O estrondoso sucesso da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do Alibaba na Bolsa de Nova York, que levantou quase US$ 22 bilhões, com as ações precificadas a US$ 68, no topo da expectativa, não apenas tornou Jack Ma a pessoa mais rica da China e um dos bilionários do mundo, mas deve também facilitar para que ele coloque em prática seu ambicioso plano expansionista.
Em entrevistas recentes, o executivo nunca escondeu que, além de expandir seus negócios nos Estados Unidos, a meta é conquistar a Europa e outras regiões, dando a entender que até mesmo a América Latina — mais especificamente o Brasil — estaria nos planos.
Nos 15 anos desde que Ma fundou a empresa em seu apartamento de um quarto, o Alibaba tornou-se responsável por quatro quintos de todo o comércio online realizado na China, a segunda maior economia do mundo. "O caminho natural agora seria a busca por novos mercados", avalia Pedro Guasti, diretor-executivo da e-bit, da empresa de monitoramento de comércio eletrônico.
Para ele, no entanto, a entrada do gigante chinês de comércio eletrônico no mercado europeu faz mais sentido no médio prazo, até porque com a abertura do capital a pressão dos acionistas por crescimento e lucro deve aumentar. Por isso, apesar de o Alibaba já ser o sétimo maior site de comércio eletrônico do Brasil em audiência, segundo a Comscore, à frente de nomes tradicionais do varejo brasileiro como Magazine Luiza, Livraria Saraiva, Centauro e Dafiti, Guasti acha que montagem de um marketplace [shopping center virtual] no país pelo grupo chinês não é muito plausível, ao menos no momento.
Ambiente complexo
"Os gestores do Alibaba certamente estão olhando para o país, já que o Alibaba é o sétimo maior e-commerce em audiência. Mas daí a montar uma operação local a distância é longa. Eles sabem que não é fácil operar aqui, pois a carga tributária é alta, há problemas de infraestrutura e logística, o ambiente de negócios é complexo, além do chamado custo Brasil. E isso tudo tira a competitividade dos produtos que o site comercializa", analisa Guasti. Para ilustrar, ele cita os casos da Amazon.com, que iniciou sua operação no Brasil no ano passado, e da japonesa Rakuten, que adquiriu 75% da brasileira Ikeda para operar no Brasil. "Ambas estão se deparando com uma série de dificuldades, e percebendo que atuar aqui não é tão fácil. A Amazon, por sinal, ainda nem é um marketplace multimarcas."
Guasti cita um estudo da e-bit que mostra o aumento das transações online no Brasil em sites internacionais, sobretudo os chineses, que vêm ganhando cada vez mais espaço e disputam mercado com produtos nacionais. O AliExpress, por exemplo, um dos dez sites do grupo Alibaba, é o mais conhecido e o terceiro mais utilizado no Brasil, atrás apenas do eBay e da Amazon.com, segundo o estudo Cross Border da e-bit.
Mas esse crescimento dos sites chineses, segundo ele, se deve aos preços atraentes, a possibilidade de frete grátis e aos menores impostos. Embora observe que o comércio eletrônico brasileiro é bastante atraente (deve movimentar neste ano cerca de R$ 35 bilhões, de acordo com projeção e-bit), o mercado nacional ainda não se compara com o da Europa, EUA, nem tampouco com o mercado chinês. Por isso, o Brasil talvez ainda não esteja entre as prioridades do Alibaba.
Muito Bom