No atual cenário de início da retomada econômica do Brasil, diferentes empresas estão buscando formas de crescer, alcançar novos públicos e se tornar mais valiosas. O relatório Focus aponta que o país deve crescer aproximadamente 2,57% esse ano e as previsões de que a Selic deve continuar em 6,5% não trazem perspectiva de crescimento acelerado no consumo. Logo, é necessário pensar cada vez mais em formas de rentabilizar os negócios sem necessariamente contar com um consumo expressivamente maior.
Esse crescimento, como muitos já puderam perceber, passa pelo investimento em tecnologia. Mas, a diferença entre quem realmente está ganhando vantagem competitiva versus quem está apenas ganhando produtividade passa por um ponto que vai além de técnicas conhecidas no mercado, tais como incorporar robôs e otimizar fluxos de trabalho: é necessário migrar a estratégia de negócios do modelo analógico para um primariamente digital.
Provas do sucesso que esse novo modelo pode proporcionar no varejo brasileiro estão aos olhos de todos: Magazine Luiza e Amaro, por exemplo. Com um olhar atento ao consumidor e disposição para transformar os modelos de negócio atuais, conseguiram colher bons frutos. Além da popularidade, a gigante de eletrodomésticos, por exemplo, conseguiu aumentar em mais de 15.000% o valor de mercado da companhia no período de 2015 a 2018.
Resultados como esse estão apoiados na escala que o modelo digital proporciona. Enquanto companhias analógicas ainda estão preocupadas em fazer a receita aumentar focando somente no produto que já oferecem – aumentando a rede de atuação e investindo num estoque diversificado, por exemplo – empresas digitais conseguem explorar novas fontes de receita a partir do modelo de negócio atual, alavancando entre outros um ecossistema de parceiros, e toda a escala dos canais digitais.
Em um ambiente que muda cada vez mais rapidamente, a atenção ao consumidor e ao ambiente macroeconômico é fundamental, especialmente no varejo. E isso, é claro, vai muito além de febres instantâneas como os chatbots. Lojas de roupas, por exemplo, podem alavancar a oferta de serviços financeiros, investir em novos programas de relacionamento, cashback e na própria oferta de crédito aos consumidores, com o potencial até de oferecer taxas de financiamento relativamente menores do que empresas financeiras, por exemplo.
Contudo, atingir o nível de maturidade para analisar os negócios sob essa nova perspectiva ainda está longe ser um senso comum. Em uma linguagem técnica: sistemas legados, pilhas de software, ERPs, dados fragmentados entre múltiplos sistemas, camadas de middleware construídos para o mundo analógico são apenas alguns exemplos de entraves atuais para o avanço do modelo digital nas companhias brasileiras. Mudar o mindset e estabelecer uma cultura orientada ao digital são fundamentais.
Não é difícil ver o papel do departamento de TI em segundo plano, trabalhando no modo reativo e esperando problemas acontecerem para serem capazes de tomarem decisões. Ainda hoje, a máxima de que "80% do orçamento de tecnologia é gasto com manutenção" ainda parece persistir.
Enquanto isso, empresas que já assimilaram a necessidade de mudar a forma de venderem seus produtos e serviços com o máximo de inteligência e o mínimo de burocracia – fintechs, por exemplo – nadam "de braçada", criam novos modelos de negócio e ganham share de mercado com serviços eficientes, infraestrutura otimizada e custos reduzidos. Para liderarem este processo de transformação as empresas terão que conhecer muito bem seus clientes, trabalhar de modo eficiente com dados, analytics, inteligência artificial e entregar produtos e serviços extremamente personalizados.
É preciso estar atento. Com consumidores cada vez mais exigentes, o espaço para serviços e modos de negócio analógicos tendem a perder cada vez mais espaço na sociedade global. Empresas que não forem capazes de investir em remodelagem de suas áreas de negócios, para obterem ganhos de escala através de modelos digitais e baseados em plataformas, tendem a desaparecer em breve.
Os benefícios são vários e com certeza vão além do Brasil que é possível projetar em curto prazo. Agilidade e eficácia trazem mais transparência para as companhias e são fundamentais para medir o impacto de suas ações e estratégias em longo prazo. E para tal, a tecnologia passa a assumir um papel decisivo dentro das organizações. A própria Magazine Luiza é um excelente exemplo de companhia que se auto-intitula "Uma empresa brasileira, que desenvolve tecnologia e que tem o varejo na alma."
O digital é mais do que uma alternativa para gerar mais produtividade. É a inovação capaz de impulsionar a criatividade de um país tão rico como o que vivemos, gerando resultados e proporcionando às empresas uma nova alternativa de crescimento.
Davi Cunha, head de Digital Banking da Sciensa.