Há nove edições, abordo nesta coluna as transformações da "Diversidade, Equidade e Inclusão" no trabalho, em especial em relação às pessoas com deficiência. Hoje, o tema está em ascensão e ganhou valor estratégico nas empresas. Observamos o aumento das ações e dos quadros de colaboradores que representam marcadores sociais (pessoas com deficiência, LGBTQIA+, mulheres, negros, profissionais 45+, entre outros).
Experimentamos a interação com uma sociedade mais 'letrada' e empenhada em realizar e cobrar ações, mas que ainda tem muito 'chão para percorrer'. Com base no conhecimento já adquirido, proponho uma reflexão: com quantas pessoas diversas você trabalha? Como sua empresa está estabelecendo conexões, convivência e aprendizados com os diversos marcadores?
As respostas refletem o comportamento das empresas e o que podemos esperar delas. Somos quase 8 bilhões de pessoas no mundo, com características diversas, visíveis, invisíveis, mutáveis e imutáveis. Para ser diverso é preciso respeitar, valorizar e reconhecer as diferenças.
Ainda é preciso avançar no mapeamento dos marcadores sociais no Brasil, mas sabemos que, um quarto da população (cerca de 46 milhões) tem algum tipo de deficiência. Infelizmente, o último Censo do IBGE (2010), ainda não mediu o tamanho da população LGBTQIA+, portanto não conhecemos o tamanho dessa população ao certo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015), até o ano de 2050, o número de pessoas acima de 60 anos no mundo chegará a 2 bilhões. O Brasil está em 5º lugar entre os países com populações seniores do mundo. Em 2030, terá mais pessoas maduras que jovens de zero a 14 anos.
Portanto, é impossível um brasileiro viver sem cruzar com representantes desses marcadores sociais em algum momento. Entre os grupos, o ponto de congruência está em um tema específico: a necessidade de promover a inclusão.
A mistura das diferenças tem se comprovado benéfica para os ambientes corporativos. Para inovar, para criar e para atender, todo mundo precisa ser considerado. O exercício de observar a diversidade ao nosso redor tira da invisibilidade representantes de marcadores sociais. Um desses grupos é o dos profissionais com mais de 45 anos.
De acordo com Cris Sabbag, uma das maiores especialistas no tema 45+ no país, o mercado decreta o fim das carreiras desses profissionais e atribui a eles a incapacidade laboral e social, contrariando o que a ciência já comprovou: aos 50 anos, o cérebro humano está em plena atividade de cognição. A capacidade de aprender e se desenvolver não finda. A experiência, o conhecimento tácito adquirido e a maturidade trazem ainda mais valor às suas entregas.
As crenças limitantes, formadas por uma cultura ultrapassada, insistem que as pessoas mais velhas não "funcionam mais para o trabalho". Segundo Cris Sabbag, a atividade cerebral é como um músculo. Quanto mais desenvolvido, mais atuante.
Estudos mostram que pessoas mais velhas realizam determinadas tarefas intelectuais tão rapidamente quanto as mais jovens. Ao comparar o desempenho de crianças, jovens, adultos e idosos na execução de uma tarefa que exige fluência verbal e raciocínio, Roger Ratcliff, psicólogo da Universidade do Estado de Ohio, nos EUA, e estudioso do tema, identificou diferenças de tempo insignificantes nas performances entre as diferentes faixas etárias.
Além disso, ele percebeu que, a partir dos 30 anos, as pessoas são mais preocupadas com a precisão de suas escolhas; elas não querem cometer erros. À medida que são mais treinadas na atividade, tendem a atingir velocidades maiores em sua prática. Gail McKoon, especialista que divide com Ratcliff algumas dessas pesquisas, assegura que é um mito achar que adultos mais velhos necessariamente têm um cérebro mais vagaroso.
Evidente que não podemos ignorar o efeito do envelhecimento no processo cognitivo, mas não se trata de uma equação pronta. É preciso considerar que a geração 45+ está motivada, quer aprender, preza pela sua autonomia e se sente muito atuante para ser descartada. O rótulo de desatualizada não combina com ela.
Juntar essa geração aos jovens que estão começando a vida profissional e as demais gerações que estão ativas é uma oportunidade saudável e benéfica para as empresas. O que seria das empresas na pandemia, sem a vivência de pessoas que já passaram por tantas outras crises?
Logo não haverá tantos jovens para ocupar todos os cargos demandados pelas empresas. A ?força de trabalho sênior será uma alternativa. Isso tem provocado empresas a planejarem um futuro mais atuante para esses profissionais. O mundo está vivendo mais.
O desafio da inclusão, no entanto, está no combate ao seu maior inimigo: o comportamento opressor chamado capacitismo, e o etarismo, que avaliam o profissional pela sua idade, pela sua deficiência e não pelo seu desenvolvimento, por seu talento.
O que se espera é que a inclusão não seja mais necessária porque será um processo natural da convivência interrelacional da humanidade. Incluir não é somente dar emprego. É garantir oportunidades e respeito a todos. Diversidade é um fato. Inclusão será sempre uma escolha!
Carolina Ignarra, CEO e fundadora da Talento Incluir.
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Quanto mais se parar para contar e responder a essa pergunta do título, menos igualdade e mais 'separatismo' haverá. Não deveríamos nos preocupar com "quem é diverso" (putz, tem até termo para isso agora), e sim com a qualidade de nossos relacionamentos no trabalho – isso transcende e independe de cores e origens…