O start dos negócios na jornada multicloud

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Há algumas décadas, o termo jornada tem sido bastante aplicado ao dia a dia dos negócios relacionado, principalmente, à adesão de novas tecnologias nas organizações. O substantivo – que define um percurso composto de múltiplas  etapas em busca de um objetivo – é o que melhor se encaixa para descrever o processo de migração da TI tradicional, focada em estabilidade e eficiência, para a TI fluída, na qual agilidade e inovação são as moedas mais valiosas.

A mudança de um estágio para outro dentro da TI não é um passo simples. Trata-se de uma viagem, de uma verdadeira jornada pelo vasto universo da tecnologia, que hoje oferece uma infinita gama de possibilidades. Tendências  em ascensão, como a nuvem híbrida e a multicloud, são apenas alguns dos  instrumentos de alavancagem para a transformação e ganho de agilidade. Implementar essas soluções e mudar sistemas e comportamentos para utilizá-las em sua potência máxima, no entanto, requer clareza, método, persistência e, principalmente, alinhamento com o negócio.

A adoção de nuvens, sejam públicas ou privadas, por exemplo, já é uma realidade em grande parte das empresas. Porém, nem todas as organizações têm clareza do que pretendem com essa implementação, definiram o método a seguir ou conseguiram conectar a utilização dessas soluções com os objetivos do negócio. Outras ainda falham em persistir na jornada quando começam a enfrentar os primeiros desafios. Como em qualquer viagem, é possível corrigir rotas e conhecer o caminho ajuda muito nesse processo.

Definindo uma direção

Todo primeiro passo na vida, seja em decisões pessoais ou profissionais, exige clareza, e para as mudanças de paradigmas na TI não é diferente. É preciso iniciar compreendendo o contexto do negócio e respondendo a questões básicas que envolvem desde a definição de metas e esforços para conquistá-las até a análise da infraestrutura disponível e investimentos. Ou seja, é necessário saber exatamente o papel da TI como suporte dentro do negócio, enxergando-a de forma ampla e não somente como um "silo".

A etapa também envolve compreender quais são os resultados esperados com a adoção da nuvem. Se a resposta for implementar porque todo o mercado está usando, sinal amarelo. Apesar de ser benéfica para todas as empresas, independente de porte, setor ou nível de maturidade digital, a nuvem precisa ser integrada à TI das organizações com um propósito, a fim de auxiliar nas demandas do dia a dia e melhorar processos.

O comprometimento da organização e do time também deve ser considerado. Como toda jornada, o resultado não será atingido de imediato e será necessário empenho de todos. A equipe, em suas mais variadas camadas hierárquicas, precisa estar aberta a mudanças, apta a viver uma revolução cultural e comportamental para se adequar às transformações que essas tecnologias impõem. O conhecimento e a motivação para a implementação da nuvem, ou de qualquer outra ferramenta, não podem estar restritos à direção ou à gerência. É fundamental que sejam compartilhados com o operacional, grande motor que empurra (ou emperra) a adoção.

Trilhando rotas

Definidas as direções e compreendidos os "porquês", é hora de seguir para a próxima etapa da jornada, na qual se encontram os métodos e estratégias que serão utilizados para adotar a nuvem de forma eficiente, organizada e padronizada. Embora não haja uma receita de bolo, há dicas que valem para qualquer organização. A primeira – e talvez mais fundamental de todas – é priorizar pessoas. Quem realmente vai determinar o sucesso (ou fracasso) da adoção da nuvem são as pessoas e não as ferramentas.

Outro ponto relevante envolve a experimentação, já que há uma gama enorme de diferentes processos e ferramentas envolvidos na migração para nuvem. É muito difícil, portanto, determinar sem algum nível de experimentação quais serão mais adequadas para a realidade de determinada empresa. Adotar um processo que alie experimentação e rápido feedback ajuda a determinar com mais segurança e assertividade o que deverá ser usado em cada jornada.

Abrindo caminhos

A caminhada para cloud requer adotar várias tecnologias novas. Todas as nuvens públicas oferecem uma plataforma de serviços que auxilia esenvolvimento e entrega de aplicações, conhecida como PaaS (Platform as a Service). Essas ferramentas são, muitas vezes, tentadoras, pois de fato incrementam a produtividade e acrescentam uma série de facilidades no desenvolvimento de aplicações.

Contudo, é preciso entender sempre se, ao adotar determinada ferramenta do provedor de cloud, a empresa não será "aprisionada" neste provedor, o chamado lock-in de serviço. Para evitar esse tipo de surpresa, vale buscar e adotar soluções open source, desenvolvidas por comunidades abertas e portáveis para qualquer nuvem ou infraestrutura. A maioria das ferramentas open source tem procedimentos e automações já prontos para instalação nas principais clouds.

O modelo de operação para a nuvem também precisa ser distinto. O ideal é não trabalhar com a cloud da mesma maneira que a empresa trabalha no datacenter on-premise. Administrar um ambiente na nuvem é, ou deveria ser, diferente de administrar um ambiente de virtualização tradicional.

Trajetos cruzados

A infraestrutura legada pode (e deve!) ser integrada com a infraestrutura em nuvem, mas sem que nenhuma perca sua autonomia. Com frequência, empresas desejam utilizar nuvem como transbordo de seus datacenters locais. E não há problema algum. Mas é necessário tomar cuidado para não criar acoplamentos entre serviços on-premise e serviços da nuvem de forma que haja dependência entre eles, sob pena de enfrentar problemas de escalabilidade e disponibilidade.

A jornada ainda pede a criação de critérios claros para a migração de  aplicações para cloud. São diversas estratégias disponíveis, como lift and shift, modernização, rebuild ou até mesmo troca por um serviço pronto via SaaS. Cada aplicação precisa ser analisada, a fim de encontrar a maneira adequada para a migração. Um critério único para todas não será eficiente.

Ciclo contínuo

A viagem pela transformação da TI tem ponto de partida, um ponto de chegada imaginado (o objetivo definido com clareza), mas nunca um ponto final. É um ciclo contínuo, uma jornada que permite mudanças de rota, trocas de referência, adaptações e melhorias. O importante é aproveitar a beleza dos aprendizados pelo caminho, a troca de experiências, os contextos e, acima de tudo, a oportunidade de conhecer e valorizar pessoas.

Tecnologias são importantes e a evolução é fundamental. Mas no start dos negócios na era multicloud e na continuidade sustentável dos projetos de qualquer organização, as pessoas são e sempre serão o principal ativo a ser observado.

Giovanni Fontana, consultor de cloud sênior na Red Hat Brasil.

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