente 7% teve uma educação de primeira linha e 8% nem chegou a se formar na faculdade. Eles perceberam que o que essas pessoas têm em comum envolve muito mais do que a formação acadêmica ou inteligência fora da média. Envolve, justamente, inteligência emocional.
Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que os líderes de sucesso são confiáveis e estabelecem relações e espaços de confiança com seus times. Isto é, eles valorizam as competências de cada membro da equipe, promovendo colaboração, comunicação e conexão entre as pessoas. Isso vem ao encontro da definição de líder democrático, cunhada pelo jornalista e psicólogo, especialista em inteligência emocional mundialmente reconhecido, Daniel Goleman.
Goleman identificou uma série de perfis de liderança, alguns mais desejáveis e outros que a maioria de nós já cruzamos por aí, mas que gostaríamos de nunca ter tido o desprazer. O líder democrático é um deles. Este tipo de gestor compartilha as questões com sua equipe e reflete em conjunto sobre as decisões a serem tomadas. Isso se dá por meio de um ambiente de respeito e comprometimento – em especial, em equipes que possuem alto nível de maturidade – que favorece que as pessoas se engajem e participem.
Na minha carreira como executivo e como CEO, percebo que tenho tentado caminhar nessa trilha. Eu tenho convicção de que não sei tudo, por isso, me cerco de pessoas que têm saberes complementares e diversos aos meus. Seria uma tolice imensa não compartilhar problemas e decisões com pessoas tão competentes, que têm a capacidade de enxergar pontos e desenhar soluções que eu, sozinho, não consigo identificar. Para isso, é preciso muita conversa, muita escuta e – concordo com os pesquisadores – uma via dupla de confiança.
Porém, em momentos de crise ou quando alguma decisão precisa ser tomada com rapidez, como dar espaço para tantas vozes, valorizá-las e considerá-las? Como manter o caráter democrático e, ainda assim, ser ágil e assertivo? Quando a situação aperta e a urgência grita, é fácil deixar o ímpeto autocrático tomar conta e decidir de maneira "top down". Bem, se você já caiu nessa cilada, preciso te contar que você não está sozinho. O problema é que isso abala a relação de confiança entre líderes e seus times, porque mostra que "na hora do vamos ver" quem decide é quem tem a cadeira mais alta.
Obviamente, já me vi nesse lugar e percebi que o retrocesso nos laços relacionais é considerável. Além disso, notei também que, muitas vezes, se tivesse ouvido mais alguém, eu teria tomado uma decisão melhor. Por isso, ao longo dos anos, tenho me esforçado para driblar essa armadilha e manter a essência democrática sem perder a assertividade. Quando algo urgente surge, trago para perto uma ou duas pessoas que possam compor comigo um pensamento crítico da situação para, então, decidirmos o que fazer. Geralmente, são as pessoas que mais entendem daquele assunto ou que já estão envolvidas no processo de alguma forma. Mesmo que seja rapidamente, troco ideias, compartilho percepções e reflito sobre diferentes argumentos para, assim, bater martelo.
Ao dizer isso, não estou fugindo da minha responsabilidade como líder. Sei que a palavra final é minha e que eu seguro a caneta que sacramenta as decisões. Mas minha experiência mostra que a construção coletiva é mais rica e sábia do que atitudes individuais. Por outro lado, também entendo que algumas decisões não precisam mais da minha chancela e, por isso, confio que o time responsável – em especial, seu gestor – é capaz de chegar a uma solução sem minha interferência. Como dizia Steve Jobs, de que adianta contratar as melhores pessoas se você precisa continuar dizendo a elas o que fazer?
Controlar a ansiedade e dar espaço para que as pessoas sejam suas melhores versões, sem medo de serem tolhidas, exige que trabalhemos o ego e confiemos no processo. A complexidade das situações nos faz oscilar em graus diferentes da liderança democrática, porém, o que importa é que essa essência permeie a maior parte dos desafios e seja a linguagem que conecte você aos seus times.
Fabrício Oliveira, CEO da Vockan.